Primeiro dia de Virada Cultural é marcado por protestos e pouco público
O primeiro dia da Virada Cultural, que aconteceu neste sábado (20), em diferentes pontos de São Paulo, foi marcado por pouco público e protestos contra o governo de Michel Temer. Em sua estreia no evento, o Sambódromo do Anhembi contou com a abertura de Daniela Mercury, que foi animada, mas reuniu uma plateia pequena.
A cantora pediu a renúncia de Temer ao cantar "Tempo Perdido". "Você não tem o direito de nos atrapalhar. Verdade e transparência, é o que queremos", disse brevemente no fim de uma semana tomada por delações e novos escândalos envolvendo o presidente. Depois do show de Daniela, o palco teve várias falhas técnicas, que foi resolvido minutos depois, só que o público já tinha ido embora. Sem clima, a cantora Fafá de Belém, uma das principais atrações no local, cancelou sua apresentação marcada para à 0h30. Segundo sua equipe, o motivo foi uma leve indisposição.
Também estreante na Virada Cultural, o palco da Chácara do Jockey Clube recebeu as cantoras trans Raquel Virgínia e Assucena Assucena, que formam a dupla As Bahias e A Cozinha Mineira. Logo no início, as artistas pediram eleições diretas. "A gente quer votar", disse Assucena Assucena. "Queremos restabelecer o estado democrático de direito", disse Raquel. A dupla contou com Tulipa Ruiz como convidada, que também pediu eleições diretas, gritou "Fora Temer" e foi apoiada pelo público.
No Centro de São Paulo, onde se concentrava a maior parte das atrações dos eventos dos anos anteriores, o público também foi aquém do esperado, porém animado com as atrações. Houve protestos com faixas e cartazes de "Diretas Já" e Fora Temer". A programação da região começou por volta das 18h30, em frente ao Theatro Municipal, de onde saiu um trio elétrico puxado pela banda Xaxado Novo.
Pouca gente se animou a seguir o bloco pelas ruas. Outros palcos da região, como o dedicado ao samba na esquina da avenida Ipiranga com a São João, também estavam vazios nas primeiras horas do evento. Por volta das 19h20, o grupo Falamansa assumiu o trio do Cortejo Arrasta Sandália. Com sucessos como "Xote dos Milagres", a banda seguiu até a rua da Consolação.
Público se divide sobre descentralização
Quem compareceu ao shows se dividiu sobre a descentralização da primeira Virada Cultural da gestão do prefeito João Doria, que apostou em minifestivais espalhados na cidade.
"Acho que a ideia de levar os shows para outros lugares mais distantes fez o público encolher. A Daniela também deve ter estranhado", observou Alex Furtado, 29, frequentador assíduo da Virada e que assistiu aos shows no Anhembi.
"Achei a descentralização boa e ruim", opinou a tradutora Michele Bernardes, de 29 anos. "Sou moradora do Centro e acho bom porque como tem menos gente não vou acordar com a porta vomitada e cheia de xixi. Mas é ruim porque as atrações ficaram muito longe umas das outras", completou ela, que frequenta a Virada desde 2010.
Para o casal Marisa Gomes e Cláudio Ireno, de 56 e 59 anos, de Osasco, a descentralização "foi uma decisão acertada". "Soube que tem programação legal lá na zona leste. Não é todo mundo que pode vir para o Centro então é legal que tenha atrações em outros lugares", opinou Marisa. "Acho que nos outros anos pode se pensar em expandir a Virada até para outras cidades", disse Cláudio.
O público que acompanhou o show de Liniker e os Caramelows na Chácara do Jockey, também aprovou a descentralização da Virada Cultural. Anna Motta, de 20 anos, iria boicotar o evento se Doria tivesse mantido a ideia de levá-la inteira para Interlagos. "Mas como ele voltou atrás, animei e estou gostando da programação, dividida por gêneros musicais."
Marcela Braga, 31 anos, disse que não iria ao show de Liniker se fosse na República: "Gostei porque sabia que seria mais tranquilo".
Prefeitura esquece de montar palco
A prefeitura esqueceu de montar a estrutura no Palco Festas, no Coreto da Bolsa de Valores, na praça Antônio Prado, na região Central, que receberia os DJs de soul music Talco Bells. Na página no Facebook, os DJs lamentaram por não poderem realizar o show:
"Senhoras e senhores, houve um problema de comunicação da Prefeitura que não montou a estrutura com os equipamentos combinados. Infelizmente, pedimos desculpas mas não foi possível realizar a festa. Viemos até aqui com a intenção de fazer uma noite memorável mas não foi possível. Esperamos que possam curtir o restante da Virada", postou a banda.
Pato Fu zomba de políticos
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a banda mineira Pato Fu levou cerca de 700 pessoas ao Sesc Pompeia já na madrugada deste domingo (20) e zombou de políticos envolvidos nos escândalos de corrupção que assolam o país.
Ainda segundo a publicação, durante a apresentação da canção "Ando Meio Desligado", cover dos Mutantes, Fernanda Takai improvisou, sem sair da melodia: "Eu não vejo a hora... desse bosta sair". A plateia reagiu com mais gritos de "Fora Temer".
A vocalista também brincou com o sobrenome do tecladista da banda, Richard Neves, em referência a Aécio Neves. "Eu perguntei 'não tem algum nome do meio?' e ele me disse 'Tem, Cunha', disse a cantora, sobre o ex-deputado Eduardo Cunha. "Estou brincando, é só Richard Neves mesmo", completou.
Vera Fischer foi coroada rainha das novelas
A atriz Vera Fischer foi coroada rainha das novelas na Virada Cultural. Vera foi uma das atrações do Cortejo Vale a Pena Ver de Novo, no Centro, que homenageou as novelas brasileiras, com shows de Patricia Marx, Adryana Ribeiro e As Frenéticas.
"Adoro o amor de vocês. Estou muito emocionada porque as novelas ficam no coração das pessoas para sempre. As novelas ficam na lembrança", disse Vera, que viveu personagens marcantes na dramaturgia brasileira, como Jocasta em "Mandala" e Helena em "Laços de Família".
A Virada Cultural continua neste domingo até às 18h.
*Com reportagens de Mariane Zendron, Natalia Guaratto e Tiago Dias
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