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Porta dos Fundos: Netflix vai ao STF e diz 'apoiar a expressão artística'

Gregório Duvivier é Jesus gay em especial de fim de ano do Porta dos Fundos na Netflix - Reprodução/Netflix
Gregório Duvivier é Jesus gay em especial de fim de ano do Porta dos Fundos na Netflix Imagem: Reprodução/Netflix

Do UOL, em São Paulo

09/01/2020 15h20

Resumo da notícia

  • Especial de Natal causa polêmica por mostrar Jesus gay e Deus mentiroso
  • Netflix não foi oficialmente notificada pela Justiça
  • Decisão vem após o atentado à sede da produtora carioca

A polêmica envolvendo o especial de Natal do Porta dos Fundos para a Netflix continua. Depois de diversas ameaças de boicote e de um atentado à sede da produtora, no Rio de Janeiro, ontem, a Justiça do Rio determinou a retirada do título do catálogo do serviço de streaming.

A Netflix, que inicialmente disse que não iria se manifestar, enviou ao UOL, na tarde desta quinta-feira, um pequeno comunicado: "Nós apoiamos fortemente a expressão artística e vamos lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias".

Fontes do UOL afirmam que a plataforma de streaming sequer recebeu a notificação judicial e que, portanto, o conteúdo continua disponível para os assinantes. A Netflix teria entrado com uma reclamação —e não com um recurso— no Supremo Tribunal Federal.

O Porta dos Fundos, por meio de sua assessoria de imprensa, também se manifestou: "O Porta dos Fundos é contra qualquer ato de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo e tudo aquilo que não esperávamos mais ter de repudiar em pleno 2020. Nosso trabalho é fazer humor e, a partir dele, entreter e estimular reflexões".

Leia a nota do Porta dos Fundos na íntegra

"O Porta dos Fundos é contra qualquer ato de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo e tudo aquilo que não esperávamos mais ter de repudiar em pleno 2020. Nosso trabalho é fazer humor e, a partir dele, entreter e estimular reflexões

Para quem não valoriza a liberdade de expressão ou tem apreço por valores que não acreditamos, há outras portas que não a nossa. Seguiremos publicando nossos esquetes todas as segundas, quintas e sábados em nossos canais.

Por fim, acreditamos no Poder Judiciário em manter a defesa histórica da Constituição Brasileira e seguimos com a certeza que as instituições democráticas serão preservadas".

Entenda o caso

O TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) determinou nesta terça-feira (7) que a streaming Netflix tire do ar o especial de Natal do grupo Porta dos Fundos, intitulado A primeira tentação de Cristo. O programa, que estreou em dezembro, provocou polêmica ao satirizar histórias bíblicas, retratando Jesus Cristo como um homem gay e um triângulo amoroso entre José, Maria e Deus.

A decisão liminar (provisória) que determina a censura ao filme foi concedida pelo desembargador Benedicto Abicair, da Sexta Câmara Cível do TJ-RJ, a pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura —uma entidade conservadora católica.

O desembargador justificou a medida "para acalmar os ânimos" —na véspera de Natal, um grupo neofascista atirou coquetéis molotov contra a sede do Porta dos Fundos, no Humaitá, zona sul do Rio. Eduardo Fauzi Richard Cerquise, que se encontra foragido na Rússia, teve decretada a prisão provisória por suspeita de tentativa de homicídio por explosão. A polícia tenta identificar outros quatro suspeitos.

Na decisão, Abicair diz que o pedido para retirar do ar o programa é "mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã, até que se julgue o mérito do agravo".

Abicair disse que o Ministério Público do Rio se manifestou favoravelmente à decisão, segundo o magistrado, em razão do que definiu como "abuso do direito de liberdade de expressão através do deboche e do escárnio com a fé cristã".