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Pose estreia segunda temporada e deve ser um dos destaques do Emmy 2019

Detalhe de pôster da segunda temporada de Pose - Divulgação
Detalhe de pôster da segunda temporada de Pose
Imagem: Divulgação

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

11/06/2019 04h00

De todas as séries e filmes recentes que tentaram nos transportar de volta para os anos 1980, Pose é provavelmente a mais eficiente -- e a mais realista. A série estreia hoje sua segunda temporada no canal norte-americano FX, enquanto o primeiro ano está disponível no Brasil pelo streaming Fox Play.

Pose não tem monstros, realidades alternativas, alienígenas ou assombrações para movimentar sua trama. Ao invés disso, vira o holofote para as lutas da comunidade LGBTQ+ de Nova York na época retratada, especialmente o grupo de indivíduos que se reunia ao redor da cultura dos "ballrooms".

Organizados em diferentes "casas", os homens e mulheres dessa comunidade competiam (e ainda competem, hoje em dia) em desfiles que emprestavam elementos da moda, música e cultura pop para simular e zombar, simultaneamente, de diferentes estilos e estereótipos do mundo "convencional", do qual não podiam fazer parte.

Criando um leque de personagens vívidos ao redor dessa cultura, Pose conquistou os críticos, e pode ser um dos grandes destaques da maior premiação da TV norte-americana, o Emmy 2019. Antes do nome da série ir parar na boca de todo mundo, vale conhecer um pouco mais sobre ela.

Contando história...

A primeira temporada de Pose se passa entre 1987 e 1988. No piloto, vemos como o garoto gay Damon Richards (Ryan Jamaal Swain) chega em Nova York com ambições de se tornar um dançarino, depois de ser rejeitado pela família no interior dos EUA. Após alguns dias sentindo na pele a violência urbana da metrópole e dormindo no banco de um parque, ele é acolhido por Blanca Evangelista (Mj Rodriguez).

A personagem é uma mulher transgênero, e a nossa conexão direta com o mundo dos "ballrooms". No começo da série, ela deixa para trás a "casa" da qual fazia parte, comandada pela venenosa Elektra Abundance (Dominique Jackson), a fim de fundar a sua própria. Além de Damon, ela também acolhe Angel (Indya Moore), uma prostituta transgênero que engata um affair secreto com o executivo casado Stan Bowes (Evan Peters).

Agindo como uma espécie de "paizão" para todos os jovens envolvidos na cena LGBTQ+ que nos é apresentada, o extravagante Pray Tell (Billy Porter) vira um dos destaques da série. Ao redor desses e de outros personagens, Pose espertamente discute temas como a epidemia da AIDS, que foi agravada pelo descaso de um governo que nem mesmo reconhecia a existência da doença.

A série acerta em cheio ao mostrar como essa comunidade encontrava consolo, esperança e amparo no ambiente dos "ballrooms". Acerta também ao nos mostrar, através do personagem de Peters, a cultura corporativa de culto ao "machão" que reforçava (e ainda reforça) o preconceito e as atitudes violentas e tóxicas de uma parte das pessoas em relação à comunidade LGBTQ+.

Billy Porter como Pray Tell em pôster da segunda temporada de Pose - Divulgação/IMDb - Divulgação/IMDb
Billy Porter como Pray Tell em pôster da segunda temporada de Pose
Imagem: Divulgação/IMDb

... E fazendo história

Além dos temas importantes, no entanto, Pose impressionou em sua primeira temporada pela excelência técnica. Apesar do envolvimento de Ryan Murphy, que dirige e escreve diversos episódios, a série ainda não sofreu as inconsistências narrativas que mancharam outras produções do americano, como Glee, American Horror Story e American Crime Story.

É verdade que, aqui, Murphy se cercou de talento e autenticidade. Pose reuniu o maior elenco de intérpretes transgêneros da história da TV norte-americana, com cinco atrizes negras no topo da lista -- em brilhantes atuações, Mj Rodriguez e Dominique Jackson demonstram enorme potencial dramático e, com suas colegas de elenco, rejeitam a noção de que não há talento transgênero para se contratar em Hollywood.

Rodriguez, especialmente, tem aparecido em listas de favoritas para indicação ao Emmy de melhor atriz em série dramática. Seria um feito histórico: antes dela, apenas Laverne Cox (por Orange is the New Black) representou intérpretes transgêneros na premiação televisiva, e suas duas indicações foram na categoria de atriz convidada, que não é transmitida durante a cerimônia principal.

Enquanto isso, Pose também pode levar Janet Mock às categorias de direção e roteiro, marcando outro pioneirismo para indivíduos transgêneros. Mock, que escreveu e comandou o capítulo "Love is the Message", destaque da primeira temporada, também é produtora do projeto, o que significa que seu nome estará ao lado de Murphy e cia. no caso (provável) de Pose ganhar uma indicação a melhor série dramática.

Os dias da verdade serão 16 de julho, quando as indicações ao Emmy 2019 serão anunciadas, e 22 de setembro, data da premiação. Enquanto a hora não chega, a pedida é curtir a segunda temporada de uma das melhores séries dos últimos anos.

As estrelas de Pose - Divulgação - Divulgação
As estrelas de Pose, da esquerda para a direita: Indya Moore, MJ Rodriguez, Dominique Jackson, Hailie Sahar e Angelica Ross
Imagem: Divulgação