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Indicações ao Oscar provam que interpretar Coringa é sinônimo de sucesso

Joaquin Phoenix como Coringa. Filme concorre a 11 prêmios no Oscar - Divulgação
Joaquin Phoenix como Coringa. Filme concorre a 11 prêmios no Oscar Imagem: Divulgação

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

16/01/2020 04h00

O filme Coringa, de Todd Phillips, pode até não sair vitorioso na disputa pelo Oscar mas, liderando a disputa com 11 indicações, o longa estrelado por Joaquin Phoenix consagra o personagem como um fenômeno das adaptações, demonstrando como ele conseguiu ultrapassar a barreira dos quadrinhos, normalmente ignorados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela premiação.

Isso porque o personagem, criado por Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson, não deveria nem ter durado: originalmente, o Coringa morreria na sua segunda aparição nas HQs, até um editor intervir e resolver mantê-lo. O resultado? Ele se transformou em uma das figuras mais icônicas do mundo geek, centro de inúmeras de histórias famosas, se consagrando como um dos vilões mais reconhecíveis do mundo.

Ao longo de sua jornada, o personagem ganhou muitos contornos, do cômico ao pastelão, do psicótico ao maquiavélico, isso sem falar nas variações e mistérios envolvendo sua história de origem. Justamente por isso, o Coringa conseguiu uma série de interpretações diferentes, seja no cinema, na TV ou nos games, mostrando diferentes facetas que o mantiveram interessante ao longo dos anos, promovendo desde simples entretenimento a reflexões mais profundas.

O personagem se tornou tão poderoso que começou a circular uma lenda urbana de que ele e sua insanidade carregavam uma maldição. Segundo a crença popular, o Coringa chegaria a enlouquecer seus intérpretes, reforçada depois que atores falaram sobre experiências estranhas que tiveram durante as gravações. Mas o fato é que o Coringa também trouxe novas perspectivas e marcas permanentes nas carreiras desses atores.

Uma das primeiras versões do personagem para as telas já foi marcante, mesmo que absolutamente diferente do que é associado a ele hoje. Cesar Romero (1907-1994) encarnou uma versão galhofeira do Coringa no seriado televisivo Batman, nos anos 1960, na talvez mais emblemática performance de sua carreira.

Até hoje, a imagem do ator, que se recusou a cortar o bigode para o papel —muito antes do Superman de Henry Cavill causar polêmica—, com um sorriso largo e os olhos esbugalhados sob a maquiagem, é uma das mais reconhecidas por fãs do personagem.

Jack Nicholson como Coringa no filme de Tim Burton em 1989 e o personagem na série animada, onde era dublado por Mark Hamill - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Jack Nicholson como Coringa no filme de Tim Burton em 1989 e o personagem na série animada, onde era dublado por Mark Hamill
Imagem: Divulgação/Montagem UOL

Mas foi no cinema que o Coringa se consolidou de vez na cultura pop. Em 1989, estreou Batman, dirigido por Tim Burton, com ninguém menos que Jack Nicholson no papel do vilão. Nicholson, por ser o ator que é, compôs um Coringa bem mais soturno do que o que já havia sido visto, em uma performance que marcou sua carreira.

O sucesso foi tanto que houve quem dissesse que o Coringa era mais importante e interessante do que o Batman defendido por Michael Keaton. "O Coringa de Nicholson é mesmo o personagem mais importante no filme —em impacto e tempo de tela— e os personagens de Keaton, Batman e Bruce Wayne, são tão monossilábicos e impenetráveis que temos que nos lembrar de torcer para eles", argumentou o renomado crítico Roger Ebert.

Estimulada pelo êxito do filme, a Warner Brothers decidiu produzir Batman: A Série Animada (1992-1994). Mais uma vez, o sucesso foi garantido, quando Mark Hamill, conhecido pela saga Star Wars, mostrou sua versatilidade como dublador e deu vida ao Coringa da vez. Com um estilo único, o ator introduziu uma nova energia ao papel e se firmou como uma das interpretações mais famosas do vilão.

Hamill entrou tanto no espírito do Coringa que se tornou um dos intérpretes mais adorados pelos fãs —tanto que interpretou o personagem mais vezes até que Luke Skywalker: ele voltou a reviver o papel na aclamada série de videogames Batman: Arkham, mais uma vez ganhando reconhecimento.

Heath Ledger em cena de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) - Divulgação - Divulgação
Heath Ledger em cena de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
Imagem: Divulgação

E o que dizer de Heath Ledger (1979-2008) que, em O Cavaleiro das Trevas (2008), trouxe para o cinema uma nova e aclamada versão do personagem. Com um tom sádico e ao mesmo tempo contido, o ator deu vida a um Coringa dos mais assustadores e psicopatas. Por sua interpretação, Ledger ganhou um Oscar póstumo de ator coadjuvante (ele morreu de overdose meses antes do lançamento do filme), se tornando o primeiro ator na História a ganhar a estatueta dourada por sua interpretação num filme de super-herói.

A exceção que confirma a regra é Jared Leto. Convocado para assumir o personagem em Esquadrão Suicida, de 2016, o ator, vencedor do Oscar por Clube de Compras Dallas (2013), até teve sua performance como o vilão elogiada, a despeito das críticas negativas que o longa de David Ayer recebeu. Leto até chegou a anunciar que estaria envolvido em um filme solo do Coringa, para compensar o pouco tempo de tela que teve no longa da liga de vilões, mas o projeto foi engavetado e ele acabou afastado de uma possível continuação de Esquadrão Suicida.

Agora, Joaquin Phoenix tem a chance de ser o segundo a levar uma estatueta na categoria, justamente pelo personagem, com sua elogiada e bem-sucedida versão do Coringa. Desde a estreia do longa de Todd Phillips, em Veneza, ele já catalisava as atenções. E, se tem algo que o ator prova, acima de tudo, é que ter o Coringa no currículo, não é nada mal.