Flip começa nesta quarta com homenagem a Graciliano e debates sobre momento político

A 11ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa nesta quarta-feira (3) com a participação de mais de 40 autores brasileiros e estrangeiros e homenagem a Graciliano Ramos. Até domingo, a programação da Flip terá mais espaço para artistas de outras áreas, que não apenas literatura, e mesas extra para discutir o atual momento político do país.

Entre os nomes internacionais, destaca-se o poeta e cientista social egípcio Tamim Al-Barghouti, figura central na primavera árabe, cujos versos foram declamados durante os protestos no Egito contra Hosni Mubarak, um dos primeiros eventos da chamada Primavera Árabe, em 2011.

A tradutora norte-americana Lydia Davis, vencedora do Man Booker International Prize 2013, falará sobre sua literatura que transita entre ficção, ensaio e poesia. Davis irá lançar no Brasil, durante a Flip, o livro "Tipos de Perturbação" (Companhia das Letras), tendo sido indicada ao National Book Award em 2007.

Vencedora do French-American Foundation Translation Prize de 2003 por sua tradução de "No Caminho de Swann", de Marcel Proust, Davis foi nomeada Chevalier da Ordem das Artes e das Letras pelo governo francês por sua obra de ficção e tradução. Também é autora do romance "The End of History" e de seis volumes de contos.

Para compor a presença feminina, a autora franco-iraniana Lila Azam Zanganeh trará, por sua vez, a leitura original da obra de Vladimir Nabokov – segundo a autora, o “grande escritor da felicidade”.

O norueguês Karl Ove Knausgard que faria debate sobre a relação entre ficção e confissão com o norte-americano Tobias Wolff, cancelou sua participação na Flip. Mesmo com o cancelamento, a mesa será realizada com a participação de Wolff e do autor mexicano Juan Pablo Villalobos. Os ingressos adquiridos continuam a valer para a mesa sem qualquer alteração Wolff é conhecido por ser um contista e memorialista e Karl Ove ganhou projeção internacional após a publicação de “Minha Luta”, uma narrativa autobiográfica em seis volumes.

Fazendo jus ao perfil híbrido da feira literária, o historiador da arte T.J. Clark falará, na quinta-feira, sobre a obra de Picasso e lança um novo olhar sobre a obra de “Guernica”. O cineasta Eduardo Coutinho que completa 80 anos em 2013 também tem presença confirmada na Tenda dos Autores, no sábado.

O ganhador do prêmio Pritzker de 2011, o português Eduardo Souto de Moura, considerado o Nobel de arquitetura também está em Paraty para conversar com o crítico de arquitetura da “New Yorker”, Paul Goldberger.

Homenagem a Graciliano Ramos
O escritor amazonense Milton Hatoum – autor de "Relato de Um Certo Oriente", "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte" – fará a conferência de abertura da 11ª edição, com homenagem a Graciliano Ramos, autor do consagrado “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”.

Milton Hatoum dará o primeiro passo da homenagem na Tenda dos Autores, às 19h de quarta. Como grande conhecedor do escritor, Hatoum falará sobre a importância da obra de Graciliano Ramos na literatura, mas também na cultura brasileira, incluindo o cinema e a política.

Segundo a organização do evento, Hatoum irá combinar o “relato pessoal de sua experiência de leitura com uma discussão mais geral sobre o lugar central da obra do escritor na história da cultura brasileira”.

O cineasta Nelson Pereira dos Santos também foi convidado para falar sobre a relevância da obra de Graciliano, na sexta, às 21h30, ao lado de Miúcha. O diretor irá revisitar as adaptações para o cinema de “Vidas Secas” (1963) e “Memórias do Cárcere” (1984).

Para dar voz ao sentido político da obra da Graciliano, três críticos literários irão se reunir no último dia da Flip, domingo, às 11h, para discutir como o escritor alagoano incorpora e exprime sua postura crítica diante do mundo. Wander Melo de Miranda, Lourival Holanda e Erwin Torralbo Gimenez estarão juntos nesta mesa.

Uma exposição sobre o escritor homenageado, cuja morte compleotu 60 anos no dia 20 de março, será montada na Casa da Cultura em Paraty.

Show de abertura
O cantor e compositor Gilberto Gil fará o show de abertura da Flip, na noite do dia 3 de julho. No repertório, o cantor fará um apanhado de seus 50 anos de palco com canções compostas em diversas fases de sua carreira como "Domingo no Parque", "Palco", "Estrela".. Gil estará acompanhado do filho Bem Gil (violão e guitarras).

O artista também participará de uma mesa na tarde do dia 4 de julho para falar sobre "Culturas Locais e Globais". Junto com a socióloga Marina de Mello e Souza, Gil debaterá sobre a criação e manutenção de políticas públicas para a disseminação de programas culturais.

Além de Gil, a cantora Maria Bethânia já confirmou a presença em uma das mesas mais aguardadas. Bethânia e Cleonice Berardinelli, professora emérita da UFRJ, estarão juntas em “Lendo Pessoa à beira-mar”, na sexta às 19h30.

Momento político
Uma programação extra, divulgada na semana passada, promoverá debates sobre as "recentes movimentações políticas que mobilizam o cenário nacional". Serão três novas mesas dentro da Tenda dos Autores com pensadores de diversas áreas, entre eles: Vladimir Safatle, André Lara Resende, T.J. Clark, Juan Arias e Marcos Vinicius Faustini.

Na quinta, quatro intelectuais que acompanharam de perto as passeatas discutem diferentes estratégias para "narrar a rua". O segundo debate vai fazer um contraste entre as multidões que se reúnem fora e dentro dos estádios nos jogos da Copa das Confederações.

A terceira mesa com essa temática colocará em pauta a "insatisfação generalizada com a classe política brasileira". Além de discutir sobre a má qualidade dos serviços públicos e a incapacidade do Estado para responder às demandas da população.