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Virada Cultural 2013 fecha com boas atrações, mas aumenta sensação de insegurança

Do UOL*, em São Paulo

19/05/2013 19h21Atualizada em 20/05/2013 07h49

A 9ª edição da Virada Cultural teve cerca de 26h de duração, marcada pela saída do pernambucano Otto do palco 25 de Março por volta das 20h15. No palco Júlio Prestes,o uruguaio Jorge Drexler fechou a programação às 19h20, e o Stand Up se estendeu até as 19h50. Mais de 900 atrações se dividiram em diversos palcos pelo centro da cidade desde as 18h de sábado, mas o grande gargalo deste ano foi, mais uma vez, a sensação de insegurança nas ruas, refletindo em uma tensão que envolveu Polícia Militar e Prefeitura de São Paulo.

Durante a madrugada houve relatos de que a PM estaria atuando com inércia diante de atos de violência no evento. A reportagem do UOL flagrou um arrastão na praça da República a dez metros de uma base da PM, da qual os policiais alegavam não poder sair. "Se houve sonegação de ajuda por parte do policial, iremos investigar", disse o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, durante divulgação do balaço final do evento. Um total de 3,4 mil policiais militares estavam trabalhando na Virada.

A equipe do UOL que percorreu as ruas do Centro durante as 24h de Virada Cultural relatou sensação de insegurança ao fazer o trajeto entre os palcos. Enquanto as apresentações aconteciam, o clima era mais ameno entre o público, mas circular de um lado para o outro na região era o grande temor, em meio a relatos de roubos, arrastões e brigas.

Policiais que não quiseram se identificar afirmaram ao UOL que esta foi a edição mais violenta da Virada. Segundo eles, não se esperava um número tão grande de ocorrências. Duas pessoas morreram durante o evento, seis foram esfaqueadas e 28 foram detidas, segundo dados preliminares apresentados pela organização. "Recebemos mais ocorrências do que imaginávamos", reconheceu Haddad.

Nas redes sociais, a falta de segurança também foi assunto na página principal do evento no Facebook. "Estou com medo. Vi de perto arrastão", disse um internauta. "É o quinto ano que eu vou e o último, porque essa foi uma Virada realmente assustadora. Seis baleados, gente esfaqueada e até o Eduardo Suplicy foi roubado", disse outra pessoa, referindo-se ao senador do PT que foi furtado durante show de Daniela Mercury no palco Júlio Prestes.

Racionais MCs criticam furtos na Virada Cultural 2013

Ida e volta em transporte público
O transporte público funcionou relativamente bem durante a Virada, com alguns focos de superlotação em certos períodos do dia. A linha 3-vermelha do metrô, que liga as zonas leste e oeste de São Paulo, foi a que apresentou maior movimentação durante as horas de evento, já que passa pelo centro da cidade, onde ocorre grande parte da programação. 

Uma lentidão no início da tarde deste domingo também foi registrada na linha vermelha, depois que uma mulher foi atropelada por um trem nos trilhos da estação Brás. Nas demais linhas, como a verde e a azul, que também passa pelo Centro da cidade, era possível transitar com tranquilidade. Mas grande parte das estação, como no Anhangabaú, sofriam com falta de limpeza e garrafas, latas, bitucas de cigarro e papeis pelo chão.

Nas últimas horas do evento, a estação da Sé acumulava uma fila quilométrica para compra de bilhetes, mas que fluía. Na República, o movimento era intenso, mas sem grandes percalços. Na Luz, a movimentação era grande.

Funk ganha palco exclusivo e atrai multidão na Virada

Cardápio de atrações culturais
As sérias ocorrências policiais, no entanto, não chegaram a ofuscar a programação cultural. Os Racionais MCs, uma das atrações de rap mais esperadas, colocou crianças no palco e condenou os atos de violência presenciados durante a Virada. Haddad estava na plateia e assistiu ao show rodeado por oito seguranças.

Emicida se apresentou com uma banda completa e um DJ, agradeceu ao público por "fazer o rap nacional" e criticou Lobão. Já Criolo dedicou "salves" à família e ao rapper Sabotage, ícone do rap paulista morto em 2003. O rapper Afro-X também falou sobre a violência: "Acho que o que aconteceu é reflexo do que a gente vive na sociedade. A violência está banalizada porque as pessoas não conseguem ver alguém que não conhecem como ser humano".

O show da banda A Banca, formada pelos ex-integrantes do Charlie Brown Jr., teve participação dos rappers Sandro RZO e Sabotinha (filho de Sabotage). No final da apresentação, fãs tentaram invadir o camarim da banda e tiveram que ser contidos por seguranças.

Ícone do funk, George Clinton fez uma apresentação impecável, mas vista por um público mais restrito, que ouviu hits da época do Funkadelic e Parliament. No palco brega, o grupo Kaoma recebeu Gaby Amarantos. E Sidney Magal foi visto por fãs diversos, entre famílias e senhoras. E Luiz Caldas mostrou hits como "Tieta do Agreste", "O que É que Essa Nega Quer?" e "Haja Amor".

O compositor Paulo Vanzolini, que morreu no último dia 28, ganhou uma homenagem feita pelos cantores Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro, Cláudia Morena, João Macacão, Márcia e Maria Martha.

Teatro, comédia e alimentação
A primeira série de performances do palco Stand Up na Praça da Sé foi marcada por referências ao cheiro de urina no local e uma apresentação dos passos da dança "Quadradinho de Oito" encenada pelos humoristas. Rafinha Bastos fez piadas sobre os processos que enfrenta e criticou o ex-jogador Ronaldo. No domingo, uma tradutora de libras --língua brasileira de sinais-- acompanhou alguns dos comediantes em cena.

A peça "Quartos de Hotel", com texto e direção de Mário Bortolotto, foi apresentada para um público reduzido no palco da Praça Roosevelt. O elenco entrou em cena às 7h10 para o início do espetáculo, que estava programado para 5h45. Na platéia, menos de 50 pessoas – algumas dormindo – resistiam ao frio gelado da manhã de domingo.

O movimento da atração Chefs na Rua --que no ano passado sofreu com superlotação e tentativas de invasão--estava intenso quando a venda de pratos começou às 8h deste domingo. Cerca de cem pessoas já aguardavam para saborear, entre outros pratos, o Porco à Paraguaia com Tutu de feijão do chef Jefferson Rueda, do restaurante Attimo. Em frente à sua barraca, no entanto, veganos fizeram protestos contra consumo de carne.

*Com reportagens de Tiago Dias, Estefani Medeiros, Thiago Azanha, Gisele Alquas, Mario Barra, Mariana Pasini, Daniel Solyzko, Carlos Minuano, Ronaldo Evangelista e Adriana de Barros