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Festival de Berlim: Bardem revela que tinha medo de atuar com Salma Hayek

Salma Hayek, Elle Fanning, a diretora Sally Potter e ator Javier Bardem na exibição do filme The Roads Not Taken, no Festival de Berlim  - Tobias Schwarz/AFP
Salma Hayek, Elle Fanning, a diretora Sally Potter e ator Javier Bardem na exibição do filme The Roads Not Taken, no Festival de Berlim Imagem: Tobias Schwarz/AFP

Mariane Morisawa

Colaboração para o UOL em Berlim

26/02/2020 13h19

Javier Bardem, Elle Fanning e Salma Hayek deram ar hollywoodiano à competição do 70º Festival de Berlim com a exibição de "The Roads Not Taken", da inglesa Sally Potter hoje. A diretora se baseou em sua própria vida para criar o filme.

"Meu irmão, infelizmente, teve ainda jovem uma forma de demência, e eu cuidei dele por dois anos, até sua morte", contou ela na coletiva após a sessão de imprensa. "Mas aprendi muito sobre a mente. Nem sempre a doença é uma deficiência. Talvez, dentro da tragédia, haja espaço para realidades paralelas, viagem no tempo e no espaço. Respeito muito as pessoas nesse estado e quem cuida das pessoas nesse estado".

O tema era tão delicado que entre o início do projeto e a finalização, Potter dirigiu outro filme, "A Festa". "É um filme longo para digerir e desenvolver", disse a cineasta. "O momento chegou quando Javier tornou-se Leo, e Elle tornou-se Molly."

Na trama, que se passa em um dia, Bardem é o imigrante mexicano Leo, que sofre um tipo de doença neurológica, possivelmente demência. Ele fala de forma incoerente, não parece se lembrar de muita coisa, está ausente. Sua filha Molly (Elle Fanning) é a responsável por cuidar dele, levá-lo ao dentista e ao oftalmologista, com resultados dramáticos e cômicos ao mesmo tempo. Mas, em sua cabeça, ele está em outras partes. Está escrevendo um livro na Grécia ou vivendo com Dolores (Salma Hayek) no México.

"The Roads Not Taken" (que pode ser traduzido como "os caminhos não percorridos") trata daquelas possibilidades da vida que ficaram para trás. As várias vezes que questionamos: "e se?". Mas também é muito sobre a relação especial entre um pai e uma filha - e essa é a parte que mais dá certo. Bardem e Fanning não se parecem fisicamente (a mãe de Molly é interpretada por Laura Linney), mas há química entre os dois.

Fanning, 21, disse ter ficado nervosa de trabalhar com o ator espanhol. "É o Javier Bardem!", disse. "Eu sabia que para interpretarmos esse relacionamento tínhamos de nos conhecer. Por sorte, a Sally gosta muito de fazer ensaios profundos. Falamos muito da vida, das nossas memórias, de experiências de proximidade com a morte. Num dia da preparação, ela estava doente, e ele trouxe Coca-Cola e biscoitos. Como se fosse meu pai mesmo", disse a atriz. "Quando começamos a filmar, já estávamos no clima", completou.

Bardem agradeceu à diretora por tê-lo deixado explorar coisas que precisava para ser esse pai. "Ela foi corajosa", disse o ator. "Me senti amado pela Elle. E estava doido para trabalhar com Salma, só fiquei morrendo de medo de falar espanhol com sotaque mexicano", brincou.

Salma Hayek foi só elogios. "Que oportunidade única poder trabalhar com meu ator favorito no mundo e falando espanhol! Mas foi engraçado, porque ele é casado com a minha melhor amiga (a atriz espanhola Penélope Cruz). Quando ouvi Javier falando com sotaque, achei que tinha algo errado com ele."