1987

Pela segunda vez consecutiva com a curadoria de Sheila Leirner, a 19ª Bienal Internacional de São Paulo ficou marcada como a "Bienal do Kiefer", em referencia à excepcional mostra do artista alemão Anselm Kiefer. Com o tema "Utopia versus Realidade", Leirner procurou proporcionar a maior diversidade de posicionamentos estéticos possível. O resultado foi uma exposição de peso e variada, que agradou público e crítica.

O público impressionava-se ao ver no terceiro andar do pavilhão a "Paleta de Asas", uma enorme escultura cinza. A obra de Kiefer apresentava a paleta, instrumento de trabalho dos pintores, com imensas asas abertas insinuando um vôo. Ao contrário da leveza sugerida pela obra, o visitante se surpreendia ao se aproximar e constatar que o trabalho era feito de uma pesada estrutura de chumbo.

Além da "Paleta de Asas", o alemão apresentou diversas esculturas e telas de temas igualmente impactantes, como Mesopotâmia, uma série de quatro telas que faziam uma reinterpretação contemporânea dos rios Tigre e Eufrates. Bastante valorizado no mercado internacional, Kiefer teve uma sala especial que, somadas as obras e os seguros, praticamente custearia uma outra bienal.

Depois de anos de espera por parte de críticos e artistas locais, e de diversas tentativas de curadorias anteriores, a Bienal finalmente apresentou uma sala de Marcel Duchamp, um dos mais influentes artistas da produção contemporânea. A sala de Duchamp mostrou 75 peças do artista entre gravuras, desenhos e os seus conhecidos "ready-mades". Destes, vieram "Roda de Bicicleta", "Porta-Garrafas" e "A Fonte", o urinol apresentado por Duchamp em Nova York sob o pseudônimo de R. Mutt.

A obra revolucionária e extremamente irônica de Duchamp agradou o público brasileiro, que pôde ver também a irreverente Monalisa com bigodes e cavanhaques pintada pelo artista em 1919, assinada com o pseudônimo de Rose Sélavy.

Na mostra "Imaginários Singulares", os curadores Ivo Mesquita e Sonia Salztein-Goldberg apresentaram obras de artistas brasileiros aparentemente inconciliáveis entre si, mas que sugeriam uma via de expressão paralela ao construtivo e o expressionista, os dois grandes eixos da arte contemporânea brasileira. Sob o mesmo "guarda-chuva conceitual" proposto pelos curadores estava Tarsila do Amaral, Maria Martins, Alberto Veiga Guinard, Ismael Nery, Flavio de Carvalho, Oswaldo Goeldi, Wesley Duke Lee, Tunga e Waltércio Caldas.

Outro "espaço metafórico", como a "Grande Tela" da 18ª Bienal, a "Grande Coleção" distribuía-se pelos três andares do pavilhão de forma vertical. Em seu centro, uma obra gigantesca de Tunga "caía" do alto até o térreo pelo vão central.

Centrada em artistas brasileiros que privilegiavam a estética do reducionismo, a sala "Em Busca da Essência", sob curadoria de Gabriela Suzana Wilder, mostrou trabalhos sóbrios, que valorizam os detalhes, com superfícies planas e cores marcadas. Compuseram a sala obras de Franz Weissmann, Amílcar de Castro, Décio Vieira, Willys de Castro, Eduardo Sued e Sérvulo Esmeraldo.

1987 também foi o ano em que a Bienal recebeu a mostra "Minimalismo Musical", organizada pelos compositores Michael Fahres e Kodiak Bachine, inspirados na exposição "European Minimal Music Project".

Com algumas referências históricas, mas com o predomínio de artistas que surgiam nos cenários nacional e internacional, a 19ª Bienal foi uma das mais contemporâneas.

Autor do cartaz

- José Maria Lopez Prieto

Fontes

- Arquivos Folha de S. Paulo
- "As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987", de Leonor Amarante
- "Bienal 50 anos", organizado por Agnaldo Farias
- Site oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Fundação Bienal de São Paulo.

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