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Diretor de fotografia de "Bacurau" acusa Bolsonaro de "chantagear" artistas

O diretor de fotografia Pedro Sotero  - Maira Iabrudi/Divulgação
O diretor de fotografia Pedro Sotero Imagem: Maira Iabrudi/Divulgação

De São Paulo

08/08/2019 14h03

Peça fundamental para o sucesso internacional dos filmes brasileiros "Bacurau" (2019) e "Aquarius" (2016), o diretor de fotografia Pedro Sotero denunciou que o presidente Jair Bolsonaro está chantageando a classe artística com ameaças de reduzir o apoio ao cinema nacional.

"Vivemos um período de muita incerteza por culpa de uma questão ideológica, o cinema brasileiro é perfeitamente viável", opinou Sotero em entrevista à agência Efe hoje, dia da estreia nos cinemas brasileiros do longa-metragem argentino "Vermelho Sol", no qual trabalhou.

O diretor de fotografia acusou Bolsonaro de "exercer terrorismo psicológico" por ameaçar fechar a Ancine (Agência Nacional do Cinema). Em julho, o presidente chegou a criticar o uso de dinheiro público para a produção de "filmes pornográficos".

"Houve tentativas de chantagem. A arte tem que ser livre, e não passar por um filtro de censura", lamentou o diretor de fotografia.

Segundo Sotero, "Vermelho Sol", dirigido pelo argentino Benjamín Naishtat, pode ser interpretado como uma metáfora sobre o que acontece no Brasil desde 1º de janeiro, quando Bolsonaro assumiu a presidência.

Neste filme, um famoso advogado toma um caminho sem volta, de morte, segredos e silêncios depois de ter sido agredido por um estranho sem motivo aparente na Argentina de meados da década de 1970, antes do golpe militar.

Trailer de Bacurau

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Na opinião do diretor de fotografia, o Brasil segue rumo ao "totalitarismo" porque "não existe debate, nem conversa, nem há espaço para a divergência".

Sotero foi premiado pela fotografia em "Vermelho Sol" no festival internacional de San Sebastián de 2018, na Espanha.

Embora não tenha comparecido para receber o prêmio, enviou uma declaração na qual dedicava a conquista ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente preso pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

"Não consigo separar a minha vida pessoal da artística. Eu devo a minha carreira às políticas que fomentaram a indústria do cinema no Brasil, como aconteceu nos governos de Lula e Dilma", afirmou.

Sotero, que mora em Recife, trabalhou em mais de dez filmes, entre eles os internacionalmente conhecidos "Aquarius" e "Bacurau", que levou o prêmio do júri no último Festival de Cannes.