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Em nova coluna, Caetano defende Chico Buarque e Paula Lavigne

Do UOL, em São Paulo

20/10/2013 14h32

Na coluna que assina para o jornal "O Globo", neste domingo (20), Caetano Veloso voltou a falar das polêmicas das biografias e defendeu Chico Buarque. "A questão das biografias sempre foi essencial para Chico. Se entendi bem, ele tem mais interesse nisso do que em Ecad ou Procure Saber. Qualquer insinuação de barganha com Roberto Carlos para que este apoiasse as mudanças na gestão coletiva da arrecadação de direitos é injusta com todos nós — mas principalmente com Chico", escreveu ele.

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Segundo Caetano, o direito à privacidade sempre foi um tema que Chico teve no coração e externou em falas definidas. "O próprio Chico chamou a atenção da Procure Saber para o fato de que a tomada de posição em conjunto poderia causar problemas de princípios para algum ou alguns de nós. Quem informa colunas de fofoca nem sempre sabe o que é dito nas reuniões".

Ainda de acordo com Caetano, Chico reclamou de sua entrevista dada à "Folha de S.Paulo", em que ele responde o biógrafo de Roberto Carlos, Paulo César Araújo, que sugeriu que a filiação do cantor ao Procure Saber, ao pleito apresentado por Roberto Carlos [pela autorização prévia para biografias], teria sido uma moeda de troca ao apoio deste à agenda pró-fiscalização do Ecad. “Mais que a questão da privacidade do Roberto Carlos, eu queria tomar partido dele contra os ataques da imprensa estes anos todos...E a ‘Folha’ de hoje, ao dar a matéria em que respondo ao biógrafo do Roberto Carlos, suprimiu o parágrafo em que eu citava os esquadrões da morte na redação da ‘Última Hora’ de São Paulo, propriedade do Frias. E os censores somos sempre nós”, disse Chico a Caetano.

Caetano ainda citou Paula Lavigne, que foi ao programa "Saia Justa", do GNT, nesta semana explicar o ponto de vista do Procure Saber sobre as biografias. "Os xingamentos e as distorções não podem esconder o fato de que sua beleza, seu carisma e sua sinceridade deram vida ao programa de TV a que foi. E que é sua coragem que a leva a pôr a cara a tapa". 

Chico pede desculpas a biógrafo de Roberto Carlos

O cantor Chico Buarque pediu desculpas por não se lembrar de ter dado entrevista a Paulo Cesar Araújo, biógrafo de Roberto Carlos, há mais de 20 anos. Em texto publicado nesta quinta-feira (17) no site do jornal "O Estado de S. Paulo", Chico diz: "Agora fico sabendo que sim, dei-lhe uma entrevista em 1992. Pelo que ele diz, foi uma entrevista de quatro horas onde falamos sobre censura, interrogatórios, diversas fases e canções da minha carreira".

O cantor e compositor entrou na quarta-feira na discussão sobre a proibição de biografias não autorizadas. Em resposta a um texto publicado pelo jornalista Mário Magalhães em seu blog no UOL, Chico assinou artigo em "O Globo" em que criticava a Rede Globo e Paulo César de Araújo por ter atribuído a ele uma declaração publicada na biografia não autorizada "Roberto Carlos em Detalhes" (obra que foi recolhida das livrarias). "Lamento pelo autor, que diz ter empenhado 15 anos de sua vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só que ele nunca me entrevistou".

Na mais recente declaração, Chico ainda diz que não se lembrava de uma pergunta sobre Roberto Carlos porque a entrevista foi longa. "No meio de uma entrevista de quatro horas, vinte anos atrás, uma pergunta sobre Roberto Carlos talvez fosse pouco para me lembrar que contribuí para sua biografia. De qualquer modo, errei e por isto lhe peço desculpas".

Defesa do biógrafo
O biógrafo do Roberto Carlos se defendeu da alegação de que não teria entrevistado Chico divulgando fotos, um vídeo gravado na época e um artigo, também publicados pelo jornal "O Globo".  "Ele alega que eu teria faltado com a verdade ao incluí-lo entre as fontes listadas na biografia 'Roberto Carlos em Detalhes'. Ocorre que Chico Buarque foi, sim, uma das 175 pessoas que entrevistei para a pesquisa que resultou naquele livro. O artista certamente se esqueceu, mas ele me recebeu em sua casa, na Gávea, na tarde de 30 de março de 1992".

No vídeo, Buarque e Paulo Cesar Araújo conversam sobre como o sucesso de Roberto Carlos era encarado por Chico na década de 1960. O cantor diz que era difícil competir com o sucesso do Rei e que não levava o estrelato muita a sério, diferentemente de Roberto Carlos. 

Paulo César de Araújo também foi alvo de crítica no artigo de Chico ao "Globo" por ter publicado uma declaração atribuída ao cantor no livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", onde o compositor criticava Caetano Veloso e Gilberto Gil, então no exílio, por denegrirem a imagem do país no exterior. No novo texto, no "Estado", ele reitera a questão. "Quanto à matéria da 'Última Hora', mantenho o que disse. Eu não falaria com a 'Última Hora' de 1970, que era um jornal policial, supostamente ligado a esquadrões da morte. Eu não daria entrevista a um jornal desses, muito menos para criticar a postura política de Caetano e Gil, que estavam no exílio", escreveu ele.

Chico também manteve as críticas a Paulo César. "Mas o biógrafo não hesitou em reproduzi-la em seu livro, sem se dar o trabalho de conferi-la comigo. Só se interessou em me ouvir a fim de divulgar o lançamento do seu livro. Não, Paulo Cesar Araújo, eu não falava com repórteres da 'Última Hora' em 1970. Para sua informação, a entrevista que dei ao Mario Prata em 1974 foi para a 'Última Hora' de Samuel Wainer, então diretor de redação, que evidentemente nada tinha a ver com a 'Última Hora' de 1970, que você tem como fonte", escreveu Chico.

Entenda o caso
Chico Buarque é integrante da associação Procure Saber, que reúne nomes como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Djavan e Milton Nascimento. O grupo encabeçou a discussão após sua porta-voz, a empresária Paula Lavigne, afirmar ao jornal "Folha de S.Paulo" que os músicos estavam se mobilizando para impedir a mudança na legislação que submete a publicação de biografias à autorização dos biografados.

Embora a Constituição preveja a liberdade de expressão, o Código Civil brasileiro possui artigos que vedam a comercialização de biografias não autorizadas. Atualmente, tramita no Congresso um projeto para mudar o Código, do deputado Newton Lima (PT-SP) e, no STF (Superior Tribunal Federal), uma Ação Direta de Inconstitucionalidade referente aos artigos do Código Civil que interferem na questão. O Procure Saber é contra as mudanças.

Segundo o grupo, o posicionamento não tem a ver com censura prévia, mas com a preservação de direitos. "A Procure Saber pretende apresentar proposta de alteração do Código Civil, de forma a acomodar interesses comerciais de todas as partes — escritores, editoras, biografados e seus herdeiros —, cuidando de preservar a intimidade e a vida privada do biografado, que não podem ser subjugados para proteger outros direitos que, de fato, não estão sendo prejudicados ou violados", publicou a empresária Paula Lavigne, que gerencia a carreira de Caetano Veloso.

O grupo é o mesmo que, em julho, conseguiu pressionar o Senado a colocar em pauta e aprovar o projeto de lei que modifica as regras de arrecadação e distribuição de direitos autorais musicais.

Nesta segunda, o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, afirmou ser a favor da publicação de biografias não autorizadas. "Não acho razoável a retirada do livro do mercado. O ideal seria a liberdade total, mas cada um que assuma os riscos. Se violou o direito de alguém vai ter que responder financeiramente por isso", disse Barbosa, durante debate na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, no Rio.

Diversos escritores e artistas também já se manifestaram contra a proibição de biografias. Entre eles, Ruy CastroPaulo César de AraújoAlceu Valença e a filha de Adoniran Barbosa.

O STF anunciou que fará audiências, previstas para os dias 20 e 21 de novembro, para discutir a validade dos artigos 20 e 21 do Código Civil. É este trecho da lei que dá margem à proibição de biografias não autorizadas, ao prever que "a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais".