O Escolhido, nova série da Netflix, impressiona com visual e mistério intrigante
A Netflix começa a desbravar outros caminhos com O Escolhido, sua nova série original brasileira. Estrelada por Paloma Bernardi, a produção que chega hoje ao serviço de streaming investe no suspense sobrenatural, um gênero pouco trabalhado por aqui. E o resultado é, em grande parte, bem-sucedido: a série impressiona com uma ambientação rica em detalhes e uma narrativa tensa, apesar de suas falhas.
O Escolhido gira em torno de Lúcia (Paloma Bernardi), Enzo (Gutto Szuster) e Damião (Pedro Caetano), médicos incumbidos de vacinar a população de Águazul, um vilarejo afastado no meio do Pantanal. A missão, no entanto, se revela mais difícil do que parece: os três se deparam com uma população hostil que age em nome de um líder denominado como Escolhido (Renan Tenca) e com uma série de acontecimentos misteriosos que colocam seus conhecimentos à prova.
Baseada na série mexicana Niño Santo, a trama foi adaptada por Raphael Draccon e Carolina Munhoz, conhecidos autores de literatura fantástica - ele escreveu a trilogia Dragões de Éter e ela, O Reino das Vozes que Não Se Calam. Os dois incorporaram à história um repertório puramente brasileiro, calcado em lendas locais muitas vezes desconhecidas no eixo Rio-São Paulo, e isso se vê refletido em uma direção de arte cuidadosa e detalhista que consegue imprimir uma aura fantástica à série.
À medida que os episódios avançam - a convite da Netflix, o UOL assistiu a quatro dos seis capítulos de quase uma hora -, a narrativa entrega novas perguntas quase na mesma medida em que revela as respostas de seus mistérios, o que a mantém instigante e cria um clima de tensão quase constante.
Diálogos problemáticos
Em certos momentos, a história é fragmentada por uma leveza que parece fora do tom. Paloma Bernardi cria uma personagem carismática, mas as ações e atitudes de Lúcia, a grande protagonista da série, são muitas vezes inconstantes e contraditórias - ora ela está determinadíssima a descobrir o que está acontecendo, ora ela é excessivamente ingênua, de uma forma que contradiz toda a sua construção anterior.
O texto também apresenta outros problemas, sendo o maior deles os diálogos que soam artificiais. A tentativa de tratar de assuntos como machismo e racismo, apesar de bem-intencionada, é pouco natural. Isso não ofusca, no entanto, os méritos da série, que consegue prender a atenção com seus mistérios.
O elenco é um ponto forte da produção, com destaques para Renan Tenca, que se mostra um acerto como o Escolhido, e a veterana Tuna Dwek, interessante como Zulmira, uma das mais enigmáticas moradoras de Águazul.
Mesmo com seus defeitos, O Escolhido vale ser vista, com belas imagens e um estilo que a diferencia da maior parte das séries que estamos acostumados a ver no Brasil.
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