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"Classe podre": diretor da Funarte chama Fernanda Montenegro de "sórdida"

Fernanda Montenegro na capa da edição de outubro da revista Quatro Cinco Um - Reprodução/Instagram
Fernanda Montenegro na capa da edição de outubro da revista Quatro Cinco Um Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

23/09/2019 15h13

Roberto Alvim, diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, usou seu Facebook na noite de ontem para atacar Fernanda Montenegro. Na publicação, o dramaturgo usa palavras como "sórdida" para descrever a atriz de 89 anos.

O texto escrito por ele surgiu em consequência da capa para a edição de outubro da revista literária Quatro cinco um, em que Fernanda é retratada como uma bruxa sendo queimada em uma fogueira de livros.

"Um amigo meu, bem-intencionado, me perguntou hoje se não era hora de mudar de estratégia e chamar a classe artística pra dialogar. Não. Absolutamente não. Trata-se de uma guerra irrevogável. A foto da sórdida Fernanda Montenegro como bruxa sendo queimada em fogueira de livros, publicada hoje na capa de uma revista esquerdista, mostra muito bem a canalhice abissal destas pessoas, assim como demonstra a separação entre eles e o povo brasileiro", escreveu Alvim.

"Temos, sim, que promover uma renovação completa da classe teatral brasileira. É o único jeito de criarmos um renascimento da Arte no Teatro nacional. Porque a classe teatral que aí está é radicalmente podre e com gente hipócrita e canalha como eles, que mentem diariamente, deturpando os valores mais nobres de nossa civilização, propagando suas nefastas agendas progressistas, denegrindo nossa sagrada herança judaico-cristã, bom - com essa corja. Não há dialogo possível", concluiu.

APTR rebate

Após as declarações de Roberto Alvim, a Associação dos Produtores de Teatro (APTR) emitiu um comunicado repudiando as declarações feitas pelo diretor da Funarte. Leia a nota completa abaixo:

"A APTR repudia veementemente as declarações do diretor de Artes Cênicas da Funarte, Sr. Roberto Alvim, em suas redes sociais, onde classifica o não diálogo com a classe artística como uma "guerra irrevogável".

Com a mesma intensidade, repudiamos a classificação da fala de dona Fernanda Montenegro como infantil, mentirosa e canalha. É absolutamente inadmissível que uma atriz com a sua trajetória seja atacada em seu livre exercício de expressão.

Desde que o mundo é mundo, as identidades de todos os povos são construídas através de símbolos, plenos de significados, originando histórias transmitidas de geração em geração. Por este motivo, quando o objetivo é destruir algo, o alvo é sempre o sagrado, o simbólico ou aquilo de maior valor afetivo.

Como cidadão, o Sr. Roberto Alvim pode expressar opinião, independentemente do campo social, cultural e ideológico. Já como gestor público de relevância nacional - ou seja, representando o país como um todo - o mesmo deveria atentar-se à natureza do seu cargo, pautando-se pelo respeito à classe que representa e aos profissionais consagrados por sua atuação.

Cuidar da cultura como um importante setor para a economia e a formação de um país trata-se de um exercício diário, ético e respeitoso. O mesmo se aplica ao cuidado que deveria ser adotado ao se referir a uma atriz como Fernanda Montenegro, um símbolo da identidade nacional, com reconhecimento em todo o mundo.

Persistiremos na busca pelo diálogo, pela liberdade de expressão, pelo afeto ao fazer artístico e cultural de nosso país. Tudo isso de forma civilizada e com total respeito à diversidade."