Como a Netflix quer dominar Hollywood em 2019
Em meados dos anos 2000, a então gigante Blockbuster esnobou uma oportunidade de comprar a Netflix, que ainda operava como uma locadora de DVD, avaliada naquela época em US$ 50 milhões. Em 2019, agora a plataforma de streaming comemora 15 indicações de suas produções originais no Oscar e números expressivos, principalmente seus 137 milhões de assinantes no mundo -- sendo 8 milhões apenas no Brasil. E o plano é maior: a Netflix quer ser uma produtora de cinema com planos ainda mais ousados em Hollywood.
Inicialmente funcionando como uma simples plataforma de streaming, a Netflix mostrou seus primeiros passos nesta direção ao produzir séries originais, como "House of Cards", "Black Mirror", "Orange is the New Black" e tantas outras que se tornaram sucesso nos últimos anos. Agora, com o filme "Roma" de Alfonso Cuarón e suas dez indicações ao Oscar, fica mais clara a intenção da empresa de se tornar um nome de peso também na indústria do cinema.
Essa é a missão de Scott Stuber. O executivo deixou a Universal Pictures para repetir na produção de filmes o sucesso que a Netflix teve com séries. Teria a internet esse poder de mudar um jogo tão consolidado entre produtoras, estúdios e redes de cinema? Sim. Como já noticiamos aqui, em uma manobra inédita, a gigante Paramount produzirá um filme exclusivamente para a Netflix, invertendo uma ordem histórica de Hollywood ao passar um projeto de dona para contratada.
"Roma" e Alfonso Cuarón foi a primeira cartada de Stuber, que planeja novos projetos com Martin Scorsese, Steven Soderbergh, Dee Rees, Guillermo del Toro, Noah Baumbach e Michael Bay em um futuro bem próximo.
Números grandiosos e um jeito diferente
A Netflix já se acostumou a ter cifras expressivas para produzir conteúdos de séries, e o plano para o cinema é igualmente ousado. A meta de Scott Stuber é lançar 55 filmes originais por ano. Em termos de comparação, em 2018 a Universal lançou 19 títulos; a Fox. 13; e a Paramount, 11. E a ideia não é economizar. Alguns dos orçamentos previstos batem números como US$ 200 milhões, dignos de produções gigantescas de Hollywood.
A ideia da Netflix é romper com o padrão de lançamento clássico da indústria, que até hoje se baseia em estreia nos cinemas e depois em outros formatos. De olho nos critérios previstos pela Academia de Hollywood e claro, sabendo da exposição dada no Oscar, "Roma" e "The Ballad of Buster Scruggs" chegaram a entrar no circuito das salas de cinema enquanto já estavam disponíveis na plataforma de streaming.
Embora tenha força por si só, a Netflix sabe que ainda precisa da validação do Oscar para dar esse novo passo em direção à indústria hollywoodiana. Mas não espere muita reverência.
"Este é um mundo onde a escolha do consumidor é tudo. A maneira como fazemos compras, encomendamos comida, a forma como nos entretemos. Estamos chegando em um lugar onde os consumidores também podem escolher o que irão assistir", afirmou Stuber em entrevista ao jornal "The New York Times". "Sabemos que é algo crítico. Se você não tiver acesso ou tempo para ir ao cinema, você também deve ter a opção de assistir sem ter que esperar muito tempo".
Como a Netflix fisgou Scorsese
Uma das apostas deste futuro próximo é "The Irishman", um drama sobre a máfia dirigido por Martin Scorsese. O elenco ainda contará com Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci.
"Algumas pessoas vão dizer que a Netflix não liga para o cinema e só se preocupa com streaming. Até certo ponto isso é verdade, mas pra mim, vindo da era dos cinemas, isso parece estranho e incerto. Provavelmente Alfonso Cuarón e Joel e Ethan Coen diriam o mesmo. Mas todos nós estamos fazendo os filmes para as grandes telas e eles estão nos dando vitrine enorme. Scott e seu time estão fazendo nossos filmes de uma maneira amorosa e com respeito ao cinema. E isso é tudo", disse Scorsese ao "NYT", por e-mail.
Atualmente, são dois departamentos que cuidam da produção de filmes da Netflix. O primeiro, chamado "Originals", tem a meta de produção de 20 filmes por ano com orçamentos que vão de US$ 20 milhões a US$ 200 milhões. O segundo, o "Indie", tem como objeto 35 títulos com investimentos de até US$ 20 milhões.
De olho na MPAA
Outro movimento que revela nitidamente o desejo da Netflix em dominar Hollywood é a aproximação com a MPAA (Motion Picture Association of America), entidade que representa a indústria do cinema nos Estados Unidos.
De acordo com o site The Wrap, a negociação entre a associação e a Netflix já estão avançadas. Este passo deixaria a empresa muito mais próxima de ser um estúdio de cinema, mais do que apenas uma plataforma de streaming.
Se até pouco tempo Hollywood ainda se perguntava se a Netflix teria força para mudar algo em uma indústria centenária e estabelecida, agora a questão é só de quando isso acontecerá.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.