Miguel Falabella: "Só gente burra acha que Caco Antibes pode servir de exemplo"
Em tempos de escalada conservadora no Brasil, há quem diga que os personagens de "Sai de Baixo", e em especial o elitista Caco Antibes, servem tanto para fazer rir quanto para reforçar preconceitos e atitudes moralmente questionáveis. O filme baseado na série da TV chega esta semana aos cinemas, estrelado pela maioria do elenco clássico, e, em entrevista ao UOL, os atores são unânimes em refutar essa teoria.
Para eles, a trama é e sempre foi uma contundente e explícita crítica social, e por isso as figuras jamais poderiam ser levadas a sério. Não dessa forma. "Ninguém nunca disse que o Caco é um exemplo. Muito pelo contrário. Uma pessoa que diga isso tem que ser internada, porque ele é um psicótico e sempre foi. Ele [o Caco] é um psicótico que existe no Brasil", diz Miguel Falabella, que escreveu o roteiro do filme que coloca Caco na cadeia. Mas, com a providencial ajuda de um figurão endinheirado, ele consegue escapar da cela.
Quem leva 'Sai de Baixo' a sério, como tratado antropológico, deve se tratar. Coisa de gente sequelada, que toma tarja preta
Miguel Falabella
Ainda segundo Falabella, essa crítica equivocada é mais comum no Brasil do que fora do país. Estamos problematizando errado? "[Isso] É coisa de gente burra, que não tem o que fazer", dispara. "Tem um programa maravilhoso na Netflix, que chama 'Unbreakable Kimmy Schmidt', criado pela Tina Fey. É um absurdo! Eles falam barbaridades. E daí? Ninguém está nem aí. As pessoas têm outro nível intelectual. Nem discuto."
Na visão do colega Tom Cavalcante, que retorna ao papel do porteiro Ribamar, "Sai de Baixo" continua relevante como contraexemplo em um país que culturalmente pouco mudou no últimos 17 anos, desde o fim do programa. "A gente, como profissional do humor, pratica exatamente esse nonsense e ao mesmo tempo ajuda as pessoas a ganharem consciência", afirma.
Intérprete dos vilões Banqueta e Angelina no filme, Lúcio Mauro Filho segue a mesma linha de raciocínio. "O humor de 'Sai de Baixo' não é preconceituoso. Ele coloca um espelho na frente do preconceito do próprio brasileiro. Estaríamos traindo o público se viéssemos com o 'Sai de Baixo' politicamente correto, porque o 'Sai de Baixo' é calcado no politicamente incorreto".
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