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His Dark Materials: 2ª temporada mostrará diferenças entre mundos paralelos

His Dark Materials: Ruth Wilson e seu "dimon", Macaco, em cena da série da HBO - Divulgação/HBO
His Dark Materials: Ruth Wilson e seu "dimon", Macaco, em cena da série da HBO
Imagem: Divulgação/HBO

Eduardo Pereira

Do UOL, em São Paulo

07/01/2020 04h00

A segunda temporada de His Dark Materials vai abrir de vez as portas do multiverso da série, explorando as particularidades das realidades alternativas àquela destacada em seu primeiro ano. Quem afirmou isso foi a atriz Ruth Wilson, em entrevista concedida ao UOL na companhia do colega de elenco Clarke Peters, durante passagem pelo Brasil para a CCXP 2019.

"Há questões sendo perguntadas, ao mudarmos de um mundo para o outro, sobre como as pessoas se ajustam a isso: o telefone celular, em um mundo, não é o mesmo que em outro lugar", exemplificou Peters. "Você vê isso acontecendo na segunda temporada", prometeu Wilson.

Produzida pela BBC e pela HBO (que a distribui fora do Reino Unido), a série de TV adapta a trilogia Fronteiras do Universo, do escritor britânico Phillip Pullman. Nela, a dominância de uma entidade religiosa totalitária conhecida como o Magistério é colocada à prova pela jornada de duas crianças e suas almas (no universo dos livros, animais sencientes chamados "daemons" no original ou "dimons" em algumas traduções, que refletem a personalidade de seus donos) em busca da verdade sobre a Poeira, uma partícula que acredita-se ser a chave para o acesso e a exploração de mundos paralelos —conceito proibido pelo Estado.

Wilson dá vida à misteriosa Marisa Coulter, introduzida como nova guardiã da protagonista Lyra (Dafne Keen, de Logan) e detentora de mistérios que a ligam tanto ao Magistério, quanto aos acadêmicos que desafiam as sanções da entidade religiosa. Entre os estudiosos, o personagem de Peters (O Reitor) equilibra seu compromisso com a Academia e a inevitável subserviência ao regime opressor —concessão necessária para garantir alguma liberdade de pensamento.

"Todos deveríamos ter acesso ao conhecimento. Você pode não querer fazer uso disso, pode não significar nada a você, mas temos de ter a liberdade para seguir em frente e explorar a História", Peters ecoa as ambições de seu personagem. Em His Dark Materials, O Mestre é o primeiro guardião de Lyra e encorajador da jornada da garota; ainda assim, não deixa de protagonizar atos terríveis, ainda que em nome de um bem maior —uma temática recorrente na obra de Pullman: os tons de cinza que compõem a moralidade humana. "Eu não gostaria de ser a pessoa que toma essa decisão", brincou.

"Como atores, nós temos de investigar por que as pessoas fazem o que fazem e de onde isso parte, empatizar com esses personagens para entender onde esse desejo habita", elaborou Wilson. "Encontrar humanidade nela, isso é o que faz [o trabalho] profundamente interessante", adicionou sobre Marisa Coulter. Sua personagem, muito mais que o Mestre, mergulha em muitas situações sombrias ao longo da narrativa.

His Dark Materials estreou em novembro de 2019, com sua segunda temporada já gravada. Produzidos pelo cineasta Tom Hooper (que vem sofrendo com uma avalanche de críticas ao seu novo filme, o musical Cats), os sete episódios do primeiro ano adaptaram o volume inicial da trilogia de Pullman, A Bússola de Ouro, enquanto o segundo ano deve mergulhar na continuação, A Faca Sutil. Não há confirmação, mas tudo indica que Hooper segue como produtor. Se voltará a assinar a direção de algum episódio da trama (o que fez nos dois primeiros da temporada de lançamento), não se sabe.

Era da pós-verdade e jornada de autoconhecimento

Em His Dark Materials, o Magistério usa todos os recursos possíveis para engessar o acesso da população ao conhecimento, manipulando e distorcendo a narrativa histórica com o objetivo de garantir a manutenção e expansão de seu poder. A questão mostra a atualidade do texto da metade dos anos 1990: atualmente, o mundo se preocupa com os recorrentes escândalos de envios em massa de mensagens falsas por aplicativo, uso de bots em campanhas de difamação ou propaganda e outras táticas que "armamentizam" a tecnologia para a manipulação da opinião pública.

Clarke Peters como O Mestre em His Dark Materials - Divulgação/HBO - Divulgação/HBO
His Dark Materials: Clarke Peters em cena como O Mestre, na série da HBO
Imagem: Divulgação/HBO

"As notícias foram manipuladas e transformadas em armas, em propaganda, para que assim nos encontremos em uma era da pós-verdade [em que até fatos consolidados são questionados, fazendo assim com que mentiras se passem por realidade]", analisou Peters. Para ele, assim como na trama da série, o acesso direto à educação de qualidade é única saída para combater esse movimento, mas esbarra na desigualdade. "Você tem que ter certas chaves para conseguir entrar nas certas bibliotecas, onde há informação que todos deveríamos ter, e eu não gosto disso".

Marionetes e psicologia animal

Além de funcionar como crítica religiosa e política, His Dark Materials também trabalha conceitos filosóficos enraizados na psicologia, como a existência da alma e o papel da consciência. Um dos elementos mais importantes nessa construção metafórica, os "daemons", são criados com computação gráfica para o corte final, mas dão as caras na forma de marionetes rebuscadas durante as gravações.

"Nós ensaiamos logo no começo e nós todos nos demos conta que precisávamos de alguma presença física no ambiente, para ver como eles se moveriam", explicou Wilson. "Eles movem com sentimento e emoção, então você está realmente interagindo com outro personagem". A Sra. Coulter vive acompanhada de um macaco, com quem não tem a melhor das relações, já que vê refletido nele aquilo que crê ser o pior de si.

"Eles odeiam um ao outro. Eles não suportam a companhia um do outro, em um quarto só deles", Wilson detalhou. "Quando eles estão em público, eles trabalham super bem, manipulam a sala e sabem o que estão fazendo, mas em casa, não conseguem suportar estarem no mesmo espaço, porque ela não consegue olhar para ela mesma".