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Bruna Mascarenhas faz série na pandemia: 'Transformei decepção em estímulo'

Bruna Mascarenhas na websérie "NeuRose" - Divulgação
Bruna Mascarenhas na websérie "NeuRose" Imagem: Divulgação

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

28/05/2020 12h00

Se não estivéssemos vivendo uma pandemia, Bruna Mascarenhas estaria agora rodando a segunda temporada de "Sintonia". A atriz, que teve na série de KondZilla seu primeiro grande papel, estava pronta para reencontrar MC Jottapê e Christian Malheiros e reviver o trio Doni, Nando e Rita. Mas veio o coronavírus. E com ele uma pausa no mundo do entretenimento como estávamos acostumados.

Mas se o isolamento social traz problemas logísticos, a internet traz soluções. Bruna, que também precisou abrir mão de fazer um filme, resolveu usar o tempo que ganhou em casa para tirar do papel uma ideia que já tinha há tempos. Usar seu Instagram para explorar mais do seu talento. Nascia aí a websérie "NeuRose", que estreou na semana passada e ganha hoje mais um episódio, às 21h.

Fiquei super decepcionada e consegui transformar isso em um estimulo. Era mais um indício de que eu não podia ficar esperando teste bater na minha porta.

Quase sem querer, a websérie se ajustou ao novo momento do mundo. Parte da equipe não se conhece pessoalmente, apenas por encontros virtuais semanais e a troca de ideias diárias em grupos de WhatsApp. O roteiro também contou com a ajuda de sugestões trazidas pelos quase 1 milhão de seguidores da atriz. E o formato, curtinho, tem tudo a ver com o tipo de conteúdo que está ajudando a aliviar a ansiedade geral do público.

Como surgiu a ideia de fazer a "NeuRose"?

Queria usar minha plataforma que tem quase 1 milhão de seguidores para explorar a minha arte. Já tinha roteirista, diretor e quando a gente se juntou, veio a quarentena.

Eu tinha a ideia de uma personagem e o roteirista, o Wagner, criou junto comigo. E foi ele que trouxe a ideia de neuroses. A partir daí achamos o nome da personagem, Rose, e a série virou a "NeuRose".

Espero que seja um suspiro de alegria para as pessoas. Que as pessoas se identifiquem com as loucuras, mas possam rir com isso também. Para que a quarentena fique um pouco mais leve, pois já está muito dolorido.

Como você conseguiu adaptar esse conteúdo para a quarentena?

Eu já tinha pensando nela como uma menina neurótica e cheia de manias, acabou que casou muito com esse momento de ansiedade que a gente está vivendo. No primeiro mês da quarentena no meu Instagram toda semana eu falava sobre um tema. Tive muito feedback da galera. Então fui entrando no universo da Rose já pesquisando com a audiência. No início os meus seguidores fizeram muita parte do debate, foi um momento de muita troca.

Como é fazer uma série à distância?

O diretor e o assistente ligam pra mim. Aí a gente esmiúça o texto que o roteirista já tinha me enviado. Aí rola outra ligação para poder ver planos. Aí o Lipe (namorado e câmera) entra. Ele vai mostrando o ambiente e o diretor vai orientando. Também temos uma reunião toda segunda-feira que todo mundo dá opinião. Todos dão palpite e cada um encabeça o seu próprio trabalho.

Você transformou seu namorado em câmera man. Ele já tinha experiência no audiovisual?

Pois é, meu namorado é músico e está trabalhando como câmera. Mas eu também fiz um clipe com ele e até cantei. Um ajuda o outro. Nessa quarentena estou descobrindo coisas novas. Eu compus uma música com o Lipe. Nunca achei que eu fosse ser capaz de compor uma música.

Quantos episódios teremos de "NeuRose"?

A gente pretende fazer pelo menos dez episódios. Mas vamos sentir. Temos uma vontade enorme de gravar juntos. É muito louco isso. O Gabriel, que é meu diretor, falo com ele todos os dias, mas a gente nunca se viu. O Wagner, que é o roteirista, só tinha visto ele uma vez, quando a gente se conheceu. A galera toda da edição, a maioria das pessoas da equipe eu não conheço pessoalmente. A arte uniu a gente, mas ainda não tivemos a chance de nos conhecer ao vivo. Queremos fazer uma segunda temporada depois que tudo isso passar.

Por que vocês optaram por episódios mais curtos?

O primeiro episódio era para ser só um chamada. Mas gostamos tanto que definimos que seria já o primeiro. Ele diz muito sobre a Rose. Mas ainda pretendemos trazer questões sociais para dentro dos pensamentos dela. E senti que as pessoas já estão se identificando muito com ela.

Hoje em dia tem tanta coisa na internet que quem assiste às vezes ficam sem paciência de ver até um vídeo de 5 minutos. O primeiro episódio é bem curtinho, mas tem muita informação para ser processada. Pensamos justamente nisso. Gerar informação, mas de uma forma rápida.

Como você avalia o papel do artista nessa pandemia?

Agora mais do que nunca precisamos falar sobre o que está acontecendo no nosso país. É triste. O João Pedro, o menino de 14 anos que foi assassinado, eu chorei quando vi aquilo. Já tem tanta morte, tanta dor por causa do coronavírus, e aí mais isso. A Amazônia sendo devastada. Tanta coisa acontecendo no meio de uma pandemia, que já é tão difícil, a gente tenta trazer um pouco de alegria.

Agora mais do que nunca as pessoas estão vendo como é importante série, filmes, livros, o papel da arte nesse momento. E é importante se posicionar. Não dá mais pra ficar em cima do muro.

No Instagram, no Twitter, as pessoas não querem só saber que trabalho a gente está fazendo. Eles querem saber também sua opinião sobre as coisas. Temos esse papel de influência também.

E a segunda temporada de "Sintonia", quando vem?

Bate uma saudade. Mas não tem previsão nenhuma porque está tudo muito instável. Era para a gente estar gravando e eu adoraria que a gente estivesse. Mas não rolou. Agora é esperar, ter paciência.

A gente grava no Jaguaré [favela em São Paulo] e lá foi super afetado. Fiz até uma campanha para arrecadar comida e doações. É uma comunidade que foi muito impactada e é um cuidado que temos que ter com a galera que mora lá. Para entrar logo depois da pandemia. Tem muita gente, técnicos, produção. E tem tudo que ser pensado com muita calma.

Está tão aguardada essa segunda temporada de 'Sintonia' que, quando rolar, espero que o Brasil inteiro assista.