"Foi divertido esquecer que Jackson era uma celebridade", diz ensaísta que escreveu sobre o cantor
Convidado para escrever sobre Michael Jackson após a morte do cantor, em 2009, o ensaísta americano John Jeremiah Sullivan buscou no lado mais humano do cantor a base para contar a sua história.
"Fiquei ouvindo a música dele por algumas semanas. Havia liberdade de prestar atenção no que eu não vi escrito em nenhum lugar. Foi divertido esquecer que ele era uma celebridade e tentar me conectar com ele", disse o escritor na mesa "A arte do ensaio", na noite deste domingo (7) na 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
O escritor contou que pensou em outros destinos que a vida de Jackson poderia ter tomado a partir de sua infância em Indiana longe do sucesso. "Tentei pensar em como essa experiência iria mudar um ser humano. Ninguém perguntou se ele queria ser famoso. Quando ele se tornou consciente de quem ele era, ele já era famoso", completou.
Sullivan e o britânico Geoff Dyer, dois grandes ensaístas da atualidade, classificaram o ensaio como uma forma "livre" de estudar sobre assuntos de seu interesse sem se especializar neles.
O britânico, que acaba de lançar no Brasil "Todo Aquele Jazz", com textos sobre músicos como Chet Baker e Thelonious Monk, comparou a escrita de ensaios aos deveres de casa que fazia quando estava na escola.
"Passei os últimos 35 anos fazendo o dever de casa. Depois que eu saí da universidade, eu não queria ir à escola. Escrever ensaios é uma forma de estudar, de me aprofundar em assuntos que eu gosto", disse Dyer.
Ele fez ainda um contraponto da escrita solta do ensaio com as pesquisas acadêmicas: "A academia tende a afunilar as pessoas em uma especialização. O ensaio é uma antiespecialização, uma certa miscelânia, sempre se espalhando".
O amadorismo e a ignorância sobre o assunto a ser escrito são o ponto de partida para o ensaio, na opinião de Sullivan, autor de "Pulphead", que reúne ensaios de assuntos diversos, inclusive um festival de rock cristão, o neoconseradorismo americano e Michael Jackson.
"A confusão do ensaio faz parte da atração da forma. É uma forma um pouco solta, que funciona bem para amadores", disse Sullivan.
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