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Lêdo Ivo foi o "poeta municipal" mais destacado da Geração de 45

O escritor alagoano Lêdo Ivo na Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 10 - Acervo ABL
O escritor alagoano Lêdo Ivo na Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 10 Imagem: Acervo ABL

23/12/2012 13h51

Madri - Lêdo Ivo, que morreu neste domingo (23) em Sevilha aos 88 anos, foi um dos poetas mais representativos do Brasil nas últimas décadas, aparecendo como um dos principais nomes da Geração de 45, marcada por uma literatura intimista, introspectiva e com traços psicológicos.

Ivo defendia um modelo de poesia comprometido com o indivíduo e com a sociedade. Algum crítico chegou a se referir a ele como "o poeta indignado", embora ele tenha preferido se qualificar como um "poeta municipal".

Sua obra se destacava ao fugir da poesia pura, dirigida a celebração do universo através de rebuscados versos. Distante dessa linha, ele preferia, como fez alusão em mais de uma ocasião, abordar a vida cotidiana e, principalmente, a condição humana.

O poeta moderno, segundo Ivo, deve se interessar pelo mundo de hoje e pela experiência pessoal vivida, ao invés de se concentrar em poemas sobre a criação poética.

Desde sua infância, Ivo (Maceió, 1924) sentia devoção pela literatura espanhola, de Francisco de Quevedo, Gonzalo de Berceo, Lope de Vega, Federico García Lorca, Rafael Alberti e a metafísica de Antonio Machado, seu favorito.

Amante do soneto e dos versos longos, Ivo tinha o americano T.S. Eliot como uma grande referência em sua ampla formação, também marcada pelo interesse à literatura inglesa e francesa.

Membro da Geração de 45, um movimento contrário ao Modernismo de 22, Ivo é contemporâneo de outros grandes nomes da poesia brasileira, como João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar.

Jornalista, narrador, ensaísta e, antes de tudo, poeta, Ivo entendia a poesia como uma forma de sentir e caminhar pela vida.

Em uma entrevista concedida à Agência Efe em outubro de 2011, Ivo afirmou que já nasceu poeta e explicou que entendia "o mundo divido entre os poetas, arquitetos, pintores, dançarinos e músicos, entre outros, e os que não possuem voz. E para esses servem os poetas, para dar voz e música aos que não tem".

O autor de "As imaginações", "Rumor da Noite" e "Ode e Elegia", membro da Academia Brasileira das Letras, o poeta também reconheceu na entrevista que se achava melhor na velhice do que na juventude.

"Agora, eu costumo a refletir mais, tenho mais sentimento de conciliação metafísica e vejo mais o minúsculo, o cotidiano. Além disso, estou mais marcado pelas emoções", afirmou Ivo na ocasião.

Em 1943, no Rio de Janeiro, se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil - e nunca exerceu a advocacia - e começou a colaborar em suplementos literários. Posteriormente, foi trabalhar como jornalista na imprensa carioca.

Ao longo de sua carreira, Ivo recebeu vários prêmios, como o de Poesia da Academia Brasileira de Letras, o Leteo (2011), o Golfinho de Ouro (2004), o de Poesia do Mundo Latino Víctor Sandoval (2008), o de Literatura Brasileira da Casa das Américas (2009) e o Prêmio Rosalía de Castro (2010).

Adorador das viagens, Ivo percorreu vários países europeus em 1954 e, em 1963, o autor de "Ninho de Cobras" e "A Noite Misteriosa" foi convidado pelo governo americano para realizar algumas conferências em distintas universidades, uma atividade que não cessou de realizar em congressos, festivais e encontros por todo o mundo.

Casado com María Lêda Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), o poeta brasileiro foi pai de três filhos - Patricia, María da Graça e Gonçalo.