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Discussão política, desistências e espaço para outras artes marcam a Flip 2013

Mirella Nascimento

Do UOL, em Paraty

07/07/2013 13h22

A discussão sobre o momento político brasileiro, a desistência de três participantes estrangeiros e a integração entre diferentes formas de arte foram os destaques da 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que termina neste domingo (7). 

Segundo a organização do evento, o homenageado do ano que vem ainda não foi definido, assim como a data de realização - que será em agosto, em função da Copa do Mundo. "A gente pensou em vários nomes, mas isso vai ter de ser conversado", disse o curador Miguel Conde em conversa com jornalistas nesta tarde. 

O cantor Lobão divulgou seu novo livro na Flip

Lima Barreto, Mário de Andrade e Rubem Braga foram alguns nomes citados por Mario Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul, que promove a Flip, como possibilidades para 2014.

Munhoz também ressaltou o clima harmônico do evento em um momento de efervescência política e de manifestações pelo país. Para Miguel Conde, curador da Flip, a homenagem a Graciliano "acabou sendo muito adequada neste momento político".

"Não é apenas um escritor que teve uma atuação de militância importante, mas cuja obra se define com essa preocupação. É um escritor que pensa as implicações do seu próprio lugar como escritor no Brasil, uma questão pertinente para nós, que trabalhamos com cultura", disse o curador.

As manifestações e o momento político do país tiveram destaque especial na programação da Flip. Além de mesas sobre Graciliano Ramos e a "Literatura e Revolução", que teria a participação do poeta da primavera árabe Tamim Al-Barghouti, foram criadas novas mesas para tratar do assunto.

A militância política local de Paraty e o contato com o músico Luiz Perequê acabou atraindo a participação de Gilberto Gil ao evento, segundo Munhoz. O cantor e compositor veio à Flip com um cachê de R$ 55 mil, tocou no show de abertura do evento e participou da mesa aberta "Culturas locais e globais", justamente sobre esse assunto.

Integração entre as artes

Munhoz comemorou a integração da literatura com outras artes e a inclusão da arquitetura como assunto de uma mesa no evento. "Estou muito feliz com essa Flip por causa dessa integração. Este ano teve uma coisa muito interessante, que é a introdução da arquitetura como mais uma arte, no sentido de ela não ser um assunto de especialistas", disse o diretor, destacando a qualidade da discussão na mesa "As medidas da história", com Paul Goldberger e Eduardo Souto de Moura.

Conde destacou também os formatos variados de mesas, como o recital de Maria Bethânia lendo Fernando Pessoa, a projeção de imagens da obra Guernica feita por T. J. Clark e a entrevista com o documentarista Eduardo Coutinho --que, na opinião de Conde foi uma das melhores mesas do evento.

Flip 2013 termina neste domingo

Desistências de estrangeiros

A edição deste ano teve três cancelamentos de convidados estrangeiros. Na última hora, o poeta e cientista político egípcio-palestino Tamim al-Barghouti informou que não chegaria a tempo de participar da mesa "Literatura e Revolução", uma das mais aguardadas. Sua participação era uma dúvida desde a última quarta-feira, quando um golpe de estado derrubou o presidente egípcio Mohammed Mursi.

Apesar de ter deixado o Cairo, Al-Barghouti ficou retido em Londres, onde pegaria um voo para o Brasil. Segundo os organizadores da Festa Literária, o poeta não conseguiu embarcar em razão do extravio de seu passaporte. Residente dos Estados Unidos, Al-Barghouti estava no Egito nos últimos dias, quando começaram uma nova série de protestos.

A poucos dias do começo da Flip, o francês Michel Houellebecq e o norueguês Karl Ove Knausgård cancelaram suas vindas por motivos pessoais. O primeiro já havia cancelado a participação na Flip de 2011.

Convidados, os autores que participam da Flip não recebem cachê. Com os cancelamentos, a organização precisa remarcar mesas, desmarcar passagens e hospedagens, mas não há nenhum tipo de multa ao desistente.

Público

Apesar de ainda não ter os números definitivos, a organização estima que Paraty tenha recebido um público de 20 mil a 25 mil pessoas, um pouco menor do que o de 2012, quando houve a participação de autores mais conhecidos como Jonathan Franzen, Jennifer Egan, Luiz Fernando Veríssimo e Ian McEwan. Munhoz afirmou que não há um desejo de que o público cresça de um ano para o outro, para que se mantenha a qualidade do evento e não um "inchaço quantitativo" com o risco de perder a essência.