Michaela Coel brilha em 'I May Destroy You': Minha terapeuta está orgulhosa
Os primeiros episódios de "I May Destroy You" não seguem um ritmo estável. E essa sua inconstância é muito adequada: a nova série da HBO, que estreia hoje, às 23h, acompanha a luta íntima de uma mulher para lembrar o que aconteceu com ela (e, então, processar toda a situação) em uma noite confusa num bar.
Entre flashes de memória, Arabella Essiuedu (Michaela Coel) vê a imagem de um homem desconhecido sobre ela em um banheiro. Uma lembrança que, a cada vez que surge em sua consciência, traz para ela (e para quem está assistindo) um sentimento angustiante de violação.
Dois anos atrás, Coel revelou que havia sofrido uma agressão sexual enquanto fazia sua premiada série "Chewing Gum" (2015). A traumática experiência do passado é agora externada neste seu novo trabalho de forma preciosa. "Foi catártico escrever sobre isso. Eu estava em uma montanha-russa de emoções", diz ela em uma entrevista do qual o UOL participou.
É gratificante poder escrever uma história do passado e reviver aquele sofrimento, mas perceber que estou aqui, no presente, e ainda assim ser capaz de sentir aquela dor. Isso significa que eu a sobrevivi. É linda essa sensação de poder sentir uma dor, sabendo que ela se foi.
A atriz britânica de 32 anos diz que escrever sobre o que passou foi terapêutico, mas que não substituiu seu tratamento. "Não acho que o processo de fazer a série poderia ter sido trocado pela terapia. Terapia é muito útil. E eu acho que [depois de tudo] minha terapeuta está muito orgulhosa de mim", ela ri, demonstrando uma característica bem presente na série: apesar do tema doloroso e triste, é cercada de momentos improvavelmente engraçados.
Tão perto, tão longe
Na série, Arabella é uma jovem escritora que fez barulho com seu primeiro livro. Enquanto se vê pressionada por novos agentes e fãs ansiosos pelo próximo trabalho, ela sofre com bloqueio criativo e tenta encontrar inspiração espairecendo em festas e encontros com os amigos. Bem parecido com aquele mundo que conhecíamos pré-pandemia.
"Eu me pergunto se algumas pessoas vão assistir essas cenas e sentir falta. Sinto falta de quando a gente interagia, de tocar e sentir o suor um do outro, de conhecer estranhos", ela diz, enquanto conversamos à distância pela tela do computador.
"Mas eu me pergunto também se as pessoas vão querer conduzir a vida um pouco diferente depois disso tudo. Não sei se essa série vai soar como uma forma de nostalgia, porque não sei quanto tempo ainda vamos ficar sem poder se misturar com as pessoas."
Por uma noite de sono
A busca para descobrir o que aconteceu naquela noite faz as emoções de Arabella oscilarem de forma desconexa, revelando os sentimentos inquietos de alguém ferido com um trauma. Algo que vai além da personagem: seus amigos Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu) também passam por situações problemáticas. E ao entrelaçar essas histórias, "I May Destroy You" abraça a agressão sexual em outros contextos, mostrando como essas experiências podem transformar a relação de uma pessoa com outros indivíduos e com ela mesma.
Minha esperança é que, se alguém estiver sofrendo algo horrível e se deparar com essa série, possa ver que não está sozinho. Estou falando com essas pessoas que foram enganadas, que tiveram o consentimento roubado. Fomos explorados e manipulados. Estou tentando encorajá-los a encontrar maneiras de dormir à noite, porque às vezes a dor e a raiva podem impedi-los de dormir.
Uma artista brilhante
"I May Destroy You" terá 12 episódios, cada um com cerca de 30 minutos e vai ao ar toda segunda-feira às 23h. A série marca a volta de Coel em cena depois de "Black Earth Rising", produção da BBC em que ela faz uma investigadora e sobrevivente do genocídio de Ruanda. Antes disso, a atriz protagonizou o musical da Netflix "Been So Long", fez participações em "Black Mirror" (nos episódios "USS Callister" e "Nosedive"), e a série que a colocou nos holofotes: "Chewing Gum", sua própria criação.
Michaela Coel é uma artista que vem se revelando cada vez mais brilhante, tanto em suas atuações intensas e expressivas quanto em sua escrita, especialmente sobre mulheres que desafiam estereótipos. Um talento que a faz ser admirada e querida por gente dos mais variados estilos, como RuPaul —que a convidou para ser jurada em "Drag Race"— e o diretor Rian Johnson, que a colocou em uma pequena ponta em "Star Wars: Os Últimos Jedi". Alguém que definitivamente merece ficar de olho.
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