Mini-Virada do Anhembi tem pouco público, cardápio gourmet e show no escuro
Esqueça a Virada Cultural como você conhece. Em sua estreia no evento, o Anhembi ganhou ares de festival, mas passou longe de reunir um bom público. A abertura com Daniela Mercury foi animada, mas reuniu uma plateia bem aquém do mar de gente que o evento costumava reunir no centro de São Paulo.
"Acho que a ideia de levar os shows para outros lugares mais distantes fez o público encolher", observou Alex Furtado, 29, morador de Mogi das Cruzes e frequentador assíduo da Virada. "A Daniela também deve ter estranhado". A cantora não fez nenhuma observação, mas aproveitou o enorme vazio para fazer seus foliões correrem como no Carnaval de Salvador.
Entretanto, faltou energia na atração seguinte. Os atores do Circo Zanni se apresentaram por apenas alguns minutos e abandonaram o palco no breu. "Estamos sem luz aqui, alguém pode fazer alguma coisa?", disse um dos atores. Sem resposta dos técnicos, pediu desculpas: "Não conseguimos enxergar nada daqui". A falha foi resolvida após 15 minutos, mas já era tarde: o palco estava às moscas. Sem clima, a cantora Fafá de Belém, uma das principais atrações no local, cancelou sua apresentação marcada para à 0h30. Segundo sua equipe, o motivo foi uma leve indisposição.
Mesmo com atrações à parte, como uma piscina de bolinhas improvisadas em caçambas, balanços e performance de artistas em um enorme balão, o Anhembi permaneceu esvaziado após o show de Daniela. No palco secundário, no meio da avenida, a situação foi pior. Menos de 20 pessoas tiveram a experiência de dançar no centro do sambódromo ao som da banda Èkó Afrobeat.
Virada Festival
A estranheza começou antes mesmo das 18h, com grades e portões fechados. Centenas de pessoas fizeram fila na avenida Olavo Fontoura à espera da abertura do Anhembi, o que aconteceu apenas 10 minutos antes do início do evento. Houve comemoração. Uma cena já conhecida para quem quer garantir o melhor lugar na entrada de um Lollapalooza da vida.
Não se trata de coincidência. A primeira Virada da gestão João Doria descentralizou o evento e apostou em minifestivais espalhados na cidade.
Com os ambulantes proibidos de entrar no Sambódromo, o cardápio ganhou opções gourmet: Tacos mexicanos (R$ 23), massa recheada (R$ 30), sorvete Ben & Jerry (R$ 24, três bolas) e um copo de minicoxinhas (R$ 10).
Na pequena plateia, um grupo de amigos vindo de Jundiaí, no interior paulista, aproveitou a proximidade da rodoviária do Tietê e desceram no meio do caminho. "Pretendemos virar", disse Raquel Ferreira, 31.
Moradora de São Paulo, Daniela Ikmadossian, 35, preferiu vir ao sambódromo de carro com o filho Heitor, de apenas 10 meses, e diz ter recebido tratamento VIP. Estacionou no bolsão de automóveis e teve acesso ao local por uma entrada preferencial. "Estou achando bem organizado e seguro", conta. Com carrinho de bebê na pista, ela conta que não se arriscaria a levar o filho se o show fosse no centro. "Minha ultima Virada foi em 2015, no show da Daniela no palco Júlio Prestes. Mas não dá para levar meu filho para a Cracolândia. Fui inclusive assaltada nesse dia."
Carina Cássia, 40, aproveitou o novo ponto da Virada perto da sua casa na zona norte para levar a filha e a neta menores para a apresentação circense. "Aprovei, pena que faltou luz", reclamou. A prima Rose Mota, 38, balançava a cabeça em negativa: "Eu sinto falta mesmo é da festa do Centro".
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