Para filho de Graciliano, romances como "Vidas Secas" só deveriam ser lidos por adultos
Romances de Graciliano Ramos como “Vidas Secas” e “São Bernardo” estão na lista de leituras obrigatórias de alguns dos maiores vestibulares do país. Mas o próprio filho do autor, o também escritor Ricardo Ramos, só deixou seus filhos terem contato com o texto denso do avô depois de adultos.
“O pai mediava nossa leitura. Trazia livros, conversava sobre literatura. Dentro desse cenário, ele dizia que só leríamos Graciliano quando adultos. Ele dizia ‘Vocês são netos do Graciliano, vão ter que ler. Mas se lerem ainda crianças, vão ter dificuldade’. Li ‘Vidas Secas’ com 19 anos e adorei”, contou ao UOL Ricardo Ramos Filho, que participa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) pela primeira vez neste ano, quando Graciliano é homenageado.
No evento, que começa na quarta-feira (3) e vai até domingo, Ricardo lançará três livros – um deles inspirado em “A Terra dos Meninos Pelados”, de Graciliano Ramos, e seu primeiro livro adulto, “Montado no Ponteiro Grande do Relógio”.
Leitor voraz desde menino, o escritor carioca aponta “Infância” como seu livro favorito do avô. “Quem for começar a ler e quiser conhecer quem é Graciliano pode começar com esse, que é um livro de memórias. Acho maravilhoso”, indicou Ricardo.
Para a leitura dos romances, o neto sugere a ordem cronológica: “Caetés”, “São Bernardo”, “Angústia” e “Vidas Secas”. “Eu gosto de conhecer um autor e ler tudo”, disse. A obra de Graciliano inclui ainda mais livros de memórias, como o clássico “Memórias do Cárcere”, e textos infantis, como “A Terra dos Meninos Pelados”, que inspirou Ricardo a escrever “Se Eu Não Me Chamasse Raimundo”.
Começar pelos livros infantis é uma alternativa para quem, como o próprio filho de Graciliano, desaconselha a leitura dos romances por crianças e adolescentes. “A obra infantil do Graciliano precisa ser mais visitada”, acredita Ricardo, que além do livro inspirado na obra do avô, está terminando um mestrado no qual compara “A Terra dos Meninos Pelados” e “São Bernardo”, para mostrar que os textos infantil e adulto podem ter a mesma qualidade.
Graciliano também escreveu os livros infantojuvenis "Histórias de Alexandre", "Alexandre e Outros Heróis" e "O Estribo de Prata".
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