A 26 ªBienal Internacional de São Paulo teve entrada gratuita, pela primeira vez na história do evento. A novidade permitiu que a exposição batesse o recorde de público, com 917 mil visitantes.
O curador Alfons Hug manteve a opção de não expor os "núcleos históricos", em continuidade ao seu projeto na 25ª edição. Hug propôs o tema "Território Livre" como forma de diminuir o lugar das estratégias discursivas da ciência e da política e retomar a estética como centro discursivo, um "retorno ao espaço da arte", segundo o curador.
Em entrevista à Folha, Hug explicou que escolheu o tema porque "Território Livre reforça a idéia da liberdade que a arte é capaz de criar, da autonomia. É importante frisar que a arte cria um espaço livre, fora do domínio da política e da economia. É uma área extraterritorial, na qual os artistas erigem os seus postos de observação, pode-se até dizer, utópicos".
Em "Território Livre", a 26ª Bienal teve 135 artistas, sendo 55 escolhidos pelas "Representações Nacionais" e 80 convidados pela curadoria da mostra, dos quais 20 eram brasileiros. O curador criou também oito salas especiais para acomodar artistas com repercussão no cenário internacional da arte contemporânea.
As salas foram ocupadas pelo pintor belga Luc Tuymans, considerado pela crítica um dos pintores mais importantes a partir dos anos 1980; o fotógrafo alemão Thomas Struth; o chileno Eugenio Dittborn; e os chineses Huang Yong Ping e Cai Guo Qiang. Três brasileiros compuseram a mostra com as salas de Beatriz Milhazes, Paulo Bruscky e Artur Barrio.
Em uma edição com forte presença da pintura, Hug mostrou quatro telas de Beatriz Milhazes, uma das expoentes da "Geração 80". A sala foi composta por quadros de grandes proporções, coloridos e com desenhos abstratos que remetiam a flores e círculos.
A sala de Arthur Barrio, português radicado no Brasil desde os anos 1950, apresentou uma instalação com uma jangada que o artista trouxe de fortaleza.
Paulo Bruscky, um dos maiores destaques da 26ª Bienal, trouxe de Recife o seu ateliê inteiro e o transformou em uma instalação. Brusky montou seu ateliê-instalação com livros, documentos, correspondências, mesas, ferramentas, malas e diversos outros instrumentos de trabalho como um cavalete de pintura "abandonado" na sala.
A mostra também teve como destaques o fotógrafo alemão Thomas Demand, que trouxe fotografias de maquetes ampliadas para grandes dimensões; o cubano Carlos Garaicoa, com uma instigante instalação que debatia a arquitetura; as pinturas de Julie Mehretu, da Etiópia; e as fotografias da norte-americana Catherine Opie, que mostravam momentos de tranqüilidade na espera de surfistas por grandes ondas.
Com quase um milhão de visitantes, o "Território Livre" proposto pelo curador Alfons Hug sofreu críticas de curadores e intelectuais. O professor Teixeira Coelho Neto, que foi diretor do Museu de Arte Moderna (MAM), afirmou em artigo publicado na Folha que o projeto de Hug "não saiu do papel". Como exemplo, Coelho Neto citou a sala de Bruscky, em que "objetos, livros, imagens ´estranhamente deslocados´ deveriam conter o segredo da arte de seu dono e da arte atual. Mantido à distância, porém, o visitante, que passa rápido por algo que com ele nada compartilha, é convocado a crer na palavra do curador".
O curador francês Olivier Michelon criticou a concentração das salas de vídeos como em "Multiplex". "A área dedicada ao vídeo é problemática, pois ela foi organizada segundo a lógica da televisão e o visitante será induzido a fazer um 'zapping' dos trabalhos". A crítica do francês também mirou a concentração das obras por suporte. "Toda a história da arte, no século 20, caminhou contra a separação por categorias. É uma pena haver essa restauração, e ela representa uma simplificação na montagem", disse Michelon.
"Se é território livre, por que dividir em categorias?", questionou a curadora brasileira Lisete Lagnado. Para ela, a separação das obras por material utilizado foi uma solução "problemática". "Criou-se uma 'Grande Tela' do precário [no térreo da exposição]. O fato de se dispor trabalhos usados com o mesmo material gera uma homogeneização que diminui a dignidade de cada obra. Há uma seção de barcos, de Artur Barrio, Fabiano Marques e Simon Starling, que achata os três artistas no mesmo plano, quando sabemos que as questões internas desses trabalhos são muito diferentes", disse Lagnado ao visitar a exposição a convite da Folha.
- Ziraldo
- Arquivos Folha de S. Paulo
- "As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987", de Leonor Amarante
- "Bienal 50 anos", organizado por Agnaldo Farias
- Site oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Fundação Bienal de São Paulo.
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