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Jakob Senneby/Divulgação

"Looking for Headless", 2007 (Jakob Senneby/Divulgação)

Goldin+Senneby

Dupla formada em 2004 em Estocolmo, Suécia.
Vive e trabalha em Estocolmo

Uma plataforma petrolífera abandonada perto do litoral da Inglaterra ganhou independência, declarada unilateralmente. O amontoado de ferro erguido no meio do mar já não está sob os auspícios de Sua Majestade britânica. Trata-se do Principado de Sealand. O novo país não ganhou respaldo da ONU tampouco estabeleceu contatos diplomáticos com nenhuma nação. Mesmo assim, o "país" fez um anúncio na revista "Flack Attack", publicada pela comunidade virtual The Port, criada no site de relacionamento Second Life.

A revista é idéia da dupla Goldin+Senneby, formada em 2004 pelos artistas suecos Simon Goldin e Jakob Senneby. A arte dos dois não se materializa em suportes tradicionais, como a pintura ou a fotografia, nem mesmo em performance. Sua linguagem é mais narrativa (quase científica) e aborda temas como as novas relações sociais nos dias de hoje.

O projeto "Flack Attack" foi escrito a muitas mãos (mãos virtuais, diga-se), já que o ensaio foi todo pensado por avatares do Second Life. A revista mistura sociologia e filosofia (e uma grande dose de lirismo, por que não?) ao falar sobre os conceitos de autonomia. Cita autores como Gilles Deleuze e Michel Foucault. Há também tentativa de estabelecer parâmetros nessa nova dimensão: um dos vários tópicos da revista de cem páginas (online e impressa) é sobre as "leis do mundo digital autônomo".

A primeira lei diz: "Todo texto é uma máquina preguiçosa à espera que alguém o faça funcionar e produzir significados. Isso quer dizer que nenhum mundo digital pode ser totalmente autônomo em relação aos seus leitores-agentes. É discutível se o mundo real é ele mesmo autônomo em relação aos seus leitores-agentes (uma árvore que cai numa floresta inabitada produz algum tipo de som?). Isso mostra que os agentes nunca podem demonstrar autonomia em relação ao mundo. No entanto leitores-agentes nunca são totalmente autônomos em relação ao mundo digital que exploram: os leitores são forçados pela substância da expressão e pelo risco de total desconstrução do conteúdo; já os agentes, pela dependência inerente da ação em relação ao contexto onde isso acontece".

Portanto a arte de Goldin+Senneby é quase nunca algo acabado, está sempre em movimento, aberta à intervenção. Isso acontece até mesmo com os próprios artistas, já que cada qual tinha sua própria trajetória antes de se unirem, há quatro anos. Desde então, desenvolveram um trabalho de fôlego (em termos de volume, ainda que em pouca quantidade), apresentando-se em várias galerias da Suécia, Noruega, Espanha, Itália, Estados Unidos, Inglaterra e no Brasil, onde mostraram no início de 2008 o projeto "Looks Conceptual", na galeria Vermelho, em São Paulo.

Goldin+Senneby são do tipo de artistas que se misturam com sua criação, que se tornando maior e mais importante que os próprios (daí este texto abordar mais a obra que os artistas em si).

Uma obra menos volumosa, mas não menos interessante, é "After Microsoft" (2006-2007). A dupla fotografou a mesma colina que aparece como principal papel de parede do Windows, aquela verdinha, levemente sinuosa com céu azul e nuvens. A foto mostra os mesmos contornos, mas uma coloração acre, com videiras ressecadas no lugar da grama verde. Trata-se do mesmo lugar, mas em outros tempos. A foto que ornamenta computadores em todo o mundo foi tirada por Charles O’Rear, executivo da Microsoft, enquanto passava por uma estrada no interior da Califórnia.

Na 28ª Bienal de São Paulo, Goldin+Senneby apresentam "Looking for Headless", obra literária ainda inacabada, que está sendo escrita pela fictícia Sra. K.D. (em colaboração com o escritor John Barlow, este sim de carne e osso). Ela conta a história de dois artistas suecos, Simon Goldin e Jakob Senneby, que investigam uma companhia de offshore nas Bahamas.

O livro é um romance policial, com tramóias e assassinatos, que desvenda o submundo do mercado financeiro, um espaço de cifras e valores que podem levar países à bancarrota e pessoas à miséria pela simples migração de números, dados, ativos, ações de uma bolsa para outra, de um sistema a outro, um mundo virtual onde tais somas não necessariamente correspondem à realidade (poderia Bill Gattes sacar em dinheiro vivo toda a fortuna que lhe é atribuída?). O tema é oportuno num momento em que o mundo vive uma crise econômica iniciada na oferta de crédito virtual a pessoas reais, caso do mercado de crédito imobiliário americano.

Divulgação

"After Microsoft" (2006-2007)

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"Objects of Virtual Desire" (2005)

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