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Bacurau: Mendonça Filho diz que filme não tem mensagem, e elenco pede resistência

O diretor Kléber Mendonça Filho e a atriz Sônia Braga, de Bacurau, em Gramado - Cleiton Thiele/Agência Pressphoto/Divulgação
O diretor Kléber Mendonça Filho e a atriz Sônia Braga, de Bacurau, em Gramado Imagem: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto/Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

20/08/2019 14h43

Divulgando em São Paulo seu novo filme, Bacurau, o cineasta Kleber Mendonça Filho afirmou hoje que, apesar da simbologia, o longa não tem uma mensagem explícita e ele nunca foi pensado para ter uma, desde o início do projeto, em 2009.

"Nunca fiz um filme ou crítica, na época em que fui crítico de cinema, [com intuito] de passar qualquer mensagem que seja", afirmou o diretor. "Meus filmes trazem conflitos que se anulam. Há uma confusão dentro do filme que acho importante. (...) O filme é reflexo de observações minhas e de quem produziu."

Apesar disso, segundo o codiretor Juliano Dornelles, o combustível de Bacurau é o Brasil que vivemos, "um país rico em absurdos, violência e deseducação. Isso é alimento para 2.000 filmes. Bacurau foi só mais um."

Misturando drama, western e ficção científica, Bacurau retrata um grupo armado estrangeiro que quer dizimar o vilarejo que dá título ao longa, uma pequena comunidade no interior pernambucano, de população heterogênea em termos de raça, cor e identidade de gênero.

"Só aceito fazer um filme se ele me passa uma mensagem. E hoje existe um sentimento de resistência no mundo. Estamos falando do Brasil e há mudanças que precisam ser feitas", disse Sonia Braga, que brincou várias vezes com o ator Thardelly Lima, que interpreta o prefeito Tony Jr. no filme, com o bordão "Ele, não" e dedicou mais uma vez sua personagem a Marielle Franco.

A principal motivação dos vilões do filme, fãs de armas e racistas, é cruel: o prazer de matar pessoas a esmo. As relações se cruzam às ambições de um político corrupto da região, prefeito símbolo de forças conservadoras e da corrupção.

"Bacurau é sobre o futuro do Brasil. É sobre esperança. Sobre trazer uma revisão. Porque, no fim das contas, todos querem a mesma coisa. Tenho esperança que o filme abra uma discussão para as pessoas voltarem a conversar e que encontrem um caminho rápido", concluiu Sonia Braga.

Trailer de Bacurau

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Bacurau ganhou o prêmio do júri do Festival de Cannes e foi eleito o melhor filme no Festival de Berlim. O longa estreia na próximo dia 29, em meio à sinalização do governo de uma possível censura a projetos fomentados pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), órgão que, segundo o presidente Jair Bolsonaro, ainda pode ser extinto.

Questionado por jornalistas, Mendonça Filho mais uma vez salientou que, como o Bacurau possui financiamento público, Bolsonaro tem o dever de assistir ao filme como cidadão, mas reconhece que é impossível dizer se ele existiria caso começasse a ser produzido hoje. Os mecanismos de apoio ao cinema junto à Petrobras usados na produção não existem mais.

Nos créditos finais, há a mensagem de que o filme gerou 800 empregos direta e indiretamente, uma clara mensagem ao atual governo. De acordo com o elenco, as palavras do momento são mudança e resistência.

"A arte tem o poder de provocar. Não podemos ficar calados. Temos que fazer valer nossos direitos adquiridos e tentar mudar a realidade a partir desse ponto", disse o ator Silvero Pereira, que vive um assassino que, no fim, se une à população no desejo de se defender do grupo estrangeiro armado.

"A crítica do filme está na gente que fez o filme, e a sensação de perder direitos, que foram adquiridos à custa de muita gente, é horrivel. Cultura é um bem essencial. Não é supérfluo. Sem ela, não somos seres humanos", concluiu a atriz Karine Teles.

Coletiva de Bacurau em SP - Leonardo Rodrigues/UOL - Leonardo Rodrigues/UOL
Coletiva de Bacurau em SP
Imagem: Leonardo Rodrigues/UOL

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado nesta matéria, Bacurau ganhou prêmio no Festival de Munique e não de Berlim.. A informação já foi corrigida.