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"Bolsonaro pode até gostar do filme", diz diretor de "Bacurau", premiado em Cannes

Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles posam para fotos após receberem prêmio - Regis Duvignau/Reuters
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles posam para fotos após receberem prêmio Imagem: Regis Duvignau/Reuters

Bruno Ghetti*

Colaboração para o UOL, em Cannes

25/05/2019 17h01

Os diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, vencedores do prêmio do júri do Festival de Cannes por "Bacurau", falaram agora há pouco com os jornalistas que cobrem o festival, destacando a emoção de ver o longa premiado.

"Fico feliz que o júri premiou um filme de gênero, que costuma ficar fora do radar das premiações", explicou Mendonça. "É cinema de gênero, mas é sobre o Brasil, sobre afeição, sobre uma comunidade e sobre violência."

Veja teaser de "Bacurau"

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Espécie de metáfora de resistência ao governo conservador de Jair Bolsonaro, o filme também despertou nos jornalistas questões políticas na coletiva de imprensa. A dupla de diretores lamentou os cortes à área cultural no Brasil atual.

"Temos uma construção, as coisas demoram, vimos essa construção com politicas públicas nos últimos 15 anos, mas que agora estão sendo cortadas", disse Mendonça.

"Acho que este prêmio para 'Bacurau' é irônico: há um sentimento generalizado de que o cinema está sendo cortado por dentro", comentou o diretor.

"É muito bom estar aqui, passar dez dias no festival, falar com pessoas ótimas, talentosas, perceber que o filme que desenvolvemos por quase dez anos ganhou essa enorme honra", disse Dornelles.

"Especialmente neste momento no Brasil, quando a cultura vem sendo ameaçada por esse homenzinho triste [Jair Bolsonaro]. Ontem tivemos a boa noticia, com Karim Aïnouz ganhando o Un Certain Regard. Vamos seguir fazendo filmes e enfrentar a realidade brasileira", disse.

Questionado por um jornalista sobre se convidaria o presidente da República para assistir ao longa, Mendonça respondeu que essa é uma "ideia bonita".

"'Bacurau' é uma coprodução com a França, mas metade vem de dinheiro público brasileiro, usado com honestidade e muito trabalho. Bolsonaro tem todo direito de assistir ao filme. Pode até gostar."

"Esse prêmio é uma bela resposta irônica para aqueles que acham que o que a gente faz não é necessário, não é importante ou não deve ser feito porque o país tem outras prioridades", lançou Dornelles à RFI.

"Eu discordo disso completamente, porque a educação e a cultura são prioridades e sempre foram. São a identidade de um país. Além disso, o cinema gera empregos e traz comida na mesa das pessoas, assim como a educação e a ciência."

*Com informação da RFI