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Elvis se encontrou com Nixon? O que é real no filme que está no UOL Play

Michael Shannon e Kevin Spacey, que encarnaram Elvis e Nixon no cinema - Divugação/Arte UOL
Michael Shannon e Kevin Spacey, que encarnaram Elvis e Nixon no cinema Imagem: Divugação/Arte UOL

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

10/05/2020 04h00

Após retornar à música no fim dos anos 1960, Elvis Presley nutriu uma estranha obsessão: o rei do rock queria virar agente federal infiltrado e auxiliar o Departamento de Narcóticos do governo Richard Nixon no combate ao uso de drogas e a depravação "sem limites" da recrudescente juventude hippie, que vinha ganhando holofotes na mídia e na esfera pública.

Parece mentira, mas não é. O episódio acima não só realmente aconteceu como virou filme: "Elvis & Nixon" (2016), um dos destaques do catálogo do UOL Play. Estrelada por Michael Shannon e Kevin Spacey, a comédia resgata o pitoresco dia em que o cantor foi à Casa Branca para conversar com o presidente americano sobre um assunto sério —aparentemente.

A história foi dirigida por Liza Johnson ("Amores Inversos") e contou com consultoria de Jerry Schilling, melhor amigo de Elvis, misturando passagens bizarramente reais a cenas completamente inventadas, criadas deliberadamente pelos roteiristas. Ficou curioso? Nós fomos além e colocamos uma lupa sobre algumas passagens do filme, em mais um capítulo da série do UOL "Real vs. Ficção".

Elvis realmente pediu uma reunião com o presidente?

Sim. Aconteceu no dia 21 de dezembro de 1970. Elvis, aos 35 anos, negociou para conseguir o distintivo de agente federal e, assim, combater o consumo de drogas no país, uma das prioridades do governo Nixon. Ele seria, ao mesmo tempo, uma espécie de "fiscal" à paisana e garoto-propaganda. Essa história também foi contada no filme "Elvis Meets Nixon", de 1997.

Richard Nixon e Elvis Presley na Casa Branca em 1970 - MPI/Getty Images - MPI/Getty Images
Richard Nixon e Elvis Presley na Casa Branca em 1970
Imagem: MPI/Getty Images

Elvis era realmente contra as drogas?

Era. Ele se sentia excluído da onda de contracultura que inundou a segunda metade dos anos 1960, especialmente em relação ao uso de substâncias como o LSD para expansão da consciência, a qual ele se opunha. Ironicamente, drogas (legais) acabaram se transformando no grande fardo do músico, que na última década de vida terminaria viciado em remédios prescritos, incluindo anfetaminas, soníferos e antidepressivos.

Elvis escreveu uma carta a Nixon para conseguir encontrá-lo?

Sim. Elvis voou de Los Angeles a Washington por conta própria e, usando o papel timbrado da companhia American Airlines, escreveu uma carta endereçada ao presidente falando sobre o declínio moral da América e de "flagelos" como o grupo Panteras Negras, os hippies e o movimento estudantil (mais tarde, ainda incluiria os Beatles na lista de más influências).

Ele foi mesmo até a porta da Casa Branca para entregá-la ao presidente?

Parece mentira, mas não é. Um dos maiores mitos da história da música realmente foi ao portão noroeste da Casa Branca, apresentou-se e entregou ao guardas o envelope. Em seguida, retornou ao hotel em que havia hospedado para aguardar a resposta, que veio horas depois.

Elvis era tão conservador como o filme sugere?

Não exatamente. Apesar do passado de libertino, o cantor era religioso e conservador, mas até certo ponto. Ele também tinha tendências progressistas. Apoiava, por exemplo, do movimento pelos direitos civis. "Ele era grande fã de Martin Luther King e ficou arrasado com o assassinato em Memphis. Sabia o discurso 'Eu Tenho um Sonho' de cor", revela Jerry Schilling, que é interpretado pelo ator Alex Pettyfer no filme, em entrevista à revista "People".

Lutar contras as drogas era o único objetivo da visita?

Não. O filme evita se debruçar sobre o assunto, mas, segundo Schilling, havia outra motivação. Àquela altura, Elvis já havia sido presenteado com diversos distintivos por xerifes nos americanos, que lhe concediam direito de portar armas e, em alguns casos, obter medicamente mais facilmente. Mas ele queria mais. "Elvis tinha sofrido ameaças de morte muito sérias. Queria o distintivo para poder levar armas escondidas ao exterior", explica Jerry Schilling.

Vídeo gravado na mansão de Elvis Presley revela segredo inusitado do ídolo - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Elvis entrou com uma arma escondida na Casa Branca?

No filme, o personagem conversa com um funcionário do Serviço Secreto e, para provar que é realmente apto para o trabalho confidencial, exibe um revólver na parte interna do paletó. De acordo com Jerry Schilling, apesar de o amigo de fato ter o hábito de andar com diversas armas, a cena foi um "exagero", colocada para maximizar o efeito cômico da situação.

Elvis mostrou suas habilidades em caratê para Nixon?

Não. De novo querendo demonstrar aptidão, o rei do rock faz uma rápida sessão de caratê com o amigo no Salão Oval da presidência, diante de um mortificado Nixon. Elvis Presley realmente admirava artes marciais e já fez algo parecido para um prefeito de Memphis, mas não há registro de que tenha acontecido no encontro com Richard Nixon.

Elvis disputou um jogo de tapas com o presidente dos EUA?

Elvis era de fato brincalhão, mas não se divertiu dessa forma com o mandatário mais poderoso do planeta, com intuito de testar sua reação. Ele costumava fazer isso em casa, em família. No encontro privado, brincadeiras e comentários espirituosos provavelmente aconteceram, mas não há confirmação de que tenham sido desse jeito.

Ele conseguiu o sonhado distintivo federal?

Sim. E com muita insistência. Antes de se encontrar com o presidente para discutir o assunto, Elvis já havia procurado, sem sucesso, o diretor do departamento de Narcóticos, John Finlator. A abertura dada pelo gabinete de Nixon, que amava música e queria se aproximar dos eleitores jovens, foi mantida em sigilo pela Casa Branca durante anos, sendo revelada apenas após a morte de Elvis, em 1977.

O distintivo de agente federal que pertenceu a Elvis Presley - Luke MacGregor/Reuters - Luke MacGregor/Reuters
O distintivo de agente federal que pertenceu a Elvis Presley
Imagem: Luke MacGregor/Reuters