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07/08/2010 - 15h53

"Não há inocência neste mundo", diz escritora iraniana Azar Nafisi

 

  • Leticia Moreira / Folhapress

    A escritora Azar Nafisi, que criticou a posição de Lula sobre o caso de iraniana condenada à morte (06/08/2010)

PARATY, Rio de Janeiro, Brasil, 7 Ago 2010 (AFP) - As controversas relações entre os governos do Irã e do Brasil foram intensamente abordadas durante a Feira Literária de Paraty, que conclui neste domingo (8), na cidade histórica do Rio de Janeiro.

Os comentários mais fortes partiram da escritora iraniana Azar Nafisi, autora do best seller "Lendo Lolita em Teerã" (2004).

Em mesa literária realizada na noite de sexta-feira (6), Nafisi criticou a reação do governo do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao caso da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento em seu país.

"Soube que o presidente Lula, no início, disse que não cabia a ele intervir. Antes de tudo, não intervindo, você está intervindo. Não há inocência neste mundo", disse Nafisi, de 54 anos, que em 1981 foi expulsa da Universidade de Teerã, onde ensinava Literatura, por se recusar a usar o véu.

Leticia Moreira / Folhapress
Lula pensa que este
cara é seu amigo. Ele apedreja cidadãos até a morte. Como pode ser seu amigo?

Azar Nafisi, sobre o presidente iraniano Mamhoud Ahmadinejad

"Ele (Lula) disse: 'Eu peço ao meu amigo, Sr. Ahmadinejad, se esta mulher o deixa desconfortável, mande ela para o Brasil'. Esta mulher não está deixando ninguém desconfortável, é o presidente Ahmadinejad que está deixando esta mulher desconfortável matando-a", afirmou a escritora, que foi ovacionada pelo público.

"Lula pensa que este cara (Ahmadinejad) é seu amigo. Este cara apedreja seus cidadãos até a morte. No Brasil não há pena de morte. Como ele pode ser seu amigo?", concluiu Nafisi.

Anteriormente, o escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie havia manifestado apoio ao Brasil em seus esforços diplomáticos salvar Ashtiani, durante um encontro com a imprensa no mesmo evento.

"Ficaria feliz se qualquer nação pudesse ajudar neste caso. Porque isso tem que ser resolvido sem que esta pobre mulher seja executada. Se o governo brasileiro for capaz de ajudar, isso seria uma coisa excelente", disse Rushdie.

Sakineh Mohammadi-Ashtiani, 43 anos, mãe de dois filhos, foi condenada em 2006 por ter mantido uma "relação ilegal" com dois homens, após a morte de seu marido por "assassinato".

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva propôs no dia 31 de julho asilo a Sakineh Mohammadi-Ashtiani, uma oferta apoiada por Washington, mas que as autoridades iranianas negaram.

 

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