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Laerte admite medo do governo Bolsonaro: "Quem tem c* tem medo"

Painel com a Laerte na CCXP 2019 - LEONARDO RODRIGUES
Painel com a Laerte na CCXP 2019 Imagem: LEONARDO RODRIGUES

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

05/12/2019 17h13

Falando sobre política no auditório Prime da CCXP, ao lado do quadrinista Rafael Coutinho, a cartunista Laerte admitiu ter medo do atual governo brasileiro, que para ela tende a um autoritarismo censor e radical, o que abre espaço para uma arte mais radical. Não que essa seja exatamente a proposta da artista.

"Humor doutrinador? Acho que às vezes é necessário induzir determinada resposta política. Em momentos de campanha, momento de denúncia. Algumas vezes você precisa engajar. Não gosto muito disso, pessoalmente. Prefiro trabalhar o autoquestionamento. Em me surpreender no meu trabalho", afirmou ela, após ser questionada sobre como se sente sobre o governo.

"Claro que eu tenho medo dele. Quem tem c* (tem medo), né?", brincou ela. "Mas vejo que essa evidência do autoritarismo pode servir para gente conduzir uma frente de enfrentamento a esse fascismo. Porque é fascismo, sim. Embebido em fanatismo religioso, machismo, racismo. Um repertório banhado de ódio.

Na conversa aberta ao público, Laerte e Rafael concordaram que hoje existem artistas engajados que representam o que os chargistas dos anos 70 e 80 sinalizavam politicamente na oposição ao regime militar.

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"É o momento de reunir artistas novos. Hoje existem, sim, respostas ao governo no humor. Existem novos jornais Pasquins. O Porta dos Fundos é um novo Pasquim", comparou Laerte, que admitiu que ele é sua geração demoraram para entender os quadrinhos como ferramenta para expressão de ideias políticas, uma tendência em meio à massificação intensa dos formatos.

"Quando trabalhava dentro do jornalismo nos 70 e 80, usávamos muito a charge politicamente. Nos quadrinhos começamos já com a ditadura nos estertores. Nesse momento, fatos culturais fizeram muitos artistas pararem de desenhar. Porque antes, no tempo da censura braba, cartunistas tinham uma proeminência. Era difícil o censor localizar o autor. Isso atraiu muita gente."