O historiador Robert Darnton debate o futuro do livro impresso na Flip (05/08/2010)
Qual é o futuro do livro na era digital? A pergunta é feita repetidamente já há alguns anos, mas ninguém ainda sente-se seguro para responder. A questão serviu de pretexto para dois dos mais interessantes debates na Festa Literária de Paraty.
No primeiro, realizado na noite de quinta-feira, os historiadores Robert Darnton e Peter Burke trataram do problema sob uma perspectiva histórica. No segundo encontro, na manhã de sexta, novamente com Darnton e o editor John Makinson, CEO da Penguin, o foco foi a problemática atual.
Atual diretor da biblioteca da Universidade Harvard, Darnton se disse menos preocupado com o futuro do livro propriamente do que com o direito de propriedade intelectual e o acesso livre à cultura. Por este motivo, o Google é hoje objeto de suas mais sérias críticas.
"O Google digitalizou 2 milhões de livros cujos direitos caíram no domínio público. E agora eles pretendem ganhar dinheiro com isso".
O historiador não vê problemas na venda de espaço publicitário, mas acha inadmissível que se cobre do público. "É preciso democratizar o patrimônio cultural".
"O Google digitalizou 2 milhões de livros cujos direitos caíram no domínio público. E agora eles pretendem ganhar dinheiro com isso"
Robert Darnton na FlipA Universidade Harvard possui 14 milhões de livros. O Google, segundo Darnton, ofereceu digitalizar esse acervo de graça, para depois cobrar dos usuários o acesso aos livros. "É inaceitável. O Google está criando o maior monopólio que já vimos. É um perigo deixar este trabalho na mão de uma empresa cujo principal objetivo é o lucro de seus acionistas".
Darnton sonha com a criação de uma biblioteca nacional digital, sustentada por recursos públicos e privados, e acessível a leitores do mundo inteiro. "É uma alternativa ao monopólio".
Num momento mais ameno de sua participação, Darnton contou uma anedota. No banheiro da Universidade de Princeton, alguém escreveu: "Deus está morto. Assinado: Nietzsche". Alguns dias depois, apareceu outra pichação. Dizia: "Nietzsche está morto. Assinado: Deus". A historinha ilustra bem, segundo ele, a dificuldade em afirmar que o livro, tal como o conhecemos, está morrendo.
"Um milhão de livros serão impressos este ano no mundo. É um absurdo dizer que o livro morreu", disse Darnton. Mas não pense que ele seja ingênuo. "O futuro é digital, obviamente. Mas isso não significa que o livro impresso está morto. Pelos próximos 10, 20 anos vamos viver uma fase de transição", prevê.
Os historiadores Robert Darnton (e) e Peter Burke (d) debatem futuro do livro na Flip (05/08/2010)
No encontro de Darnton com o também historiador Peter Burke, ambos surpreenderam o público com seus elogios à Wikipédia. Burke, autor de "Uma História Social da Mídia", é o mais entusiasmado. "As enciclopédias sempre representaram o saber, a verdade. Gosto do aviso de que a Wikipedia não garante a validade dos artigos ou que determinado texto pode conter viés político".
Na visão de Burke, usando a Wikipedia as crianças são encorajadas a não acreditar em algo simplesmente porque está escrito. Darnton também elogiou a enciclopédia colaborativa online e lembrou que ela está em sua segunda fase de autocrítica.
Burke se disse "semi-otimista, ou semipessimista, como vocês preferirem" quanto ao futuro do livro. O historiador não teme o desaparecimento da obra impressa nas próximas duas décadas, mas acha que ele vai perder espaço e importância. "Vamos assistir a um 'downsizing' do livro em relação a outras mídias e os livros que sobrarem serão menores", previu.
Pior que a rejeição a livros grandes, Burke lamenta que as novas gerações percam a habilidade de ler com calma, sem pressa. "'Slow reading' e 'slow food' são importantes para a humanidade", disse.
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