Velório de João Gilberto é realizado no Rio de Janeiro
O velório do cantor e compositor João Gilberto começou hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, pontualmente às 9h. O músico, reconhecido como o pai da Bossa Nova, morreu ontem, aos 88 anos de idade.
Claudia Faissol, ex-mulher e a filha mais nova do compositor, Luíza, de 15 anos, já estão presentes na cerimônia, que tem previsão de durar até as 14h. A atriz Glória Pires também chegou cedo ao local. Bebel Gilberto chegou ao Theatro Municipal pouco antes do meio-dia, mas não conversou com a imprensa.
Uma das coroas de flores enviadas para o velório tinha uma mensagem assinada por Rita Lee: "Homenagem ao mestre dos mestres".
A causa da morte do músico ainda não foi divulgada, mas sabe-se que ele enfrentava problemas de saúde há alguns anos.
Fãs e amigos se despedem
A cantora Hanna esteve presente na cerimônia e falou sobre João Gilberto."Gravei dois CDs em homenagem a ele, O amor é Bossa Nova, volumes um e dois. Fui à casa dele na última semana. O segundo ele me autorizou duas músicas dele, Obalala e Bim Bom. Por isso estive com ele toda semana, ele estava disposto e feliz com a homenagem. Ele queria fazer o trabalho comigo pra mostrar a todo mundo que estava bem. Cantamos juntos, ele pedia para eu não ir embora", disse a cantora. Ela foi apresentada a ele pelo filho, João Marcello. "Ele conheceu meu show desse trabalho e disse que queria que o pai me conhecesse. Fui e ele ficou encantado. Na última semana nos vimos todos os dias".
Fã do músico, Italiano Ferreira, aposentado de 78 anos, mostrou autógrafo que conseguiu do músico em um show no Municipal. "Ele entrou pela porta de trás e eu parei na frente dele com uma folha em branco e ele assinou. É coisa rara, ele e Roberto Carlos são difíceis. Vim no último show dele no Municipal e hoje em sua despedida".
Adriana Calcanhoto ficou cerca de uma hora no Municipal. "Ele nos ensinou tanto sobre rigor e respeito pelo nosso talento. Tão cuidadoso, talentoso e nos deixou Bebel. É só agradecer o João por tudo que ele nos deixa. Tem muitos artistas da música e também não de música que são influenciados por João até sem saber que são", afirmou.
O samba da bossa nova que ele criou não é senão o samba, como ele dizia, o gênero mais autêntico do Brasil. Não venha dizer que bossa nova é jazz, é isso e aquilo. É a criação de João Gilberto pela voz e violão Ricardo Cravo Albin, escritor e musicólogo
Paulo Jobim, filho de Tom Jobim, esteve no local e disse que mantinha pouco contato, mas se dava bem com cantor. "Sempre uma relação boa, desde criança. Meu pai adorava o João. Começou a bossa nova com ele, era fã do João", explicou.
A sambista Teresa Cristina também marcou presença no Theatro Municipal e diz que "fez questão de dar seu adeus". "Acho emblemático a gente perder um gênio em um ano tão difícil para o Brasil, tão pesado. Com tanta gente burra no poder e a gente está perdendo uma pessoa genial que trouxe clareza e beleza ao Brasil", disse a cantora.
Trajetória
João Gilberto de Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, no sertão baiano, em 1931. Com 18 anos mudou-se para Salvador, onde se tornou crooner da Rádio Sociedade da Bahia. Em 1950 foi para o Rio de Janeiro e fez parte de alguns conjuntos musicais, mas foi expulso por indisciplina.
Em 1958, fez participação como violonista no disco de Elizeth Cardoso, com canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em março de 1959, lançou Chega de Saudade, considerado por muitos o marco inicial da bossa nova. No disco, João abriu um novo caminho para um novo estilo de tocar violão, com uma batida e uma harmonia diferentes e o canto doce que influenciou, como disse Tom Jobim, "toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores".
Dois anos depois, lançou "O Amor, o Sorriso e a Flor", da faixa "Samba de Uma Nota Só". Em 1962, dividiu o palco com Vinícius de Morais, Tom Jobim e o grupo vocal Os Cariocas. Apresentou-se no Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York, onde fixou residência e lançou vários discos de sucesso, como a parceria com Stan Getz, Getz/Gilberto, de Garota de Ipanema, pelo qual recebeu um Grammy de melhor álbum em 1965.
Apresentou-se em festivais e grandes casas de espetáculo, da Europa ao Japão, e fez parcerias ao redor do mundo. Em 1980, voltou a residir no Rio de Janeiro. Os últimos discos de João Gilberto foram João, Voz e Violão (2000), que recebeu o Grammy na categoria best world music album, e o João Gilberto in Tokyo (2004).
Depois de longo período fora dos palcos, em 2008 apresentou-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, celebrando 50 anos da bossa nova.
João foi casado com as cantoras Astrud Gilberto e Miúcha --irmã de Chico Buarque, que morreu em dezembro do ano passado, aos 81 anos-- e com Cláudia Faissol, sua empresária. Ele deixa as filhas Bebel e Luisa, e o filho Marcelo Gilberto.
Conhecido pelo temperamento difícil, João Gilberto estava há décadas recluso, não dava entrevistas e não recebia ninguém em casa, a não ser familiares. O cantor e compositor completou 88 anos no último dia 10 de junho. Uma das "organizadoras" da festança foi a neta Sofia, que preparou brigadeiros para o avô.
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