Outro ponto a ser levado em consideração nesse mosaico é a chamada janela de exibição. Cada distribuidor divide a "vida útil" de seu produto em diversos momentos, maximizando a exposição e os lucros. No caso de um filme, muitas vezes a primeira janela é nos cinemas, com exclusividade - por isso que "Men in Black: Internacional" e "X-Men: Fênix Negra", que acabaram de estrear no Brasil, estão fora da Netflix e de qualquer outra plataforma.
A segunda janela é a do chamado "home entertainment" - o que, antigamente, seria sinônimo de DVD e do Blu-ray. No entanto, esse cenário mudou. "O mercado de DVDs praticamente acabou. Para a Pandora, não existe mais. [Continua existindo para] Apenas filmes muito grandes, blockbusters ou clássicos", revela Sturm. Se saiu de cena a mídia física, entraram as plataformas de streaming que permitem a compra e venda de longas-metragens, como NOW (da NET e Claro), iTunes (Apple) e Google Play.
No Brasil, praticamente todos os filmes são trabalhados nessa segunda janela - e como disponibilizar o conteúdo na Netflix junto com elas significa diminuir preços e margens, além de canibalização, a estreia no streaming por assinatura é adiada em mais algum tempo, que pode variar de semanas a meses.
No caso da Disney, os longas-metragens da Marvel entram no catálogo da Netflix mais de três anos após a estreia nos cinemas, depois de uma extensa trajetória no mercado nacional, que inclui exibições na TV paga e até na TV aberta. Foi o que aconteceu com "Homem-Formiga" e "Vingadores: Era de Ultron", e, em breve, acontecerá com "Capitão América: Guerra Civil".
A situação é muito parecida nas séries. Produções como "Arrow" e "The Flash" precisam cumprir toda uma estratégia de janelas traçada pela Warner, que inclui a veiculação da temporada completa na TV paga, o lançamento em DVD e, aí sim, a disponibilização no video on demand por assinatura.
Isso tudo, claro, quando falamos de produções recentes. No caso dos clássicos há uma outra camada de dificuldade: a qualidade técnica. Muitas vezes a cópia nas mãos do distribuidor no Brasil não possui a melhor qualidade possível ou não está nos padrões exigidos, sendo reprovada no controle de qualidade da Netflix. É o caso dos tokusatsus, séries de heróis e monstros japoneses, como "Jaspion", "Changeman" e "Flashman".
"Havia uma negociação em trâmite, mas como as séries não eram alta-definição e como a Netflix iniciava sua seleção de adquirir somente em HD [não foi possível fazer negócio]", conta Nelson Sato, da Sato Company. Ainda assim, outras produções da distribuidora estão atualmente no catálogo da plataforma, como os clássicos animados "Akira" e "Ghost in the Shell".