Pela segunda vez sob a presidência de Edemar Cid Ferreira e a curadoria de Nelson Aguilar, a 23ª Bienal de São Paulo foi um desdobramento da edição anterior. Firme em seu propósito de "profissionalizar" a mostra, Cid Ferreira manteve a fórmula do "quanto maior melhor", com altos custos, nomes consagrados e muitas ações de mídia para atrair público. Uma estratégia adotada pelo presidente da Fundação Bienal foi a convocação de um time de nove publicitários famosos para captar os US$ 12 milhões que custou a edição de 1996.
Paralela à "Bienal-Empresa" de Edemar, o curador Nelson Aguilar problematizou o tema da "Desmaterialização da Arte" e dividiu a exposição em três partes (Representações Nacionais, Universalis e Salas Especiais). O tema procurava avançar o conceito "Ruptura de Suportes" trabalhado na Bienal anterior.
As "Salas Especiais", mais uma vez, foram o maior trunfo da exposição. Como descrito no livro "Bienal 50 Anos", ornaizado por Agnaldo Farias, que foi o curador adjunto de Nelson Aguilar na 23ª Bienal, "o conjunto histórico só ficava mesmo atrás daquele da 2ª Bienal, com a diferença de que naquela altura "Guernica", que hoje sequer pode sair do Museu Reina Sofia, de Madri, subiu a serra de Santos a caminho de São Paulo dentro de um caminhão aberto e protegido apenas por uma lona". No núcleo histórico, foram apresentados trabalhos de 18 artistas como Pablo Picasso, Paul Klee, Edward Munch, Goya, Andy Wrahol, Pedro Figari, Jean Michel Basquiat, Wifredo Lam, e Gega.
Aguilar procurou amarrar os conceitos que norteavam a Bienal com três dos principais artistas históricos. Em Goya (1746-1828), foi evocada a desmaterialização da imagem naturalista. Em Munch (1863-1944), a imaterialidade dos temas do desespero e da angústia. Em Picasso (1881-1973), atribui-se a desmaterialização ao desmonte da imagem naturalista pelo cubismo.
Também destaque na edição, a artista norte-americana Louise Bourgeois atingia a desmaterialização através da recusa da tela. Na 23ª Bienal estava presente a "Aranha", uma escultura que não tem base e o espectador pode passear sob ela.
Para as "Representações Nacionais", 75 países foram convidados a enviar obras de apenas um artista cada. Na mostra Universalis, foram escolhidos sete curadores para indicar seis artistas de cada uma das macro regiões África e Oceania, América Latina, Ásia, Canadá e Estados Unidos, Europa Ocidental e Europa Oriental, mais o Brasil que teve as obras escolhidas por Aguilar e seu curador ajunto, Agnaldo Farias.
Os brasileiros presentes na mostra Universalis foram o amazonense Roberto Evangelista, o mineiro Eder Santos, os cariocas Artur Barrio e Nelson Felix, e as paulistas Geórgia Kiriakakis e Flávia Ribeiro.
A maior crítica à edição de 1996 veio de Aracy Amaral. No artigo "Grandiloqüência e Marketing", publicado na Folha de S. Paulo, ela escreveu: "O lema das Bienais agora é ''o maior é melhor'' ou ''think big'', embora se diga que não há dinheiro na praça, que o mercado de arte está parado (?), e que não há público para artes visuais _ a cada dia mais restritas aos iniciados. Esta é a contradição com que novamente nos deparamos: esta Bienal, em particular, foi evento para uma pequena elite, mobilizando com força impressionante os ''mass media''. Como explicar o porte de promoções envolvendo socialites/empresários? O meio intelectual e cultural ficou de longe. Até se prescindiu dele, como de algo incômodo, pois poderia levantar questões que importunassem o desejado ar de festa. A resposta talvez seja a entrada maciça da iniciativa privada a demandar ''retorno'', palavra-chave para investidores".
- Louise Bourgeois
- Anish Kapoor
- Cy Twombly
- Elizabet Peyton
- Jean-Michel Basquiat
- Louise Bourgeois
- Mestre Didi
- Paul Klee
- Tomie Ohtake
- Wilfredo Lam
- Wim Wenders
- Arquivos Folha de S. Paulo
- "As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987", de Leonor Amarante
- "Bienal 50 anos", organizado por Agnaldo Farias
- Site oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Fundação Bienal de São Paulo.
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