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Rennan da Penha grava DVD, relembra prisão e pede noiva em casamento

Matias Maxx

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

15/01/2020 07h55

"A sociedade quis me botar como bandido e hoje eu tô gerando 1.500 empregos". Foi com esta frase que o DJ Rennan da Penha iniciou o show de gravação do DVD Segue o Baile, nesta madrugada (15), no Espaço Hall, na zona oeste do Rio de Janeiro, ao som dos versos "ô ô solta putaria nessa porra", cantados pelo público que lotou a casa.

Apesar de não citar diretamente, a afirmação do músico era uma contestação à condenação do DJ a seis anos e oito meses de prisão em regime fechado por associação ao tráfico. Ele chegou a ficar preso por sete meses no ano passado, mas foi solto após ser beneficiado por uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que seguiu o novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) contra prisão depois de condenação em segunda instância.

Além da frase, a gravação lembrou o caso com a montagem de manchetes remetendo à prisão do funkeiro e recordando os nove mortos após uma intervenção policial em um baile em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, em dezembro do ano passado. Os áudios e palavras se embaralham até a palavra "favela" dominar a tela e caixas. Na sequência entram fragmentos de vídeos mostrando pipas, futebol, pessoas, cortes de cabelo "na régua" e vários outros elementos coloridos e alegres da vida na favela, junto de depoimentos de "crias" das comunidades.

Rennan emerge, solta um beat de funk 150 BPM e começa a trocar ideia com a plateia. Bailarinas tomam a cena e fica claro que não seria como outras gravações de DVD convencionais, marcadas por repetições e intervalos silenciosos para troca de cenário e figurinos. A estrela da noite permaneceu no palco o show todo, soltando vários hits, beats e demonstrando sua vocação de mestre de cerimônias, tal como fez por vários sábados seguidos por horas a fio no saudoso Baile da Gaiola.

A primeira participação especial da noite foi do MC Livinho que apareceu no meio de uma das duas passarelas anexas ao palco tocando a intro de Hoje Eu Vou Parar na Gaiola no piano. Só a intro, mas logo o beat explode e ele se levanta e faz uma volta olímpica pelas passarelas mostrando seu lado dançarino. Em seguida executa pela primeira vez, Depressão, sua nova parceira com Rennan composta logo após o DJ deixar a prisão e que tem sample da banda californiana Cake.

Em entrevista exclusiva ao UOL, Livinho explana a parceria: "Essa palavra, a depressão é um bagulho doido, que só quem tem sabe, e na letra eu quis relacionar como ela é uma passagem da vida e não uma parede ou um final. Também falo de bipolaridade".

Parceiro do DJ em Hoje Eu Vou Parar na Gaiola, vencedora do Prêmio Multishow 2019, o MC conta que não foi à cerimônia em respeito a Rennan, que estava preso na época. "A música foi uma parceria, mas quem merecia estar lá era a galera dele, a mulher dele. Não fazia sentido eu estar e ele não. Hoje somos uma força juntos".

Após as apresentações dos convidados, Rennan elogiou cada um dos artistas e grupos que fizeram parte do DVD. "Bonito e gostosão" foi o elogio a Kekel, a quem deu a deixa para puxar seu hit Namorar Pra que acapella.

DVD Rennan da Penha - Matias Maxx/Colaboração para o UOL - Matias Maxx/Colaboração para o UOL
Gravação de Rennan da Penha contou com participação de outros músicos
Imagem: Matias Maxx/Colaboração para o UOL

Mesmo esbanjando profissionalismo e técnica em suas apresentações, era nesses intervalos que Rennan parecia se divertir mais, assumindo o microfone com várias chamadas e brincadeiras que quem já o viu tocar ontem conhece. "Cadê o grito da mulher solteira? Que não depende de homem para porra nenhuma? Que não quer ver o ex de jeito nenhum?" e "Abraça sua amiga mais piranha que está do seu lado" foram apenas das algumas das frases disparadas.

"Nesses momentos livres eu posso tocar o que gosto", disse, antes de entoar Eu Tou Voando Alto, hit do MC Poze adotado pela torcida do Flamengo. Teve até espaço para uma música inédita feita com o MC Poze, que não participou do DVD por ter show na mesma data.

Após sumir rapidamente para uma troca de figurino, Rennan traz pela mão a mãe e a noiva ao palco. "Quero agradecer a essas duas mulheres, se não fosse por elas, eu estaria perdido, achando que boc*** a metro é vida", brincou. Em seguida, ele se ajoelha e pede a mão de Lorena em casamento.

Rennan foi além do funk que o consagrou. Além de MCs como Rebecca, TH e Pocah, o show teve passeios por outros beats periféricos como um som com o grupo Parangolé marcando um encontro do pagodão baiano com um tamborzão acelerado. Na sequência, emendou brega-funk. "Quem gosta de brega funk levanta a mão! É, papai, tem que se atualizar, senão fica para trás que nem vários aí", provocou.

A diversidade foi uma constante no show, que ainda teve um bloco de funks "das antigas" (obviamente com espaço pro Rap da Felicidade, aquele do "eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci"). Teve também proibidão e saudações para os bailes da Nova Holanda, Cidade de Deus, Colômbia e Jacaré, além do Baile da Gaiola.

Após a execução de todos os hits (apenas a parceria de Luísa Sonza, com 3030, teve de ser repetida), Rennan chamou Livinho mais uma vez ao palco e rolou a première do clipe de Depressão gravado no Jardim Peri, zona norte de São Paulo. Na sequência, voltou ao púlpito para "embrazar mais algumas" horas de baile funk, sem massagem e com muita bunda arrastada no chão.

Do sucesso à prisão

Rennan começou 2019 voando alto com hits como Hoje Eu Vou Parar na Gaiola e Me Solta Porra!.

Porém, em abril, Rennan foi preso em razão de sua condenação em segunda instância por associação ao tráfico no Rio de Janeiro, sob pena de seis anos e oito meses de prisão em regime fechado.

Ele foi acusado de ter a função de "olheiro", relatando "a movimentação dos policiais através de redes sociais e contatos no aplicativo WhatsApp".

No processo, Rennan ainda é apontado por outra testemunha como o "DJ dos bandidos" e que organiza bailes funks nas comunidades do Comando Vermelho para atrair mais pessoas e aumentar as vendas. O DJ nega as acusações.

Em outubro, Rennan da Penha venceu o Prêmio Multishow de Canção do Ano por Hoje Eu Vou Parar na Gaiola. Na ocasião, a namorada e o empresário do artista subiram ao palco para receber o troféu e pediram liberdade ao DJ, entre gritos de apoio da plateia. Ele também foi indicado ao Grammy Latino.

No mês seguinte, o funkeiro deixou a penitenciária Alfredo Tranjan, conhecida como Bangu 2, beneficiado por uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que seguiu o novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) contra prisão após condenação em segunda instância.

Após uma semana de férias num cruzeiro, onde se apresentou no mesmo palco que Anitta, anunciou a assinatura de contrato com a Sony e a gravação do DVD Segue o Baile, gravado ontem. O DJ ainda foi convidado para produzir a parceria de Ludmilla com a americana Cardi B. A defesa do músico recorreu ao STJ contra a sentença que o levou à cadeia por sete meses.