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Airplanes and Angels, 2008 (Divulgação)

Mircea Cantor

Nasceu em 1977, em Bucareste, Romênia.
Vive e trabalha em Paris.

Nos círculos das artes de Paris, o romeno Mircea Cantor é conhecido como o "poeta político". Sua obra comporta vários adjetivos como ácido ou crítico, mas não pesado, embora seus temas tenham em si algo bastante profundo. "Hoje em dia, se fala de política através de coisas poéticas. Eu busco o inverso: falar de poesia através da política", disse Cantor, numa entrevista à "Beaux Arts Magazine".

Talvez uma das obras que mais reflita a autodefinição de Cantor é a videoperformance "The Landscape Is Changing". O artista reuniu, numa cidade fictícia, um grupo de manifestantes, que, em vez de portar placas e faixas de protesto, todos seguravam espelhos. É a poesia vinda da política.

O artista cresceu sob a última década da ditadura comunista na Romênia e se tornou artista na transição democrática nos anos 90. Cantor estudou na Escola de Belas Artes de Bucareste, mas seu aprendizado se deu em outras esferas, segundo ele: "Eu estudei na rua. Havia muitos artistas sob o regime comunista, muita experimentação".

Em 1999, Cantor se mudou para a França, onde vai fazer sua pós-graduação na Escola de Belas Artes de Nantes. No ano seguinte, expõs em Nova York, na Klemens Gasser & Tanja Grunert Gallery. Em 2001, participa da Bienal de Veneza, no pavilhão da Romênia.

O que se tornou a 28ª Bienal de São Paulo esbarra numa das questões levantadas por Cantor –-o vazio, a abstinência. O artista critica a poluição de imagens gerada na arte. Por isso em várias ocasiões, não permite a publicação de "press releases" de suas mostras antes da inauguração. "É uma falsa idéia de entender uma coisa pela sua descrição, o que é uma forma de destruição", explicou em uma entrevista à revista "Flash Art".

O vazio da explicação, a tal abstinência de signos sobre um outro signo, a arte em si, é uma "forma de resposta pessoal a uma realidade saturada por imagens", diz Cantor, que acrescenta: "por isso eu decidi parar de fotografar, porque não quero validar e multiplicar mais essa realidade visual".

Um de seus trabalhos mais conhecidos, o vídeo "Departure", explora justamente a subversão do senso comum trazido pela imagem. Numa sala, dois lobos evocam o medo e a sensação de perigo e que algo ruim está prestes a acontecer. Nada acontece. É a abstinência da violência, a quebra da expectativa, a antimensagem.

Cantor não se sente muito à vontade no papel de artista ativista. Mas é clara sua tendência panfletária. Ele é um dos editores da revista "Version", que traz ensaios de artistas, críticos e intelectuais sobre temas diversos como as cores, os signos do infinito e nossa condição perante um mundo de guerras.

O artista romeno é contestador, evita seguir as tendências e modas ditadas pelo circuito. É um crítico da política de imigração da Europa e não acredita em conceitos como globalização, que seria uma forma de travestir conceitos multinacionais. Diz que prefere falar de algo "universal, que é o contrário do global".

Em 2006, Cantor rasgou a primeira página do verspertino francês "Le Monde" e acrescentou duas letras "s" ao título do jornal. A obra tornou-se "Les Mondes" (os mundos), numa alusão à multiplicidade de visões em detrimento de uma ótica única, que costuma ditar como as coisas devem ser vistas. O trabalhou valeu uma crítica de página inteira do jornal concorrente e de inclinação esquerdista, "Libération", que elogiou o artista.

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