1985

A curadora Sheila Leirner protagonizou uma polêmica com algumas representações nacionais ao radicalizar em sua opção de montagem na 18ª Bienal. Em três corredores de 100 metros de extensão por 6 metros de largura e 5 metros de altura, Leirner enfileirou dezenas de quadros, com uma distância de apenas 30 centímetros entre cada um, a compor o que chamou de a "Grande Tela".

Com forte impacto visual gerado pelo conjunto de quadros enfileirados, a montagem da curadora buscava fazer um comentário crítico à profusão de pinturas neo-expressionistas que aportaram na Bienal de 1985. À época, o neo-expressionismo alemão e a transvanguarda italiana influenciavam grande parte da produção mundial.

A atitude da curadora surtiu efeito e a montagem recebeu duras críticas de algumas representações nacionais. Uma das principais críticas era a de que o visitante não podia contemplar um quadro sem sofrer a intervenção visual do quadro ao lado. Outra queixa provinha do fato de que os trabalhos de artistas consagrados apareciam misturados aos de artistas jovens e "imaturos".

Os representantes argentinos e alemães fizeram forte pressão para que se retirassem as obras de seus países da "Grande Tela". Firme, a curadora não cedeu e manteve a montagem na forma como havia proposto.

O checo Jiri Dokoupil destacou-se entre a profusão neo-expressionista da "Grande Tela" com um trabalho que se apropriava de marcas famosas, como Pepsi e Rolex, e as reescrevia em telas enormes, com traços violentos e fora do contexto publicitário. Outro destaque foi o alemão Helmut Middendorf, que utilizava diferentes suportes materiais em seus 9 quadros.

Entre os brasileiros, a "Grande Tela" apresentou um grupo de jovens artistas em que figuravam o carioca Daniel Senise e os paulistas do grupo "Casa 7": Paulo Monteiro, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez e Rodrigo Andrade.

A linguagem expressionista não ficou restrita ao polêmico corredor da "Grande Tela" e tornou-se o tom geral da 18ª Bienal. O "Grupo Cobra" (Copenhague, Bruxelas, Amsterdã) apresentou as obras de 32 artistas que traziam a força dramática do período posterior à segunda guerra mundial.

A exposição "Expressionismo no Brasil: Heranças e Afinidades" apresentou uma didática sala especial que mostrava trabalhos dos expressionistas de Iberê Camargo, Lasar Segall, Flávio Shiró, Antônio Bandeira e Yolanda Mohalyi aos neo-expressionistas Wesley Duke Lee, José Roberto Aguilar e Jorge Guinle Filho.

A dupla Ulay e Marina Abramovic apresentou a performance "Nightsea Crossing", trabalho que eles definiam como "arte vital". Na performance, cada um dos artistas sentou-se à cabeceira de uma grande mesa e eles passavam sete horas seguidas olhando-se fixamente.

Mesmo com as atenções voltadas à "Grande Tela" e ao expressionismo, a Bienal de 1985 apresentou trabalhos significativos em outras modalidades. A vídeo-arte, relativamente assimilada pelo público em comparação a bienais anteriores, ganhou um amplo panorama da produção na América Latina, França, Estados Unidos, Grã Bretanha e Alemanha.

As instalações dos norte-americanos Edward Mayer, Ellen Lampert, do alemão Albert Hien, e dos franceses Christian Boltanski e Daniel Buren mostraram na Bienal a riqueza de produção desta linguagem.

Entre os brasileiros destacaram-se Guto Lacaz com uma instalação que trazia objetos em movimento (arte cinética), e Alex Vallauri, que mostrou a divertida instalação "A Casa da Rainha do Frango Assado". Vallauri montou uma casa com sala, cozinha e banheiro em que objetos reais misturavam-se às imagens de outros objetos grafitados nas paredes. A casa era ocupada pela atriz Cláudia Raia no papel "A Rainha do Frango Assado".

Um destaque a parte foi a programação musical sob a curadoria de Maria Kieffer. A programação partiu da produção de compositores do início do século 20 e teve seu ponto alto na presença de John Cage, ex-integrante do grupo Fluxus e que se tornou referência na arte contemporânea.

Autor do cartaz

- Cláudia Stamacchia

Fontes

- Arquivos Folha de S. Paulo
- "As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987", de Leonor Amarante
- "Bienal 50 anos", organizado por Agnaldo Farias
- Site oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Fundação Bienal de São Paulo.

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