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Lobão diz que rótulo universitário "chancela coisas que beiram à demência"

Mirella Nascimento

Do UOL, em Paraty (RJ)

05/07/2013 22h45

Conhecido por declarações polêmicas, Lobão disparou críticas ao sertanejo universitário, a MPB, ao rap dos Racionais MC's e aos intelectuais de esquerda durante sua participação em uma mesa sobre música na 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ) na noite desta sexta-feira (5).

"O rótulo universitário chancela coisas que beiram à demência", disse o músico, depois de relatar uma experiência em uma casa noturna dedicada ao sertanejo em São Paulo, passagem que está presente em seu livro "Manifesto do Nada na Terra do Nunca".

Mais adiante, foi a vez da MPB: "O ranço maior da MPB é ser totalmente desprovida de virilidade. É uma coisa molenga. Quanto mais molenga, mais MPB".

Lobão criticou ainda o rap e elogiou o funk, ao dizer que o primeiro também é carregado de ranço e até racismo, sem o humor e a irreverência do segundo.

"O rap ainda foi apropriado pelos intelectuais de esquerda. Como esse último disco dos Racionais, 'Marighella', que fala em luta armada. Eles são patrocinados pelo governo, fazem propaganda do governo. Luta armada contra quem? O rap não tem humor. Quando você perde o humor, fica burro", disparou.

Lei dos Direitos Autorais
Lobão criticou também a aprovação do PLS 129/12, que altera as regras para cobrança de direitos autorais, aprovada na quarta-feira (3) no Senado, classificando-a como "um golpe".

"Essa lei é um engodo, é um golpe. Posar do lado do Renan Calheiros e da Dilma vai ter volta. Aquilo não representa nossa classe. Temos milhares de músicos contra isso. Vão ser criados cargos comissionados, um Ministério da Cultura inflado", disse.

O PLS  estabelece que o Ecad passe a ser fiscalizado por um órgão específico e preste satisfações precisas sobre a distribuição dos recursos. O projeto também determina a redução do teto da taxa administrativa cobrada pelo escritório e pelas associações de gestão coletiva de 25% para 15%, garantindo que os autores recebam 85% de tudo o que for arrecadado pelo uso das obras artísticas.

Segundo o cantor, o grupo de artistas que foi favorável ao projeto não ouviu o que o resto da classe tem a dizer. "O governo está nos devendo milhões, e eles vão gerenciar o que é nosso. É colocar a raposa para cuidar do galinheiro. Nós temos muito mais gente que é contra essa lei", disse ele em entrevista ao UOL.

O PLS  foi resultado de CPI realizada em 2012 que investigou supostas irregularidades na arrecadação e distribuição de direitos por execução de músicas por parte do Ecad.

O músico falou ainda que vai incluir um capítulo sobre as manifestações e o momento político atual em uma nova edição de seu livro. "Quando eu lancei o livro, me disseram que a popularidade da Dilma estava boa, e eu respondi que era por pouco tempo".

A mesa
Lobão dividiu a mesa com o jornalista André Barcinski, que está preparando um livro, ainda sem título, sobre a música pop brasileira no período entre 1974 e 1983, contando histórias de artistas como a banda Secos e Molhados e  o cantor Richie.

"A jovem guarda foi o primeiro movimento pop no Brasil. Mas, nessa época, se vendia muito pouco disco no país, é um período pré-milagre econômico. A explosão do pop, em termos de venda de discos, se dá com a explosão dos Secos e Molhados, do Raul [Seixas]", disse o jornalista.

Barcinski e Lobão lembraram diferentes épocas da música brasileira, da jovem guarda até hoje, e contaram histórias dos bastidores de festivais, das gravadoras e das disputas entre músicos. Finalizaram a mesa lendo trechos de seus livros.