Como Raphael Draccon e Carolina Munhóz foram dos livros de fantasia para a Netflix
Raphael Draccon e Carolina Munhóz são dois dos maiores nomes da literatura fantástica no Brasil. Juntos, contabilizam centenas de fã-clubes e mais de 800 mil livros vendidos, com destaque para a trilogia Dragões de Éter (dele) e a série Trindade Leprechaun (dela). E desde o último dia 28 está disponível o primeiro trabalho que os dois escritores, que são casados, assinam juntos: a série O Escolhido, produção brasileira da Netflix.
A parceria já era um antigo desejo do casal e dos fãs - e funcionou melhor do que o esperado. "Nós estávamos acostumados a escrever nossas histórias separadas, e temos estilos diferentes mesmo escrevendo fantasia, mas nós temos os mesmos gostos", diz Carolina. "A gente gosta dos mesmos seriados, dos mesmos filmes, dos mesmos tipos de pensamento. E a gente passa 24 horas junto, o que colabora".
Os autores acabaram encontrando um método próprio que lhes permitiu escrever os seis episódios da série em três meses. "A gente debate a ideia, então eu monto a ideia original e o Rapha é ótimo para montar as cenas tocantes, os diálogos, aquela mágica que vem por cima. Quando a gente descobriu que se complementava, o trabalho fluiu. Quando você lê o roteiro, você não sabe o que cada um escreveu".
Brasilidade
Baseada na série mexicana Niño Santo, O Escolhido gira em torno de Lúcia (Paloma Bernardi), Damião (Pedro Caetano) e Enzo (Guto Szuster), três médicos que são enviados para vacinar o vilarejo de Aguazul, no coração do Pantanal, contra uma mutação letal do vírus zika. Chegando lá, no entanto, eles se deparam com uma população reclusa que segue um homem conhecido como O Escolhido (Renan Tenca) por suas misteriosas habilidades de cura.
Com o aval da Netflix, Carolina e Raphael deram um tempero brasileiro à trama original, incorporando a ela elementos da nossa religiosidade e dos mitos regionais, como o da Mulher de Branco e do Minhocoçu - espécie de minhoca gigante que, segundo lendas, fica preso aos fios de cabelos de Nossa Senhora nas igrejas.
"A gente tem uma mitologia muito rica no brasil, do folclore, das lendas urbanas, e até da nossa própria fauna, dos sons dos animais", diz Raphael, que vê na série a chance de investir em um gênero ainda pouco explorado na TV e no cinema nacionais. "Além de ser um privilégio fazer um gênero que fala tanto com a gente, ainda temos essa responsabilidade de abrir portas e mostrar para tantas pessoas ao redor do mundo um pouco da nossa cultura brasileira e da nossa cinematografia brasileira".
Com mais de dez anos de carreira, os dois escritores notam que havia uma resistência à produções de fantasia que se passassem em terras tupiniquins. "O público brasileiro ama esse gênero, consome essas séries e esses filmes, mas quando nós começamos, uns dez anos atrás, existia um certo preconceito em ter um material no Brasil e até em autores brasileiros", nota Carolina.
"Tivemos de conquistar essa confiança do leitor", completa Raphael. "E existia um preconceito com o cinema nacional, ainda mais nessa nova geração, mas hoje em dia isso vai sendo cada vez mais quebrado. As pessoas ficam com o pé atrás, elas acham que não vai chegar ao nível americano, ao nível internacional".
Os dois, porém, acabaram surpreendidos positivamente pelo tratamento que a produção ganhou, com um visual que, como o UOL notou na crítica, é rico e detalhista. "Tudo foi tão acima da expectativa que a gente está no céu mesmo. Não era uma série fácil, não era uma série comum de ser feita no Brasil, e a gente ficou muito feliz", comemora Carol.
Mais roteiros
Agora, os dois escritores planejam investir ainda mais no audiovisual - um sonho antigo que já havia motivado a mudança do casal para Los Angeles, nos Estados Unidos.
"Fomos picados pelo mosquitinho das séries", resume Carolina. "O que a gente quer é escrever um roteiro atrás do outro, deu uma liberdade criativa muito boa pra gente, de criar cada vez mais materiais".
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