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A Vida Invisível bate Bacurau e é escolhido pra representar Brasil no Oscar 2020

Trailer de A Vida Invisível, representante brasileiro no Oscar 2020

UOL Entretenimento

Leonardo Rodrigues e Caio Coletti

Do UOL, em São Paulo

27/08/2019 12h25

O filme A Vida Invisível, do diretor Karim Aïnouz, foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o país na corrida pelo Oscar 2020 da categoria melhor filme internacional, que anteriormente era chamada de melhor filme estrangeiro. O anúncio foi feito hoje na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, em encontro com jornalistas.

Segundo Anna Mulayert, diretora da comissão da Academia, a escolha foi acirrada e se deu por diferença mínima de votos. A Vida Invisível foi a escolha de cinco votantes, enquanto Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, foi o segundo colocado com quatro. Muylaert revelou que um grupo de votantes desejava passar uma mensagem política mais forte, escolhendo Bacurau, enquanto outros priorizavam a viabilidade do escolhido para o Oscar.

A cineasta, que já teve um filme escolhido para representar o Brasil no Oscar com Que Horas Ela Volta?, fez campanha para a escolha de Bacurau, mas foi voto vencido na comissão. Os cinco membros que preferiram A Vida Invisível citaram preocupações como o levantamento de verba para o lançamento e divulgação de Bacurau em Hollywood.

Segundo ela, outros fatores que influenciaram na escolha foram a influência do diretor cearense Karim Aïnouz (de Praia do Futuro) no mercado internacional, e a força da presença de Fernanda Montenegro, indicada a melhor atriz em 1999 por Central do Brasil, no elenco.

"Estamos felizes com a qualidade dos filmes inscritos, com três filmes que estiveram em Cannes. Houve uma discussão de alto nível. Não houve unanimidade, embora todos tenham gostado do filme escolhido", comentou Muylaert.

A Vida Invisível

O longa de Aïnouz foi exibido no Festival de Cannes 2019, onde venceu o prêmio principal da mostra Un Certain Regard, conquista inédita para o Brasil. O título original, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, foi encurtado para lançamento comercial. A estreia está marcada para 19 de setembro no Nordeste, e 31 de outubro no restante do Brasil.

A Vida Invisível traz no traz no elenco Carol Duarte, Julia Stockler, Gregorio Duvivier, Bárbara Santos, Flavia Gusmão e Fernanda Montenegro. Na trama, as irmãs Guida e Eurídice são como duas faces da mesma moeda -- apaixonadas, cúmplices, inseparáveis. Eurídice, a mais nova, é uma pianista prodígio, enquanto Guida, romântica e cheia de vida, sonha em se casar com um príncipe encantado e ter uma família.

Um dia, com 18 anos, Guida foge de casa com o namorado. Ao retornar grávida, seis meses depois e sozinha, o pai, um português conservador, a expulsa de casa de maneira cruel. Guida e Eurídice são separadas e passam suas vidas tentando se reencontrar, como se somente juntas fossem capazes de seguir em frente.

Bacurau repete frustração para Kleber Mendonça Filho

A escolha do Brasil por A Vida Invisível frustra as expectativas da equipe de Bacurau. O diretor Kleber Mendonça Filho também ficou fora da corrida do Oscar três anos atrás, com seu filme anterior, Aquarius.

Na época, o escolhido foi o longa Pequeno Segredo, de David Schürmann, o que levantou suspeitas sobre um possível boicote político na decisão, já que, no Festival de Cannes, a comitiva de Aquarius havia protestado no tapete vermelho contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, classificado como "golpe".

Este ano, atores, diretores e produtores de Bacurau, uma alegoria sobre dominação, violência e resistência, também adotaram postura crítica em relação ao presidente Jair Bolsonaro, e ao que chamam de censura promovida pelo governo federal à Ancine e ao setor audiovisual.

Brasil no Oscar

Várias produções brasileiras já foram indicadas ao Oscar mas, na categoria de melhor filme internacional, apenas quatro entraram na disputa: O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que é Isso Companheiro?" (1998) e Central do Brasil (1999). No ano passado, O Grande Circo Místico, dirigido por Cacá Diegues, foi o escolhido pelo Brasil, mas não conseguiu ser indicado.

A história do Brasil no Oscar começou em 1945, quando a música "Rio de Janeiro", de Ary Barroso, foi indicada na categoria de melhor canção original pelo filme americano Brazil. Coproduções brasileiras, como Orfeu Negro (1960), Beijo da Mulher-Aranha (1986), Diários de Motocicleta (2005) e Me Chame Pelo Seu Nome (2018), já venceram o Oscar em diversas categorias.

A escolha não significa que o filme brasileiro concorrerá ao Oscar. Neste momento, vários países escolhem entre suas produções um título que será enviado aos organizadores do prêmio. Uma pré-lista de indicados na categoria de melhor filme internacional será divulgada no fim no ano pela Academia. A lista final de indicações sai no dia 13 de janeiro. A próxima edição do Oscar acontece no dia 9 de fevereiro de 2020, em Los Angeles.