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5 coisas que explicam sucesso de "La Casa de Papel"

Personagens de "La Casa de Papel" - Divulgação
Personagens de "La Casa de Papel" Imagem: Divulgação

Da BBC

19/04/2018 08h52

A Netflix anunciou nesta quarta-feira que haverá uma terceira temporada de La Casa de Papel ("A Casa de Papel"). Segundo o serviço de streaming, a série espanhola é a mais assistida de língua não inglesa de sua história.

A notícia de que haverá mais uma leva de episódios foi celebrada nas redes sociais, onde os milhões de seguidores da trama (rebatizada em "Money Heist", algo como "Roubo de Dinheiro", em inglês) haviam especulado durante dias se haveria uma continuação.

Embora seus criadores dissessem que a série era um projeto de uma temporada dividida em duas partes, seu enorme e inesperado sucesso em vários países fez com que os planos mudassem.

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A ficção foi exibida pela primeira vez em 2017 em canal aberto de TV na Espanha, no qual teve audiência discreta. O sucesso viria quando a Netflix comprou a atração e a incluiu em seu cardápio de séries.

Hoje, a trama tem fãs espalhados em países como Argentina, Brasil, Uruguai, França, Índia, Arábia Saudita e Turquia, entre outros. A máscara de Salvador Dalí usada pelos personagens chegou, inclusive, a virar mania em vários lugares.

Esse sucesso fez com que a Netflix decidisse agora produzir as novas aventuras do grupo de ladrões – e anunciasse o feito na conta da série no Twitter.
A terceira leva de episódios será exibida em 2019 e ainda não se sabe quais atores seguirão no elenco e nem como será a nova história.

Até agora, o enredo da trama era era centrado no assalto à Fábrica Nacional de Moedas de Madri, onde um grupo de ladrões apelidados com nomes de cidades do mundo tenta realizar um assalto multimilionário.

Mas o que há de tão especial na série protagonizada por Berlim, Tóquio, Rio e companhia para ela ter alcançado tamanho sucesso?

1. O típico roubo que não é o que parece

La Casa de Papel conta a história clássica de "um roubo perfeito" do ponto de vista dos ladrões.

"Eles não estão apenas roubando para si, mas também estão dando um golpe (...) e um aviso para o sistema capitalista em que vivemos", disse Alejandro Bazzano, um dos diretores da série, ao jornal argentino La Nación.

A peculiaridade desse roubo atrai grande parte do público, que por vezes encontra semelhanças com o que acontece em seus países.

Na Argentina, por exemplo, diz o jornalista especializado em séries Marcelo Stiletano, também do La Nación, assaltar o lugar onde o dinheiro é fabricado desperta a simpatia em um país onde a desvalorização da moeda é um dos grandes símbolos de sua crise econômica.

"Poderia ser o emblema de um questionamento do funcionamento econômico do país e uma necessidade, da ficção, de punir aqueles responsáveis pelos desastres que tornaram a Argentina cada vez mais pobre", diz Stiletano à BBC.

O foco do enredo faz com que uma grande parte do público queira que o assalto se concretize, e não o contrário.

E é por isso que a série chegou a causar polêmica em alguns países. Na Turquia, por exemplo, o ex-prefeito de Ancara Ibrahim Melih Gökçeh descreveu a obra como "um símbolo de rebeldia" que deveria ser alvo de intervenção "das autoridades policiais".

2. Os bandidos que não são tão ruins

A primeira garantia de sucesso de La Casa de Papel está no desenvolvimento de seus protagonistas.

"Como você sabe detalhes de suas histórias, você acaba se afeiçoando aos bandidos, porque vai descobrindo que eles não são tão ruins assim", analisa o produtor audiovisual argentino Patricio Rabuffetti, que trabalha na Espanha.

O retrato ambíguo dos personagens faz com que ladrões como Tóquio, Moscou, Berlim ou Nairóbi – apelidos claramente inspirados nos nomes em código dos assaltantes do filme Cães de Aluguel (Branco, Azul...), de Quentin Tarantino – se tornem quase "justiceiros".

Segundo Stiletano, "a simpatia de um vilão está na base de qualquer ficção de sucesso, como disse Alfred Hitchcock".

As fraquezas, problemas e desventuras dos ladrões, que estabelecem relações com os diferentes reféns, acabam conquistando a empatia do público.
"É mais fácil se identificar com eles do que com aqueles que supostamente representam a lei", afirma o jornalista.

3. Um filme em 15 capítulos

La Casa de Papel é outro exemplo de série que, devido à sua qualidade, poderia perfeitamente ser exibida em um cinema.

"Ela foi feita com um orçamento quatro ou cinco vezes menor do que seria o de um capítulo feito nos Estados Unidos, mas não deixa nada a desejar em termos de fotografia, roteiro, enredo... É muito bem feita", diz Rabuffetti.

Segundo o produtor internacional, o roteiro mantém permanente tensão, intriga, suspense e até momentos de romance. "É uma mistura que realmente funciona."

Os movimentos de câmera característicos, a luz e a trilha sonora ajudam a série a ter um ritmo acelerado (a adaptação feita para a Netflix encurtou a duração dos episódios para ter mais capítulos) e faz com o que o espectador fique ligado na trama.

Outras coisas consideradas acertos na série: o uso de elementos únicos e distintos, como as máscaras de Salvador Dalí ou os macacões vermelhos utilizados pelos ladrões durante o roubo.

4. Ritmo ideal para uma plataforma de streaming

Mesmo com essas qualidades apontadas pelos especialistas, surpreende que La Casa de Papel não tinha sido um sucesso de audiência quando foi exibida pela primeira vez na TV aberta da Espanha.

Para os críticos, isso aconteceu porque o desenvolvimento de seu enredo, quase em tempo real, se encaixa melhor com a nova maneira de assistir à ficção por meio de plataformas de streaming como a Netflix.

"O espectador segue a ação com essa sensação de tempo real adquirida com o hábito de consumo dessas plataformas, nas quais você pode ver todas temporadas de uma série de uma vez, e não apenas um único capítulo", diz Stiletano.

O produtor Rabuffetti acrescenta que os "intervalos comerciais de 12 ou 15 minutos" da televisão tradicional não ajudaram o público a seguir uma série com o ritmo frenético de La Casa de Papel quando ela foi ao ar na Espanha.

"Eu diria que, se uma série como House of Cards tivesse sido vista na TV aberta, ela também teria passado despercebida."

5. A nova percepção da América Latina sobre a ficção espanhola

Rabuffetti também destaca o bom momento pelo qual passa a indústria de ficção da Espanha após o sucesso de outras séries como Velvet ou Grand Hotel e a alta demanda que existe por seus produtos também na América Latina.

O profissional afirma já passou o tempo em que boa parte do público latino não ficava à vontade ouvindo no cinema ou na TV o sotaque característico do espanhol falado na Espanha.

"Por causa do prestígio que merecidamente as séries espanholas estão desfrutando, hoje não há resistência para vê-las", diz ele.

Outro fator que contribui para o sucesso de La Casa de Papel é a escalação do elenco, com vários talentos espanhóis, como Álvaro Morte, Itziar Ituño, Alba Flores e Úrsula Corberó, que eram até então desconhecidos por grande parte do público internacional.