1994

A 22ª Bienal, em 1994, foi conduzida pelo banqueiro Edemar Cid Ferreira, eleito presidente da Fundação Bienal dois anos antes. O estilo Edemar ficou explícito antes mesmo da abertura da exposição. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 26 julho de 1994, suas frases indicavam as pretensões: "a Bienal será uma ONU", "quantos mais países, melhor", "pela primeira vez, a Bienal está sendo tratada como empresa", "essa 22ª Bienal será um exemplo de que é possível fazer bons eventos culturais no Brasil".

Sob a curadoria do professor Nelson Aguilar, a edição de 1994 foi realizada com o eixo conceitual "Ruptura de Suportes". Aguilar estruturou a exposição principalmente sobre um vigoroso "espaço museológico" e uma expressiva mostra de instalações.

As salas históricas ocuparam o terceiro andar com obras de Kasimir Malevitch (Ucrânia/Rússia), Diego Rivera (México), Joaquín Torres García (Uruguai), Rufino Tamayo (México), Lucio Fontana (Argentina/Itália), Tal Coat (França), Piet Mondrian (Holanda) e Joan Mitchell (EUA).

Pela primeira vez exposta fora da Europa, a mostra de Malevitch, com 30 obras importantes de todas as suas fases, foi a maior atração da 22ª Bienal. Para expor os trabalhos do fundador do suprematismo, a organização do evento teve de enfrentar longas negociações com o Museu de São Petersburgo e do Museu Stedelijk, de Amsterdã. E o resultado agradou o público brasileiro, que pôde ver as obras de Malevitch, somente 33 anos após Mário Pedrosa tentar trazê-las para a 6ª Bienal.

A "Ruptura de Suportes" proposta por Nelson Aguilar lastreou a composição da parcela contemporânea da mostra. As instalações, ou "a arte que saiu do quadro", foram o outro grande destaque de 1994. A sala especial dedicada a Hélio Oiticica instigava o visitante a participar. Na instalação Rijanviera, formada de placas por onde escorria água sem parar, as pessoas podiam tirar os sapatos e caminhar sobre a "corredeira".

"Favor tocar. Please touch". O recado escrito em frente aos "Bichos", obra de Lygia Clark, caracterizava a relação entre o observador e a obra de arte que a brasileira propunha desde a 1960. Lygia chegou a dizer que queria que os seus "Bichos" fossem vendidos em camelôs.

A artista, que integrou o movimento Neoconcreto, em uma fala de 1968, evidenciou o caráter de "ruptura" presente em sua obra. "Meu trabalho só tem pensamento. No fundo, o objeto não é mais importante. O pensamento, o sentido que se empresta ao objeto, ao ato, é o que interessa".

Em Entrevista à Folha de S. Paulo, o então curador do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), Robert Storr, se disse impressionado com o trabalho dos brasileiros na Bienal. "Uma das coisas que os norte-americanos desconhecem é como as tradições da arte conceitual são fortes na América Latina. Esses são dois dos artistas mais fortes dessa área, além de outros que poderiam ter sido integrados à exposição. Se você tivesse um corte conceitual, ela poderia ser ainda mais impressionante".

Autor do cartaz

- Fernando Bakos

Fontes

- Arquivos Folha de S. Paulo
- "As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987", de Leonor Amarante
- "Bienal 50 anos", organizado por Agnaldo Farias
- Site oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Fundação Bienal de São Paulo.

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