Encontro "sobrenatural" com onça e perrengues no mato: Os bastidores de O Escolhido
As gravações de O Escolhido, nova série brasileira da Netflix, foram uma verdadeira aventura para seus atores e sua equipe - com direito a um cara a cara com uma onça, cabelos enroscados na mata e até a sensação de viver um "Big Brother" em uma pequena cidade do interior do Tocantins.
"Fui jogada na água, corri no meio do mato, era cabelo preso nos galhos, um carrapato no braço...", lembra Paloma Bernardi, aos risos. Ela protagoniza a série como Lúcia, uma médica que vai com dois colegas vacinar a população do pequeno vilarejo de Águazul, no coração do Pantanal, mas se depara com a devoção a um líder místico conhecido como O Escolhido, papel de Renan Tenca.
Em entrevista exclusiva ao UOL, Paloma e Renan falaram sobre como foi a experiência de trabalhar no suspense sobrenatural, que foi a São José dos Campos, no interior de São Paulo, e a Natividade, um município com pouco mais de 9.000 habitantes no Tocantins, para criar seu universo místico.
"Às vezes dava a sensação de que a gente estava de fato vivendo um 'Big Brother', uma sociedade fechada", diz Renan. "A gente se via todos os dias, o grau de intimidade passa a ser o outro entre o elenco, entre a equipe, passa a ser uma espécie de redoma. Já vai ajudando a montar a sensação de que você vive numa sociedade controlada, isso para mim era muito forte".
Eventos misteriosos, com um toque espiritual, também fizeram parte das gravações - especialmente para Renan que, no papel de Escolhido, teve que performar vários rituais. "Tiveram lidas bastante sensíveis para mim nesse sentido. Trabalhando com ritual o tempo inteiro, com o fluxo das energias ali, eu ficava sempre na manutenção de qual vela estava acesa, qual não estava. Fui me conectando com o que passava nesse canal".
O encontro do ator com uma onça, que fez uma participação especial na série, também pareceu coisa de outro mundo. "Eu vi ele superconcentrado no personagem, na cena, e tinha uma onça presente, uma onça real", conta Paloma. "Quando entrou no set, ele olhou no olho da onça, parecia uma reverência. Teve uma conexão dos dois ali". Para o ator, a sensação foi realmente de que aquele era um evento sobrenatural: "Olhar no fundo do olho de uma onça, parece que você está encontrando uma divindade".
Os atores e a equipe também incorporaram seus próprios rituais pessoais às gravações - especialmente quando apareciam as dificuldades climáticas. "A gente fazia todos os rituais possíveis pra não chover e poder gravar as externas", lembra Renan. "Todo mundo fazia seus rituais e parava", completa a colega.
Grey's Anatomy e isolamento
De lados opostos na série, Paloma e Renan tiveram processos bem diferentes para se preparem para seus papéis. Para a atriz, que vive sua primeira protagonista na TV, ele envolveu até seu amor pela série Grey's Anatomy. "Nós tivemos um laboratório com um enfermeiro local, sobre primeiros socorros, como atender em situações mais drásticas de emergência em uma região como essa; conversei com amigas médicas sobre como é que seria lidar com essa realidade da vida e da morte, como é que o médico se sente naquele momento, se tem que ter sangue frio ou não... e eu assisto a série Grey's Anatomy, que adoro e que alia também a vida pessoal dos médicos".
Depois de O Escolhido, a vida vem inclusive imitando a arte para Paloma: "Eu vou para o sertão em breve para acompanhar uma equipe médica e auxiliar nos tratamentos para uma região específica lá".
Já Renan acabou se preparando de forma mais solitária, até por conta do isolamento do elenco nas locações. "Acaba tendo uma colagem de figuras que são reconhecidamente figuras religiosas, eu fui fazendo uma espécie de soma das experiências que eu tinha no set e dessa experiência um pouco talvez meditativa de permanecer em silêncio durante muito tempo", lembra. "Isso me ajudou talvez a entender essas carências que depois viram violência sabe, porque a sensação que às vezes tenho é de que aquele homem que está exercendo aquela função, em vez de pedir ajuda, ele ataca".
Conservadorismo
Para os atores, a série vai levantar várias questões pertinentes ao momento que estamos vivendo hoje, já que O Escolhido fala muito da questão da rejeição ao diferente.
"Tenho a impressão de que Infelizmente o conservadorismo de Águazul é bastante contemporâneo", analisa Renan. "Tenho a sensação de que essa violência toda que acaba contaminando o suspense, esse medo que as pessoas têm do estrangeiro, essa sensação de que todo mundo está sendo ameaçado por uma coisa que ninguém sabe exatamente o que é, mas que existe... ela é infelizmente bastante contemporânea. Então sim, acho que deflagra bastante discussão que já está rolando".
Já Paloma acredita que muitas mulheres se identificarão com Lúcia, uma mulher que tem um papel de liderança e que precisa lidar com o machismo ao longo dos seis episódios da série. "Ela é líder na sua própria vida, é líder na sua profissão. Acho bacana um projeto colocar a mulher nesse posicionamento onde a profissão dela é o grande tesouro e ela acredita naquilo. Ver a mulher nessa posição, nesse momento que a gente vem vivendo, de empoderamento feminino, de valorização da mulher pelo seu trabalho, pelo que ela é, pela sua opinião, sobre o que ela deseja - não só porque ela é bonita ou dona de casa, ou a mãe dos filhos... acho que as mulheres vão acabar se identificando com a minha personagem".
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