06/12/2008 - 14h04
Manifestação de artistas contra curadores e presidência da Bienal tem baixa adesão
JOSÉ BUENO DE SOUZA
Da Redação

PROTESTO
Roberto Setton/UOL
Grupo de artistas se reuniu na manhã deste sábado, dia 6, na Bienal em manifestação contra a presidência da instituição e a curadoria da 28ª edição da mostra
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PICHADORA ESTÁ PRESA
ARTISTAS CRITICAM A BIENAL DO VAZIO
CURADORA FAZ DESTAQUES DA EXPOSIÇÃO
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Dois caixões de papelão e uma faixa que diz "Viva a liberdade de expressão, abaixo ao vazio intelectual" foram levados à Bienal de São Paulo por um grupo de pouco menos de vinte artistas na manhã deste sábado em manifestação organizada por Antonio Peticov para expressar insatisfação com a 28ª edição da exposição.

O enterro simbólico da presidência da Bienal e da curadoria foi promovido por Peticov e sua mulher Cíntia Oliveira como uma reação à notícia de que Caroline Piveta da Mota, 23, que participou da pichação no segundo andar da Bienal em 26 de outubro ainda está presa. Apoiados por um pequeno número de artistas que se reuniram na entrada do pavilhão da Bienal por volta das 9h30 deste sábado, o grupo levou uma faixa e dois caixões identificados como "presidência" e "curadoria". "É um absurdo a maneira como esse espaço público foi usurpado pela presidência da Bienal. Me sinto ofendido, não por não estar expondo aqui, pois já participei de outras bienais. Sinto-me ofendido por que não vejo o trabalho dos meus pares, não há nada aí", disse Antonio Peticov enquanto arregimentava outros artistas diante do prédio. "O problema não é o andar vazio, é o vazio intelectual. É uma falta de respeito com o público", completou.

"Todas as instituições ligadas à arte estão sendo perdidas. Os artistas não têm onde expor, é preciso pagar para mostrar seus trabalhos nas galerias. Não há um espaço coletivo para o debate sobre a arte, isso que é o mais grave", opinou o artista Carlos Dias que soube da proposta da manifestação por e-mail divulgado por Peticov. "Acho importante que se faça uma discussão sobre o modelo da Bienal, mas não se pode sacrificar o movimento artístico desta forma", defendeu o artista Walter Miranda que também participou do manifesto.

O papel dos curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen na organização do evento também foi questionado pelos participantes. "Tentamos entrar em contato com os curadores, mas eles alegaram estar com as agendas cheias", disse Cíntia. "Tenho a impressão que não se pode questionar as decisões dos curadores", disse o arquiteto Mendel Kahan. "A arte não é representada pelo vazio, acho uma afronta esse espaço e me sinto desanimada com isso", lamentou a artista Ana Maria Lisboa Mortari.

Procurada pela reportagem do UOL, a curadora Ana Paula Cohen preferiu não comentar a manifestação do grupo. "Eles têm o direito de se expressar. Estávamos sabendo que essa mobilização estava sendo feita, recebemos o e-mail com a convocação, mas no final parece que vieram apenas umas vinte pessoas. Não tenho nada a dizer a respeito", disse a curadora que negou ter sido procurada pelos organizadores do protesto.

Por volta das 10h30, pouco depois que a Bienal abriu as portas para seu último dia de exposição, o grupo tentou levar o ato para dentro do prédio, mas foi inicialmente barrado pela segurança do evento. Os manifestantes só foram autorizados depois que Peticov fez contato telefônico com a organização da Bienal, que finalmente liberou a entrada do grupo no andar térreo.

O enterro simbólico proposto pela manifestação terminou com um rápido discurso de Peticov, chamando a atenção para o abandono das instituições e da falta conteúdo da Bienal. "Foi uma movimentação pequena, mas acho que fica plantada uma semente para as pessoas que passarão por aqui hoje. É preciso chamar a atenção para essas questões", disse Thomaz Gomide.

A manifestação causou pouco interesse no pequeno público que chegava à abertura do dia de exposições e foi observada de longe pelos visitantes que passavam pelo térreo. "Toda manifestação é muito válida, mas eu pessoalmente achei muito interessante o andar vazio e o pequeno número de obras. É a terceira vez que visito esta Bienal e acho que desta maneira temos mais tempo para observar as obras", opinou o estudante de projetos mecânicos Nelson Silvério, de 22 anos. "Não concordo com essa manifestação, penso que a proposta da curadoria de discutir o modelo de bienal é muito válida", questionou Luiz Falcão, estudante de artes visuais de 21 anos.

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