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Cinzas de Lêdo Ivo serão sepultadas no mausoléu da ABL no Rio

Lêdo Ivo cobra uma poesia mais indignada com problemas sociais (10/10/2011) - EFE
Lêdo Ivo cobra uma poesia mais indignada com problemas sociais (10/10/2011) Imagem: EFE

Do UOL, em São Paulo

23/12/2012 13h11

O corpo do escritor Lêdo Ivo, que morreu na madrugada deste domingo (23) aos 88 anos, será cremado na Europa e as cinzas serão depositadas nos primeiros dias de 2013 no Mausoléu da ABL (Academia Brasileira de Letras), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Seus restos mortais, segundo informou a ABL, ficarão ao lado de sua mulher, Maria Leda Sarmento de Medeiros Ivo, que morreu em 2004.

Lêdo foi vítima de um infarto às 2h e morreu nos braços do filho, o artista plástico Gonçalo Ivo, que vive em Paris e o acompanhava na visita a Sevilha. Ele, que sofria de câncer de próstata, passou mal durante um jantar e chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu e morreu no caminho.

"Ele estava na cidade de férias, onde ia passar o Natal com alguns familiares e retornaria na próxima semana a Maceió para cumprir seus compromissos de trabalho", disse à EFE a sobrinha do escritor, Laudicéia Eurídice Ivo.

Segundo a sobrinha do escritor,  familiares e amigos estão se mobilizando para fazer uma missa no Rio de Janeiro e outra em Maceió. O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho, decretou luto oficial de três dias.

"Lêdo Ivo é referência de sensibilidade poética e visão de mundo com o olhar do coração e da alma. Lêdo está no mesmo patamar que Aurélio Buarque de Holanda, Pontes de Miranda, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz. Ele deixa um legado inestimável para a literatura brasileira. Estou decretando luto oficial no Estado por três dias. Meus sentimentos de pêsames aos seus familiares e amigos", escreveu o governador em sua página no Twitter.

Ao saber da morte, a presidente da ABL, Ana Maria Machado, determinou que a bandeira da Academia fosse hasteada a meio mastro, e convocou para  o dia 10 de janeiro uma sessão acadêmica extraordinária. "Lêdo Ivo gozava de uma vitalidade assombrosa para seus quase 90 anos e sua saúde frágil. Falava alto, gostava de comer bem, se esmerava em contar histórias divertidas", comentou ela.

O Acadêmico Marcos Vilaça, ex-presidente da ABL, disse que Lêdo Ivo foi um dos mais assíduos confrades e um colaborador dedicado. "Nossa amizade nasceu ainda no tempo em que ele foi presença constante no Recife, onde fez boas amizades no meio intelectual. Gilberto Freyre e Mauro Mota lhe dedicavam muita admiração", falou em comunicado. 

Carreira
Natural de Maceió, Lêdo era o quinto ocupante da Cadeira nº 10 da ABL, eleito em 13 de novembro 1986, na sucessão de Orígenes Lessa. Ele foi casado com Maria Lêda, com quem teve três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.

Ele estreou na literatura em 1944 com o livro de poemas "As Imaginações", e no ano seguinte publicou "Ode e Elegia", com o qual ganhou o Prêmio Olavo Bilac. Seu romance de estréia, "As Alianças", foi publicado em 1947. Lêdo mudou-se para Paris no início de 1953 e voltou ao Brasil no ano seguinte para reiniciar suas atividades literárias e jornalísticas.

Em 1963, a convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses (novembro e dezembro) pelos Estados Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.

Ele escreveu cinco romances e 26 livros de poesia, o último publicado em 2008. Entre suas obras destacam-se "Ninho de Cobras", "A Noite Misteriosa", "Ode ao Crepúsculo" e "Confissões de um Poeta".

CITAÇÕES DE LÊDO IVO

O poeta não deve crer nos anjos, mas nas palavras que os criam.
O grande escritor não precisa ser nem muito inteligente nem muito culto. A inteligência e a cultura são contudo indispensáveis nos escritores menores.
A poesia é uma criação da cultura, mas esta deve permanecer invisível no poema
Nem sempre os grandes escritores são bons escritores
Na vida precisamos sempre usar máscaras, pois ninguém nos reconheceria se nos apresentássemos de rosto nu
Que eu mesmo, sendo humano, também passe mas que não morra nunca este momento em que eu me fiz de amor e de ventura.
Leitor: co-autor do texto