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Velório de João Gilberto é realizado no Rio de Janeiro

Carolina Farias

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/07/2019 09h57

O velório do cantor e compositor João Gilberto começou hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, pontualmente às 9h. O músico, reconhecido como o pai da Bossa Nova, morreu ontem, aos 88 anos de idade.

Claudia Faissol, ex-mulher e a filha mais nova do compositor, Luíza, de 15 anos, já estão presentes na cerimônia, que tem previsão de durar até as 14h. A atriz Glória Pires também chegou cedo ao local. Bebel Gilberto chegou ao Theatro Municipal pouco antes do meio-dia, mas não conversou com a imprensa.

Uma das coroas de flores enviadas para o velório tinha uma mensagem assinada por Rita Lee: "Homenagem ao mestre dos mestres".

A causa da morte do músico ainda não foi divulgada, mas sabe-se que ele enfrentava problemas de saúde há alguns anos.

Fãs e amigos se despedem

A cantora Hanna esteve presente na cerimônia e falou sobre João Gilberto."Gravei dois CDs em homenagem a ele, O amor é Bossa Nova, volumes um e dois. Fui à casa dele na última semana. O segundo ele me autorizou duas músicas dele, Obalala e Bim Bom. Por isso estive com ele toda semana, ele estava disposto e feliz com a homenagem. Ele queria fazer o trabalho comigo pra mostrar a todo mundo que estava bem. Cantamos juntos, ele pedia para eu não ir embora", disse a cantora. Ela foi apresentada a ele pelo filho, João Marcello. "Ele conheceu meu show desse trabalho e disse que queria que o pai me conhecesse. Fui e ele ficou encantado. Na última semana nos vimos todos os dias".

Fã de João Gilberto mostra autógrafo do compositor - Carolina Farias/UOL - Carolina Farias/UOL
Fã de João Gilberto mostra autógrafo do compositor
Imagem: Carolina Farias/UOL

Fã do músico, Italiano Ferreira, aposentado de 78 anos, mostrou autógrafo que conseguiu do músico em um show no Municipal. "Ele entrou pela porta de trás e eu parei na frente dele com uma folha em branco e ele assinou. É coisa rara, ele e Roberto Carlos são difíceis. Vim no último show dele no Municipal e hoje em sua despedida".

Adriana Calcanhoto ficou cerca de uma hora no Municipal. "Ele nos ensinou tanto sobre rigor e respeito pelo nosso talento. Tão cuidadoso, talentoso e nos deixou Bebel. É só agradecer o João por tudo que ele nos deixa. Tem muitos artistas da música e também não de música que são influenciados por João até sem saber que são", afirmou.

O samba da bossa nova que ele criou não é senão o samba, como ele dizia, o gênero mais autêntico do Brasil. Não venha dizer que bossa nova é jazz, é isso e aquilo. É a criação de João Gilberto pela voz e violão Ricardo Cravo Albin, escritor e musicólogo

Paulo Jobim, filho de Tom Jobim, esteve no local e disse que mantinha pouco contato, mas se dava bem com cantor. "Sempre uma relação boa, desde criança. Meu pai adorava o João. Começou a bossa nova com ele, era fã do João", explicou.

A sambista Teresa Cristina também marcou presença no Theatro Municipal e diz que "fez questão de dar seu adeus". "Acho emblemático a gente perder um gênio em um ano tão difícil para o Brasil, tão pesado. Com tanta gente burra no poder e a gente está perdendo uma pessoa genial que trouxe clareza e beleza ao Brasil", disse a cantora.

Trajetória

João Gilberto de Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, no sertão baiano, em 1931. Com 18 anos mudou-se para Salvador, onde se tornou crooner da Rádio Sociedade da Bahia. Em 1950 foi para o Rio de Janeiro e fez parte de alguns conjuntos musicais, mas foi expulso por indisciplina.

Em 1958, fez participação como violonista no disco de Elizeth Cardoso, com canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em março de 1959, lançou Chega de Saudade, considerado por muitos o marco inicial da bossa nova. No disco, João abriu um novo caminho para um novo estilo de tocar violão, com uma batida e uma harmonia diferentes e o canto doce que influenciou, como disse Tom Jobim, "toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores".

Dois anos depois, lançou "O Amor, o Sorriso e a Flor", da faixa "Samba de Uma Nota Só". Em 1962, dividiu o palco com Vinícius de Morais, Tom Jobim e o grupo vocal Os Cariocas. Apresentou-se no Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York, onde fixou residência e lançou vários discos de sucesso, como a parceria com Stan Getz, Getz/Gilberto, de Garota de Ipanema, pelo qual recebeu um Grammy de melhor álbum em 1965.

Apresentou-se em festivais e grandes casas de espetáculo, da Europa ao Japão, e fez parcerias ao redor do mundo. Em 1980, voltou a residir no Rio de Janeiro. Os últimos discos de João Gilberto foram João, Voz e Violão (2000), que recebeu o Grammy na categoria best world music album, e o João Gilberto in Tokyo (2004).

Depois de longo período fora dos palcos, em 2008 apresentou-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, celebrando 50 anos da bossa nova.

João foi casado com as cantoras Astrud Gilberto e Miúcha --irmã de Chico Buarque, que morreu em dezembro do ano passado, aos 81 anos-- e com Cláudia Faissol, sua empresária. Ele deixa as filhas Bebel e Luisa, e o filho Marcelo Gilberto.

Conhecido pelo temperamento difícil, João Gilberto estava há décadas recluso, não dava entrevistas e não recebia ninguém em casa, a não ser familiares. O cantor e compositor completou 88 anos no último dia 10 de junho. Uma das "organizadoras" da festança foi a neta Sofia, que preparou brigadeiros para o avô.