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"Cargo, só entrego morto", diz Roberto Alvim após críticas a Fernanda Montenegro

Roberto Alvim fala sobre polêmica envolvendo Fernanda Montenegro - Reprodução/YouTube
Roberto Alvim fala sobre polêmica envolvendo Fernanda Montenegro Imagem: Reprodução/YouTube

Do UOL, em São Paulo e no Rio

09/10/2019 22h54

Roberto Alvim, diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, disse em entrevista que está sendo vítima de "um ativismo judicial orquestrado", mas negou que irá deixar o cargo, depois de fazer fortes críticas à atriz Fernanda Montenegro.

Alvim usou seu Facebook em setembro para atacar a atriz de 89 anos. Na publicação, o dramaturgo usa palavras como "sórdida" para descrevê-la.

O texto escrito por ele surgiu em consequência da capa para a edição de outubro da revista literária Quatro cinco um, em que Fernanda é retratada como uma bruxa sendo queimada em uma fogueira de livros.

"O que eu fiz não foi um ataque, foi uma resposta. A Fernanda Montenegro tirou uma foto para uma revista vestida de bruxa, amarrada em uma fogueira de livros, prestes a ser queimada. Então, o que ela estava projetando naquela imagem era a de que o Brasil vive em um estado totalitário, que o Brasil queima vozes discordantes em fogueiras. Ora, bolas. O presidente Bolsonaro alguma vez queimou pessoas ou prendeu vozes discordantes? O governo de Jair Bolsonaro é qualquer coisa, menos estado totalitário", rebateu ele, durante entrevista ao canal "Na Lata", de Antonia Fontenelle, no YouTube. (Assista a entrevista, na íntegra, abaixo)

"A Fernanda teve uma atitude infantil, mentirosa e canalha. Canalha por quê? Porque a atitude canalha distorce os fatos ao seu bel-prazer, visando promover uma ideia que não encontra nenhum embasamento", completou.

Após o episódio, Alvim afirma que está sendo vítima de um "ativismo judicial orquestrado" e que ao menos sete processos foram abertos contra ele.

"Hoje chegou pra mim uma intimação judicial exigindo uma indenização de R$ 30 mil para Fernanda Montenegro, assinada pela SATED, que é a sociedade de atores do Rio de Janeiro. Eles se sentiram, como classe teatral, agredidos. Formou-se um exército inteiro. Pelo que eu soube estão sendo feitos sete processos contra mim. O que eles [opositores] estão fazendo é um ativismo judicial orquestrado, brutal, contra um único indivíduo. Único artista do teatro brasileiro que teve a coragem de se declarar alinhado com os princípios e valor do presidente Jair Bolsonaro. Eles estão querendo me matar. Quando eu digo 'querendo me matar', eu tenho mais de 40 ameaças de morte diretas", revela.

Em seguida, o diretor da Funarte protesta. "Eles querem que eu fique calado e não faça nada", disse ele, ao ser interrompido por Fontenelle. "Ou que você entregue o cargo...", sugeriu ela. "É, entregar o cargo, eu só entrego morto", afirmou Alvim.

Ontem, o lançamento do livro de Fernanda Montenegro em um shopping do Leblon, na zona sul do Rio, foi marcado pelo reconhecimento da atriz como símbolo de resistência contra cortes na cultura e denúncias de censura a projetos artísticos. Críticas ao governo Jair Bolsonaro assim como apoio à atriz ante o episódio envolvendo Alvim permearam os discursos de artistas que compareceram ao evento.

A atriz Fernanda Torres comentou as críticas do diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte à sua mãe. "Está acontecendo muita injustiça no mundo. Ninguém merece. Aconteceu uma agressão a ela e rolou uma corrente de amor para a mamãe. Pessoas de idades, gerações e classes sociais diferentes começaram a se manifestar. Ao invés de rebaterem com ódio, vieram com amor. E isso foi lindo, incrível. É o reconhecimento a uma brasileira que tem a vida limpa, ligada à arte e à cultura", disse ela.