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Lovefoxxx dá tempo na vida pacata para bater cabelo na volta do Cansei de Ser Sexy

Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy - Reprodução/Instagram
Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy Imagem: Reprodução/Instagram

Liv Brandão

Colaboração para o UOL

22/10/2019 04h00

Luísa "Lovefoxxx" Matsushita, o furacão espevitado à frente do Cansei de Ser Sexy, não é mais a mesma menina que ganhou o mundo com sua banda. Aos 35 anos, trocou o fervo de São Paulo pela tranquilidade de Garopaba, em Santa Catarina, isso depois de um retiro na Amazônia.

No lugar dos palcos, uma vida ao ar livre: no quintal de casa, ela mesma planta os vegetais que consome e, nas horas vagas, pega a prancha de bodyboard para surfar. O mais perto de que chegou da música desde 2014, quando o grupo de hits como Alala e Superafim tocou pela última vez, em Hong Kong, foi por playlists randômicas do streaming ("não canto nem no chuveiro").

Só que agora ela está de figurino pronto para encarar a volta do CSS ao lado das antigas companheiras Luiza Sá, Ana Rezende e Carolina Parra, substituindo a banda americana Beirut como atração do festival Popload, que acontece em São Paulo, em 15 de novembro.

O UOL conversou com Luísa, que, ao som de passarinhos, confessou estar morrendo de saudades de "bater o cabelo" e contou o que andou fazendo
nesse meio tempo.

Retorno aos palcos

"O Cansei de Ser Sexy nunca acabou, sempre falamos que era uma pausa. Estávamos com o carro parado na garagem e agora estamos correndo para colocar gasolina", justifica Lovefoxxx, sempre rindo.

"A gente já estava a fim de fazer uns shows, mas a logística estava difícil. As meninas (Luiza Sá, Ana Rezende e Carolina Parra, companheiras de banda) moram em Los Angeles e eu em Garopaba. Quero que todo mundo se divirta como a gente sempre se divertiu no palco, quero chegar lá em cima e olhar todo mundo no olho, curtir o momento", diz ela, pedindo para reforçar que esse será o único show do CSS em 2019.

Projetos durante o hiato

"Já naquela época eu tinha um desejo muito grande de explorar outras coisas", diz ela, que se envolveu com projetos de agrofloresta e que também dá expediente como artista plástica, tendo exposto em galerias da Califórnia e do Amazonas.

Dos 19 aos 30 anos eu fiquei muito focada na banda que, apesar de todo o sucesso, foi algo que eu nunca levei muito a sério. Daí resolvi fazer coisas sérias, como plantar, mas tudo ficou muito sério e agora quero bater cabelo.

"Eu falo sempre com as meninas, elas se veem muito em Los Angeles, e eu já encontrei com elas por lá. A Carol é chef de cozinha. A Luiza faz som direto para audiovisual, já trabalhou com o Mike Mills (diretor de Toda Forma de Amor, de 2010), e a Ana produz shows e eventos, que é algo que ela sempre fez na banda", conta Luísa.

"Já eu comecei a estudar questões de casa auto-sustentável, permacultura, estudo agroflorestas e trabalho com a multiplicação de sementes crioulas", diz a cantora, que planta - atenção para a lista! - banana, inhame, cúrcuma, abacate, limão, flores, melancia, milho, cana, mamona, ora pro nobis, bucha, peixinho, girassol, tomate, aveia, abóbora, gengibre, feijão, mandioca, isso sem falar nas hortaliças, ufa!

Bafão com Adriano Cintra

Luísa fala de boas sobre Adriano, principal compositor do CSS, com quem o restante da banda teve um arranca-rabo que respingou para as redes sociais em 2011. Pouco tempo depois, eles se acertaram, os insultos foram apagados e a vida seguiu. Adriano atualmente vive em Portugal.

"Não guardo rancor. A gente se fala por mensagem do Instagram, mas não temos mais um relacionamento. Somos amistosos, e mesmo depois de todo o bafão que aconteceu não guardo rancor. Ele até comentou a nossa volta com um coraçãozinho vermelho".

Fotolog x Instagram

O Cansei de Ser Sexy nasceu de uma conta no Fotolog e o substituto contemporâneo do álbum de fotos online também tem sua importância para o retorno da banda.

Nossos fãs no Instagram são umas bicha muito engraçada, é uma galera muito incrível. Deu saudade. Inclusive, nosso setlist do Popload foi decidido por meio de uma pesquisa no Instagram, um método muito científico.

O show no Popload

Falando em setlist? quem espera músicas inéditas, pode esperar sentado.

Acho um saco quando o artista volta e em vez de tocar o que os fãs querem ouvir tocam música que ninguém conhece. Nossos shows sempre foram meio básicos, com direção de arte de festa de criança, uma coisa meio tosca. O que a gente está trabalhando de mais especial são uns vídeos para os telões e só.

"Vai ser um show para agradar os fãs, porque a gente já está muito feliz de se reunir. A última vez que a gente tocou em São Paulo foi no Clash, em 2011!", relembra. "Tem a coisa da moda? a real é que as únicas que ligavam para moda na banda éramos eu e a Ira (Iracema Trevisan, baixista, que deixou o grupo em 2008).

"Eu passei duas semanas costurando um figurino, quero só terminar de acrescentar uns detalhes, vai ser um look bem color-blocking. Já as meninas ficam 'sei lá, vai estar quente, vou levar uma camiseta'", conta.

Vão rolar mais shows?

"A gente tem vontade fazer mais shows, mas não estamos indo atrás. No Cansei de Ser Sexy tudo aconteceu naturalmente, sempre funcionou assim", explica. "Mesmo quando morávamos mesma cidade, já trabalhávamos remotamente, pela internet. É uma coisa normal e estamos fazendo isso de novo. A Carol faz uns beats e me manda. A Luiza grava a guitarra, e eu mando só o vocal separado. É como a meninada faz música hoje em dia também".

Já temos várias demos, mas não queremos a pressão de lançar nada, a gente está só escrevendo e gravando pela graça de fazer música. Tá, vai, a gente até tem uns planos, mas que são secretos.

"Nosso novo som está um pouco diferente, encontrei uma voz diferente, mais grave, mais parecida com o jeito que eu falo, estou explorando mais esse lado. Mas nesse meio tempo eu não cantei nem no chuveiro, eu não sou cantora, eu sou causadora!".

Vida de artista x "vida na roça"

Não sinto falta dos holofotes, acho isso bem chato. Para falar a verdade detestava dar entrevista para aquele bando de homem velho que ficava admirado de a gente postar nossas músicas na internet em 2003. Duh, sabe? Tenho é saudade dos rolês com as meninas. O que mais une nós quatro desde sempre é o nosso humor, a gente gosta de ver vídeo no YouTube e dar risada junta, gostamos da zoeira. Parece tão superficial, mas é super-importante.

Atualmente, Luísa mora "em um barraco" (palavras dela!) de madeira de 12 metros quadrados decorado com alguns móveis e suas obras. "Vim para Santa Catarina para ter mais qualidade de vida, ficar mais perto do mar, me preocupo muito com sustentabilidade e levo um estilo de vida muito barato. Gasto R$ 40 por mês de contas da casa, meu lazer é plantar e surfar".

Nostalgia

De revelação da música ao baile da saudade: sim, com o revival dos anos 2000, o CSS já é tocado em muita festinha de nostalgia por aí. "É bem louco", avalia Luísa. "Às vezes chegam uns velhos falando que ouviam a gente na adolescência. Mas o que importa é que estamos saudáveis e somos relevante para nós mesmas, não viramos personagens, não queremos ser o que éramos antes. Somos honestas e independentes. Acho muito triste quando uma banda dos anos 1980 volta e quer ser o que era naquela época, uma coisa meio vovô gatinho. A gente não é vovó gatinha, a gente é só gatinha!".

Anitta

"Eu ouço música por streaming, quase não sei nome de artista nenhum, deixo tocando lá e só. Ouço música assim desde 2012 e o algoritmo já me conhece muito bem. Também não sou muito de música brasileira, mas tenho amado a Sara Hebe, uma argentina, ela faz uma cumbia nervosona. Ah, amei o disco da Letrux (Letrux em Noite de Climão, de 2017), acho ela divertida, fodona, sincera. Gostei muito de uma música que explica o conceito da chuva, que é linda? é do... deixa eu ver? Jaloo! Nem sei se as outras músicas dele são boas, mas essa, chamada Chuva, é demais. Também gosto da Dona Onete e do BaianaSystem, mas nunca vi show de nenhum dos dois", diz ela, ao ser indagada se viu dois dos melhores shows ao vivo da atualidade no Brasil.

Sobre Anitta, com quem o CSS teve uma divertida interação no Twitter anos atrás (a cantora respondeu um elogio da banda "cantando" a letra de Superafim), ela diz não acompanhar muito. "Mas acho incrível que a gente tenha uma diva, uma popstar que canta, dança, arrasa, que tá fazendo o que ela quer. Fico impressionada com o volume de trabalho que ela faz, ela é babado".

POPLOAD FESTIVAL 2019

Com shows de Patti Smith, The Raconteurs, Hot Chip, Tove Lo, Cansei de Ser Sexy, Little Simz, Khruangbin, Boy Pablo, Luedji Luna e o bloco Ilê Aiyê
Quando: 15 de novembro
Onde: Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 - Barra Funda, São Paulo)
Horários: Abertura dos portões às 10h; início dos shows às 10h45
Ingressos: pista R$ 580 (inteira), pista premium R$ 800 (inteira)
Onde comprar: www.ticketload.com e bilheteria do Unimed Hall