'Sergio': O que é real e o que é ficção no filme da Netflix?
"Sergio" chegou à Netflix com a missão de levar ao público a história, ainda pouco conhecida, do diplomata Sérgio Vieira de Mello. Representado no filme por Wagner Moura, Vieira de Mello ocupava o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos quando morreu, aos 55 anos, em um atentado à sede das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque.
O filme é dirigido por Greg Baker, que em 2009 já havia lançado um documentário —também chamado "Sergio", e também disponível na Netflix— sobre a vida do brasileiro. Talvez por isso ele seja, em geral, bem fiel aos fatos históricos, ainda que tome algumas liberdades.
Abaixo, investigamos algumas das passagens retratadas no filme, incluindo o atentado que vitimou Vieira de Mello e seu romance com Carolina Larriera, retratada por Ana de Armas.
O relacionamento com Carolina começou no Timor Leste? Sergio era casado na época?
Para responder às perguntas, é preciso ir por partes. Sim, Vieira de Mello e Larriera (interpretada pela cubana Ana de Armas) se conheceram durante a missão no Timor Leste, onde uma equipe da ONU acompanhou a transição do país rumo à independência entre 1999 e 2002. Ela, uma economista argentina, também trabalhava na instituição.
À época, o diplomata já estava separado de sua ex-mulher, Annie, mãe de seus dois filhos, mas o processo de divórcio entre eles só seria concluído em 2003. Ele e Larriera, então com 55 e 30 anos, estavam de casamento marcado para o fim daquele ano.
Em entrevista à revista "Cláudia", em 2017, a economista recordou o início do relacionamento:
Ele estava sozinho havia mais de uma década, com separação de corpos firmada em um tribunal francês. No Timor, nos aproximamos. Trabalhávamos muito, mas saíamos para correr. Descobrimos a coincidência de ideais e outras coisas em comum. Argentinos e brasileiros se parecem. Além disso, ele era um homem íntegro, gentil, amoroso
Foi só em 2017, aliás, que Larriera teve sua união civil com Vieira de Mello reconhecida pela Justiça brasileira, após uma batalha de 14 anos em que foi apoiada por Gilda, mãe do diplomata. Na época da morte dele, a economista chegou a ser impedida de se despedir dele formalmente, visto que a ONU considerou Annie, a ex-mulher, como a companheira para eventos oficiais.
Sérgio realmente passou horas sob os escombros após o atentado em Bagdá?
Sim. Assim como no filme, Vieira de Mello ficou preso sob os escombros da explosão. William Van Zehle, oficial do corpo de Bombeiros, e Andre Valentine, paramédico de Nova York, tentaram socorrê-lo, porém não tinham os equipamentos adequados, conforme relatou Samantha Power, autora da biografia "O Homem que Queria Salvar o Mundo".
Dadas as limitações do local, a equipe se concentrou em, primeiro, resgatar Gil Loescher (interpretado no longa de ficção por Brían F. O'Byrne), que estava ao lado de Vieira de Mello. O diplomata brasileiro não resistiu e morreu após quase quatro horas.
Gil Loescher teve as pernas amputadas para o resgate?
Ao lado de Vieira de Mello, Gil Loescher, teve de ter as pernas amputadas para ser retirado dos escombros. A operação foi feita de forma precária, com uma serra de carpinteiro, visto que, mais uma vez, não havia equipamentos adequados disponíveis. Loescher, porém, foi retirado com sucesso do local e sobreviveu.
Vieira de Mello estudou com líder do Khmer Vermelho?
Não é bem assim. O diplomata se encontrou com lideranças do grupo, que promoveu um regime genocida no Camboja, para negociar a repatriação de mais de 300 mil refugiados. Mas ele e Ieng Sary, retratado na tela, não foram colegas na Sorbonne. Sary de fato estudou na instituição francesa, mas nos anos 1950, bem antes de Vieira de Mello.
E ele levou uma bronca de Xanana Gusmão no Timor Leste?
Em uma das passagens do filme, Gusmão, que depois se tornaria presidente do país, dá uma bronca no diplomata e mostra resistência a trabalhar com ele. Se a representação é totalmente correta, não sabemos, mas Gusmão já admitiu em entrevista à BBC que no início teve desconfianças em relação ao trabalho de Vieira de Mello —mas notou que elas foram dissipadas no primeiro encontro entre os dois.
Chegou o Sérgio. Ele se apresentou e o encontro foi interessantíssimo. E eu somente lhe disse assim: Sergio, bem-vindo! Eu espero que a missão da ONU em Timor não seja igual àquilo que nós ouvimos que aconteceu no Camboja, na Bósnia, e em Kosovo'. Ele riu e disse: Xanana, eu estive no Camboja, eu reconheço erros das Nações Unidas, mas não foram totalmente nossos. Eu venho com um sentido muito realista do problema e vocês, os timorenses, serão sempre os nossos parceiros neste processo
Vieira de Mello era mesmo diplomata?
É uma dúvida comum, já que ele nunca serviu como representante do Brasil no exterior. No entanto, Vieira de Mello pode ser chamado de diplomata por causa da natureza de seu trabalho na ONU. Ele era cotado para ser sucessor de Kofi Annan como secretário-geral da instituição.
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