Viúva diz que Andre Matos queria se dedicar à música clássica e morar na Suécia
A morte de Andre Matos completa hoje um mês. Um infarto na manhã do dia 8 de junho tirou a vida do vocalista que marcou época no heavy metal, com seus trabalhos com Angra, Shaman, Viper e sua banda solo. Marina Leite, mulher dele nos últimos cinco anos, falou ao UOL sobre a longa amizade que virou amor, o período de luto e os planos para o futuro, que incluíam uma mudança de país, para que o cantor ficasse mais próximo do filho, e se dedicar mais à música clássica.
"Não consigo ver fotos, vídeos, músicas, nada... Isso tudo pra mim ainda é muito difícil", diz Marina, em entrevista por e-mail. "Ainda não aceitamos o ocorrido, mas ficamos muito tocados com tantas homenagens."
A companheira - como eles gostavam de se tratar - de Andre Matos, que trabalhava como sua empresária, falou sobre como ele era longe dos palcos. O vocalista tinha uma vida reservada, quase nunca expunha sua privacidade, tanto que em vida deixou claro que não gostaria de um velório público, o que foi respeitado. Por outro lado, era bem-humorado e tinha como uma das diversões pessoais compor não só o que apresentava com suas bandas, mas realizar sátiras com letras bem-humoradas.
Confira abaixo a entrevista com Marina Leite:
O Andre era bem reservado, não revelava detalhes da vida pessoal. Como vocês começaram a se relacionar?
Nos conhecíamos há 25 anos, porque sempre tivemos muitos amigos em comum. No início, éramos apenas amigos e nos víamos em algumas reuniões e encontros. Até que fui morar na Itália - onde tive um relacionamento que gerou minha filha, que atualmente está com 16 anos - e ficamos muitos anos sem nos ver. Voltei a morar no Brasil por volta de 2006, quando a minha mãe faleceu, e passei a me dedicar somente a criar minha filha. Aos poucos, fui retomando minha vida e voltei a ver com mais frequência os nossos amigos em comum - e um certo dia, nos reencontramos na casa de um deles. Como éramos vizinhos, recuperamos rapidamente a amizade perdida no tempo - que foi ficando cada vez mais forte pois tínhamos muita coisa em comum. Mas somente após vários meses como melhores amigos é que acabamos nos tornando um "casal" - porém, sempre fomos muito reservados em relação a isso para não gerar comentários e fofocas...
Vocês chegaram a se casar?
Nos casamos no início de 2017, mas preferíamos dizer que éramos "companheiros" - pois, para o Andre, sermos companheiros era algo mais intenso. Segundo ele, éramos mais do que somente um casal: éramos melhores amigos, confidentes, cúmplices. Mas sempre muito reservados, como o Andre sempre gostou.
Você era fã antes de conhecer o Andre?
No início, conhecia somente as músicas mais famosas - tanto que, às vezes, precisava até perguntar os nomes das canções dele para alguém da sua equipe ou para algum fã que estivesse no show. Mas com a convivência cotidiana, comecei a conhecer melhor o seu trabalho e passei a me impressionar com o seu talento e a sua sensibilidade para criar músicas e letras. E fui descobrindo, aos poucos, que o Andre era um gênio. Ele foi e sempre será a melhor pessoa que eu conheci em toda a minha vida. Era uma pessoa ímpar, e jamais irá existir alguém com tamanha sensibilidade, honestidade e de um caráter impossível de ser descrito de tão maravilhoso que era. A pedido dele, para que ele pudesse ter mais controle de sua carreira, eu era sua empresária.
Como era o Andre longe dos palcos? Que lado as pessoas não conheciam?
O Andre nunca escondeu que era super reservado. Nós não saíamos quase nunca e preferíamos fazer maratona de documentários, filmes, séries, jogos. Ele também compunha suas músicas durante a madrugada - o horário que ele era mais ativo. Tanto músicas de verdade, sérias, como também várias músicas e letras de brincadeira, sátiras super divertidas. E assim a gente se divertia, com as coisas mais simples.
Como era a relação dele com o filho, que mora na Suécia?
O Andre amava o filho dele mais do que tudo. Eles se falavam quase que diariamente por Skype ou por mensagens - e mesmo estando distante, ele fazia de tudo para estar perto dele. Inclusive, íamos visitá-lo agora nas férias escolares, mês em que seu filho completará 10 anos.
Você chegou a ver imagens da missa de sétimo dia que o homenageou em São Paulo?
Não consegui ir e ainda não pude ver as imagens. Não consigo ver fotos, vídeos, músicas, nada... Isso tudo para mim ainda é muito difícil, me abala muito e, por recomendação médica, devo ficar por enquanto afastada de tudo que possa engatilhar um mal físico ou psicológico. Ainda não aceitamos o ocorrido, ainda não estamos preparados para comparecer a cerimônias desse tipo. Mas ficamos muito tocados com tantas homenagens.
E como você acha que ele reagiria a essa homenagem?
O André era avesso a qualquer exposição pública que não estivesse relacionada ao trabalho dele. Ele gostava de ter contato com os fãs só para mostrar a sua arte, mais nada.
O Andre comentou alguma vez se gostaria de tocar com o Angra?
Nada de concreto. Porém, uma vez que ele voltou a cantar de novo com o Shaman, acho que seria bem mais fácil para ele refletir a fazer alguns shows com o Angra também. Mas quem diz e pensa isso sou eu - pelo modo como eu o conhecia - e acredito que ele iria precisar de um tempo grande para refletir e chegar a uma conclusão concreta. O Andre não fazia nada sem pensar bastante antes e nunca se expunha ao fervor do momento.
Quem tem te dado apoio neste momento?
Minha filha, sogra, cunhados, irmã... Ou seja, a família e alguns amigos próximos. Estou fazendo terapia de luto e tendo acompanhamento médico. Ainda tenho muita dificuldade para encarar o dia-a-dia e não gosto de falar do assunto.
Como era o momento do Andre agora? Como ele se sentia, aos 47 anos?
Ele queria se empenhar mais ao projeto Piano & Voz e à música clássica. Também tínhamos planos de ir para a Suécia, para ele ficar mais perto do filho e fazer um mestrado em música clássica e trilhas de cinema.
E o que ficará marcado para você deste tempo em que ficaram juntos?
Para mim, todos os momentos foram importantes - dos melhores aos piores. Tudo isso faz parte do nosso aprendizado.
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