"Luciana", 2005 (Miguel Aun/Divulgação)
Nasceu em 1966 em Belo Horizonte, Brasil.
Vive e trabalha em Belo Horizonte.
Visto do alto, o Ibirapuera é uma grande mancha verde no mapa de São Paulo. Visto de dentro, é um bosque, com quadras de esportes, museus e uma infinidade de outros elementos que Mabe Bethônico não conhecia.
A artista mineira e professora de artes na Universidade Federal de Minas Gerais resolveu investigar as entranhas do parque, os pontos que parecem perdidos dentro da mancha verde. Descobriu que, visto de perto, o tal ponto pode ser um viveiro ou uma sociedade amadora de astronomia. "O Ibirapuera tem vida própria e tem um tempo próprio, e a gente passa ao largo disso", conta Mabe.
Dentro do parque, o espaço por excelência de Mabe é o Pavilhão da Bienal. O prédio é emblemático e carrega em si uma série de significados que foram os responsáveis por atar a artista àquele endereço em São Paulo. Ela já participou da última edição do evento e a instituição também foi seu objeto de reflexão, estudando na época o arquivo Wanda Svevo, que guarda toda a história da Bienal. Desta vez, resolveu ampliar o seu foco e olhar para fora, investigando o papel da entidade no parque e ver qual o espaço ela ocupa dentro da sociedade e vice-versa.
"Eu acho importante fazer uma pausa", diz Mabe, sobre a "Bienal do Vazio", apelido dado à edição deste ano. O evento vive "uma cilada entre a feira de arte e milhares de outras bienais", diz a artista. Mabe resolveu ir para a "pesquisa de campo, para o espaço aberto". Mabe é graduada em filosofia, com mestrado e doutorado em artes visuais no Royal College of Arts, de Londres, onde viveu sete anos.
Sua arte é intimamente ligada à pesquisa e à universidade. Portanto a artista desenvolve seus projetos descolada do circuito comercial. "É muita demanda de tempo para a investigação, muita pesquisa", explica. A maior parte de sua produção encontra-se disponível no projeto Museu Museu, cujo objetivo é ser uma espécie de galeria virtual.
Na última Bienal, a reflexão de Mabe ganhou o formato do "Jornal Museu nº 1". Nesta edição, a artista distribui ao público o "Jornal Museu nº 3". "A intenção não é contar uma história linear. São imagens de arquivo, fotos de campo, registro históricos em diferentes tempos", explica. Sua obra seria uma arte quase jornalística? "É mais ou menos...", se diverte a artista, cuja obra visível é justamente uma narrativa sobre a dinâmica própria da Bienal e do Ibirapuera.
Na sua pesquisa, Mabe descobriu esferas diferentes no parque: um museu de folclore, outro sobre a aeronáutica, o viveiro Manequinho Lopez e a Sociedade Amadora de Astronomia. "Eu fiquei admirada porque todos eles guardam conhecimentos muitos específicos; são um mundo em si", conta.
O "Jornal Museu nº 2" foi apresentado por Mabe em um encontro em Medellín, na Colômbia, no ano passado. A artista já se apresentou em várias galerias brasileiras, como o Paço das Artes, em São Paulo, espaço dedicado à experimentação. Expôs ainda no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte, no Santander Cultural, em Porto Alegre, e no Malba, em Buenos Aires.
"Em Ordem" (2006)
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